Ana Paula de Araujo foi redatora do site Minha Vida no período de abril de 2011 até fevereiro de 2012. Jornalista formada pela Pontifícia Universidade
iO Sistema Único de Saúde (SUS) vai começar a oferecer a vacina contra o papiloma vírus humano (HPV) a partir de 10 de março para meninas de nove a 13 anos, em postos de saúde e em escolas públicas e privadas de todo o país. A dose, que ajuda a proteger contra o câncer de colo do útero, estará disponível nos 36 mil postos de saúde da rede pública durante todo o ano, de acordo com o ministério.
Até 2016, o objetivo do ministério é imunizar 80% do total de 5,2 milhões de meninas de nove a 13 anos no país. Embora seja oferecida no SUS para uma faixa etária restrita, a vacina é recomendada para o público dos nove aos 45 anos. As faixas etárias que estão fora da campanha do SUS precisam recorrer à rede particular para tomar a vacina. A vacina é mais uma arma contra a doença, já que se trata de um vírus altamente contagioso.
Segundo o infectologista e pesquisador da Fundação OswaldoCruz (Fiocruz), Edson Moreira, a camisinha tem um papelrelevante na contenção de DSTs, mas não evita totalmente o contágio pelo HPV, que pode ocorrer mesmo sem penetração,porque o vírus também está na pele da região genital. Calcula-se que o uso da camisinha consiga barrar apenas entre 70% e80% das transmissões do HPV. "Dessa forma, é muito importante que as pessoas tenham acesso a informações sobre o vírus,fatores de risco e formas de prevenção, tais como a realizaçãodos exames periódicos de Papanicolaou e vacinas", explica.
O HPV - vírus do papiloma humano, do inglês -, traz dados alarmantes: segundo o Ministério da Saúde, 137 mil novos casos são registrados por ano no Brasil. Esse vírus é tido como o responsável por 90% dos casos de câncer de colo do útero, além de atuar como protagonista em casos de câncer de pênis. Ele é o principal responsável por inúmeras doenças da região genital - que compreende colo, vagina, vulva e anus nas mulheres e, nos homens, pênis e anus. Assim como as verrugas na região genital e da boca, os cânceres causados pelo vírus do papiloma humano são recorrentes: no colo do útero, vulva, pênis e pele. Segundo o ginecologista Claudio Emilio Bonduki, da Unifesp, o HPV ainda pode levar ao câncer de vulva e de pele e provocar lesões na região oral, língua, faringe e anus, devido ao contato em sexo oral ou anal.
A vacina contra HPV já existia para o público feminino. No entanto, os homens também sofrem doenças causadas pelo HPV, como câncer anal, verrugas genitais e até doenças de cabeça e pescoço, garganta e orofaringe. "O risco de contaminação é idêntico entre os sexos, mas nos homens as verrugas genitais são mais evidentes, principalmente nos casos em que a pele está acometida pelo vírus, o que facilita a detecção", conta o Urologista e Especialista do Minha Vida Francisco Paulo da Fonseca.
Tipos de Vacina
Há dois tipos de vacina contra HPV no Brasil: a bivalente e a quadrivalente. Ambas protegem contra, no máximo, quatro tipos do vírus, entre os mais de 100 existentes. Isso significa que, mesmo com a aplicação da vacina, a proteção não é 100% garantida.
A bivalente protege apenas contra os tipos 16 e 18 e deve ser tomada em três doses. É aprovada no Brasil apenas para mulheres a partir de 10 anos e oferece cobertura preventiva contra 70% dos tipos de cânceres de colo de útero. Já a quadrivalente protege contra os HPVs 6, 11, 16 e 18, evitando os cânceres de colo do útero, vagina, vulva e ânus, além das verrugas genitais.
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Em 2014 a quadrivalente foi aprovada também para o público masculino com idade entre nove e 26 anos. Mas foco principal da vacinação contra o HPV é, sem dúvida, em meninas e meninos de nove a 14 anos. Isso porque a criação de anticorpos é cerca de 2 a 3 vezes maior nesta idade, possibilitando, inclusive, fazer apenas duas doses (hoje e daqui a 6 meses) nesta faixa etária, ao invés de 3 doses. Além disso, tomar a vacina nesta idade garante que a criança criará anticorpos agora para já estar protegida quando iniciar a vida sexual no futuro.
As vacinas contra o HPV são aprovadas em mais de 130 países e fazem parte de mais 60 programas nacionais de imunizações. Desde 2006, mais de 190 milhões de doses foram distribuídas em todo mundo.
Contraindicações e efeitos colaterais
Fora a restrição de idade - que acontece porque a Anvisa permite apenas a aplicação da vacina em públicos onde estudos clínicos comprovaram sua eficácia - e as pessoas que são alérgicas a algum componente da medicação, ainda não há outras contraindicações.
Até mesmo portadores do vírus HIV ou pessoas que já tiveram ou têm HPV e outras DSTs, lembra Bonduki, podem tirar proveito da imunização, já que existem vários tipos de vírus HPV, não apenas aquele que afetou o portador. Existem, ainda, os casos chamados "off label": pessoas fora dos grupos especificados pela Anvisa, mas que podem tomar a vacina por solicitação médica.
Mulheres vivendo com HIV foram incluídas na vacinação pública contra HPV, na faixa etária de 9 a 26 anos:
;Verrugas genitais são extensas, com várias recaídas e de difícil controle
Camisinha
Além disso, não há evidências de efeitos colaterais, apenas possíveis desconfortos locais, como edemas e dor onde a injeção foi aplicada. Estudos também indicam não haver risco na aplicação dessa vacina em conjunto com a da Hepatite B.
A aplicação é feita em três etapas. Com a bivalente, a segunda dose é aplicada depois de um mês da primeira e, a terceira, após cinco meses da segunda. Já na quadrivalente, a segunda fase acontece apenas dois meses após a primeira e, a terceira, também seis meses depois da inicial.
A vacina apresenta substâncias obtidas do vírus do HPV, modificado em laboratório. Ao serem aplicadas no nosso organismo, essas substâncias estimulam o sistema imunológico a combatê-las, o que desencadeia a produção de anticorpos neutralizantes. Até agora, os cientistas conseguiram confirmar que esses anticorpos duram dez anos.
Para aqueles que não se incluem no grupo de risco a ser vacinado pelo SUS, mas está interessado em tomar a vacina, é necessário procurar um ginecologista ou um urologista, que fará a recomendação da vacina. O clínico geral também pode ser procurado e, para as crianças, o ideal é consultar um pediatra
Entenda os riscos do HPV
O vírus HPV é um grande vilão da saúde, em especial feminina. Além de câncer e doenças na região genital das mulheres e no pênis e ânus dos homens, o vírus HPV é relacionado a lesões e neoplasias na região da orofaringe - que compreende a cavidade bucal, da raiz da língua até a epiglote, uma espécie de lâmina que fecha a ligação da faringe com a glote -, como carcinomas (tumores malignos) e uma doença chamada papilomatose laríngea recorrente, que leva a lesões na laringe e que, segundo Maricy, tem difícil tratamento e pode levar a danos importantes nos órgãos dessa área do corpo.
Por ser uma DST - doença sexualmente transmissível - , a principal via de proteção é a camisinha. Entretanto, nem o seu uso livra da contaminação. O ginecologista Bonduki lembra que o contato da região de vulva, onde a camisinha não protege, pode permitir a transmissão.