Graduado em Medicina (1972) pela Escola Paulista de Medicina EPM/UNIFESP – instituição federal, onde fez residência em C...
iNos últimos meses a notícia de uma superbactéria, a KPC, deixou várias pessoas assustadas e algumas até em estado de pânico. Em primeiro lugar, vamos falar da KPC. Esta sigla significa Klebisiella Pneumoniae Carbapenemase, uma bactéria que provoca vários tipos de infecção como pneumonias, infecções do trato urinário, e no aparelho digestivo, podendo até mesmo causar infecção generalizada.
Outras bactérias também podem provocar esses quadros, incluindo aquelas que também são sensíveis a antibióticos. Carbapenêmicos são um grupo de antibióticos que costumam ser eficientes contra a KP, assim como outras. Carbapenemase é uma enzima que algumas KP produzem para inativá-los. O fato de produzir essa enzima inativadora fez com que criassem esse nome de superbactéria.
Desde que se inventaram os antibióticos- o primeiro foi a penicilina- na década de 30, as bactérias "inventaram" a resistência. Por exemplo, uma bactéria chamada de estafilococos, sensível a penicilina, passou a produzir uma enzima, a penicilinase, que inutilizava o antibiótico. Nesses anos todos até hoje, vários novos antibióticos foram criados e novas enzimas inativadores foram criadas pelas bactérias.
Dessa forma temos atualmente bactérias que são resistentes a muitos antibióticos, e por esse motivo devemos chamá-las de multirresistentes e não de superbactérias. Citamos outras: o enterococo, a pseudomonas e o estafilococo.
No ambiente hospitalar, principalmente terapias intensivas, onde se usam antibióticos de últimas gerações, é que surgem essas bactérias, pois convivem com uma grande variedade de antibióticos e com isso aquelas que sobrevivem passam para seus descendentes essa resistência. Os antibióticos utilizados nesses locais acabam por provocar a eliminação de outras bactérias, inimigas naturais da multirresistente, abrindo assim caminho para que cresça a vontade.
Em hospitais, nas terapias intensivas, principalmente, há pacientes com a saúde bastante debilitada, como idosos, indivíduos com câncer, os que foram submetidos a grandes cirurgias, os politraumatizados, enfim, aqueles que têm resistência baixa que facilita a infecção provocada por essas bactérias de difícil tratamento.
Outros fatores são facilitadores da penetração da infecção, como cânulas para respirar, sondas urinárias e digestivas, além de cateteres colocados em veias.
Dentro do hospital, a transmissão de um paciente para outro deve ser evitada lavando as mãos antes e depois de manipular um paciente, uso de luvas, máscaras, podem ajudar. As comissões de infecção hospitalar são os controladores desses processos de identificação e controle das infeções multirresistentes.
Várias pessoas, tantos profissionais da saúde, de limpeza dos hospitais, visitas, são transportadores dessas multirresistentes para o meio externo. Fora essas bactérias não costumam provocar doenças, por ter que competir por espaço, com outras, além de encontrar pessoas saudáveis e com resistência. Normalmente são conduzidas no muco nasal, na garganta, mãos e pele. Portanto não há motivo para pânico. Não há superbactérias!
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