Especialista em Odontopediatria pelo Faculdade de Odontologia da USP;Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial pela...
iNa odontologia aprendemos um protocolo de atendimento e o seguimos instintivamente sem muito pensar. Recebemos o paciente, preenchemos uma série de perguntas com dados pessoais, história médica e odontológica, procedemos ao exame clínico, anotando a condição bucal que encontramos, quando necessário lançamos mão de exames complementares e fechamos um diagnóstico. A seguir elaboramos um plano de tratamento com técnicas avançadas e resolvemos o problema.
Não nos perguntamos se era aquilo que o paciente queria, pois fomos nós que estudamos odontologia e que proporcionamos a ele o que há de melhor na área. Me lembro muito bem quando o João apareceu na triagem da emergência da faculdade alegando "Estou com dor, preciso passar no dentista". Quando finalmente a súplica foi atendida, notamos que na verdade não tinha dor nenhuma na história. O que o João queria era simplesmente restaurar o dente da frente porque achava que assim teria mais chances com Aline, segundo ele, a mulher mais bonita que ele já virá.
No consultório, me deparo com cenas cotidianas que ligam a boca à autoestima. Trata-se da menina que quer trocar os elásticos coloridos do aparelho fixo, antes de uma festa para combiná-los com o seu novo vestido, ou uma moça que conhece o seu príncipe bem no meio do tratamento ortodôntico e decide tirar o aparelho, casar e depois voltar a colocá-lo. O que será que une estas três histórias tão diferentes? Resposta: A vontade de se sentir bem, de se sentir bonito. Um desejo inerente a qualquer ser humano.
Confesso que quando vi pela primeira vez o João, eu fiquei aborrecida e me senti enganada. A triagem era para atender casos de urgência, de dor, não para resolver problemas estéticos. Com a experiência revi os meus conceitos. Era caso de urgência sim. O João precisava se sentir bonito, autoconfiante para conquistar a Aline. Por isso, em uma escala de escolha, principalmente em um país menos favorecido como o nosso, o João tinha razão, os dentes da frente são o cartão de visita, e devem estar sempre em ordem.
O paciente sabe o que quer quando procura o dentista e nós como profissionais devemos perguntar na primeira consulta e colocar em lugar de destaque em sua ficha o que motivou a sua ida ao profissional, ou seja, a sua queixa principal. É esta queixa que direciona todo o tratamento.
O foco nunca pode estar só na boca, mas no bem estar do indivíduo como um todo. Este novo conceito abrange todas as áreas da saúde, incluindo a odontologia. E hoje é uma tendência.
As expectativas dos pacientes frente a tratamentos odontológicos são principalmente relacionadas à melhora da aparência. Tais fatos baseiam-se em pesquisas sobre imagem corporal as quais indicam que indivíduos satisfeitos com suas aparências físicas tendem a ser mais extrovertidos e ter mais sucesso em relacionamentos sociais.
Em algumas situações, a presença de dentes alinhados exerce forte influência sobre a percepção de beleza, a identificação com o sucesso profissional, inteligência e associação com indivíduos mais favorecidos socialmente
A Organização Mundial de Saúde já leva em consideração índices de autoestima e qualidade de vida e procura medir o impacto que a estética e a saúde bucal exercem na vida do individuo. A abordagem com isso muda completamente. O que importa para o dentista é a queixa principal do paciente, precisa se analisar o paciente em seu momento especifico e avaliar o sucesso do tratamento de acordo com o impacto que este proporcionará na sua autoestima, na sua qualidade de vida e por que não na sua felicidade.
Saiba mais: Periodontite e obesidade