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Todo pai deveria saber que os brinquedos não foram feitos só para entreter, principalmente nas primeiras fases da infância. Quando a criança brinca, ela estabelece uma série de construções mentais e aprende muito.
Por isso é importante saber escolher os brinquedos adequados para cada idade, pois só assim a criança terá os estímulos e aprendizados adequados a sua faixa etária.
Conversamos com a pedagoga da Rede Pitágoras Renata Gazzinelli, que separou a infância em três ciclos entre 0 e 6 anos. "A partir dessa idade a criança já elaborou mentalmente uma série de construções e os estímulos específicos não são mais tão necessários", explica a especialista.
No primeiro ciclo (0 a 2 anos), a criança prioriza o instinto. No segundo (2 a 4 anos), ela começa a unir esse impulso com pensamentos lógicos. No último ciclo (4 a 6 anos) a criança começa a desenvolver o senso de estratégia, agindo com base na razão. E os brinquedos devem acompanhar essa lógica.
Renata também alerta para a qualidade dos brinquedos: "É preferível ter poucos brinquedos de ótima qualidade do que muitos, mas ruins", diz. O ideal é dar preferência a brinquedos que não corram o risco de soltar tinta ou quebrar com facilidade - afinal, se quebrarem em pedaços pequenos, o risco de acidentes é grande.
Vejamos agora quais os brinquedos mais recomendados para cada um dos ciclos e por que investir neles:
De 0 a 2 anos
Nesse período da infância, a criança está passando por sua fase de expressão oral, ou seja, de interação com o mundo. A pedagoga afirma que nesse período a criança deve ganhar brinquedos que agucem essa interação social.
Os brinquedos devem proporcionar associações, processo chamado de conflitos cognitivos, que nada mais são do que o reconhecimento de uma ação. É simples. Por exemplo, a criança começa a jogar uma bola no chão e percebe que a bola volta para ela.
Dessa forma, a criança reconhece que toda vez que jogar a bola no chão, ela volta. A partir desse conflito cognitivo acontece a intencionalidade, ou seja, a criança cria a intenção de praticar o ato. No caso da bola, ela começará a jogar a bola no chão com a intenção que a bola volte para ela.
Esse processo é importante para o desenvolvimento da criança, que passa a reconhecer que foi responsável por determinado resultado."É por isso que a maioria das crianças nessa faixa etária joga as coisas no chão ou na parede", afirma Renata. "Elas se sentem bem interferindo, se sentindo responsáveis por tal acontecimento", completa.
O que é importante priorizar na escolha do brinquedo: objetos grandes, leves, arredondados, que despertem a atenção de alguma forma (fazendo barulho, com cores diversas, que tenham um formato diferente).
"Os brinquedos devem ser grandes para o bebê não colocá-los na boca e correr o risco de sufocar", aponta Renata. O ideal é que os brinquedos sejam apenas de plástico e não tenham mais que quatro ou cinco cores, pois a criança ainda não está acostumada com "excesso de informação".
De 2 a 4 anos
Ainda de acordo com Renata Gazzinelli, nessa fase a criança já consegue se separar do adulto e perceber que é um ser único. Portanto, seu repertório cognitivo é ampliado.
E os pais devem acompanhar esse desenvolvimento, oferecendo ao filho um repertório igualmente variado. "Os pais já podem oferecer brinquedos que explorem o intelectual da criança, como quebra-cabeças ou brinquedos de encaixar", diz a pedagoga.
O ideal é que os novos brinquedos sejam uma extensão dos velhos, só que com novos desafios, conta Renata. Se a criança tinha um brinquedo de encaixar com três peças, agora ela pode brincar com um que tenha sete peças em formatos e cores diferentes.
É importante também inserir nas brincadeiras da criança o mundo ao qual ela está acostumada. Um bom exemplo são brinquedos com figuras ou uma temática que ela conheça. Dessa forma, você atribui um contexto ao brinquedo para que a criança possa fazer associações.
Os pais podem, por exemplo, levar a criança ao zoológico e depois comprar um pequeno jogo da memória com alguns dos animais que ela viu lá.
"A partir dos três anos já é possível inserir o universo letrado nas brincadeiras, como jogos de completar palavras e juntar letras", afirma Renata. "Nesse caso também é importante relacionar as palavras a coisas do cotidiano", completa. Os pais podem apresentar a figura de um bicho e relacionar a primeira letra com o nome da criança, como "Girafa" e "Gisele".
O que é importante priorizar na escolha do brinquedo: jogos de montar e encaixar, jogos bem simples de memória, com elementos comuns como frutas, animais e brinquedos. As figuras devem fazer sentido para a criança. Brinquedos com uma grande variedade de sons.
Os materiais devem variar: se antes só era recomendado o plástico, agora é possível acrescentar peças de madeira ou poliuretano. As texturas também devem ser diversas, para que a criança reconheça a diferença entre macio, áspero e mole, por exemplo. "O tamanho das peças já pode ser um pouco menor, porém nada que ela ainda possa levar a boca e sufocar", alerta a pedagoga.
De 4 a 6 anos
"Aos quatro anos é como se o mundo da criança se descortinasse pra vida. Ela começa a ter autonomia para tomar decisões e fazer escolhas", afirma Renata.
Diferente da oralidade inicial, onde a criança parecia colocar tudo "para dentro", nessa fase ela expõe tudo o que pensa. Os brinquedos dessa fase da infância devem explorar isso. Nada pode ser óbvio para a criança, que deve encarar grandes desafios.
Os brinquedos de montar, por exemplo, já podem ter peças menores e em maior quantidade, entre 50 e 100. E os jogos de memória podem ser mais complexos.
Os jogos devem despertar a mente da criança, que terá de pensar para interagir com a brincadeira. Invista em jogos de tabuleiro, adivinhas, caça ao tesouro e tudo o que explore a criatividade e o intelectual da criança, que a faça pensar.
Nessa fase você pode propor à criança que ela crie seus próprios jogos, como um quebra-cabeça, um jogo da memória ou montar uma história.
O que é importante priorizar na escolha do brinquedo: a fantasia. "Quando a criança representa um papel, ela constrói a identidade dela como pessoa", diz Renata.
Nessa fase, bons brinquedos são objetos da casa em geral, como calculadoras, óculos, bolsas, embalagens de alimentos, entre outros. Tudo o que possibilite a criança brincar de "gente grande".