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De acordo com dados do IBGE, são diagnosticados cerca de 10 mil casos de câncer de laringe no Brasil por ano. "A laringe é o órgão responsável pela nossa respiração e fala, além de impedir que os alimentos entrem nas vias respiratórias", explica Anderson Silvestrini, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
Também conhecido como câncer de cabeça-pescoço, a doença que acometeu o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva tem como sintomas a rouquidão e uma pequena dor na garganta, que pode chegar ao ouvido. O vice-presidente da Sociedade Franco-Brasileira de Oncologia, Christian Domange, afirma que a dor é parecida com a sensação de comer peixe e ficar com um espinho atrapalhando a garganta. "Se a dor persistir, deve ser procurado auxílio médico adequado", diz.
Depois de identificado, o câncer pode ser tratado de diversas formas, de acordo com a gravidade do tumor. Entenda mais sobre a doença e o que os especialistas dizem sobre ela:
1) Como se confirma o diagnóstico?
Após a manifestação dos sintomas, o ideal é visitar um otorrinolaringologista, que fará uma laringoscopia - exame de rotina para doenças de laringe ou faringe.
"Na maioria dos casos, o especialista identificará apenas uma inflamação, mas pode encontrar também um câncer", conta o oncologista Christian. Uma vez detectado o tumor, o otorrino fará uma biópsia - procedimento cirúrgico no qual se colhe uma amostra de tecidos para que o médico possa determinar o estágio de evolução da doença.
2) Como é feito o tratamento?
"Os tratamentos para câncer de laringe sempre visam preservar o órgão da melhor maneira possível e dependem do grau de evolução da doença", diz Anderson Silvestrini. Podemos separar o câncer em três estágios distintos e seus diferentes tratamentos:
Estágio inicial: quando o tumor é dito "confinado" - concentra-se em regiões menores da laringe - ainda é possível retirá-lo fazendo a ressecção da lesão, que consiste em uma endoscopia com laser. Segundo o oncologista Anderson, esse procedimento é para tumores em estágios extremamente iniciais.
Caso a ressecção não seja mais possível, é feito um tratamento com radioterapia exclusiva. De acordo com a especialista em câncer de cabeça-pescoço Aline Lauda, presidente da Sociedade de Oncologia de MG, a radioterapia é um tratamento local, no qual o paciente é submetido a ondas de radiação ionizante apenas na área a ser curada, e essas ondas destroem as células tumorais.
Estágio Intermediário: para câncer de laringe em estado intermediário, o tratamento pode ser feito com radioterapia associada à quimioterapia - nesse caso, o paciente recebe três doses de cisplatina (medicamento injetado para a quimioterapia) em intervalos de vinte dias. Durante esse intervalo, o indivíduo é submetido a sessões diárias de radioterapia, de segunda à sexta-feira. "Essa é a dose padrão do tratamento, que dura de sete a oito semanas", explica o presidente da SBOC Anderson Silvestrini.
Para um estágio ainda intermediário, mas um pouco mais avançado da doença, é necessário fazer a quimioterapia exclusiva seguida de radioterapia associada à quimioterapia. "Essa quimioterapia inicial dura cerca de três meses, sendo cinco dias seguidos de tratamento quimioterápico a cada 21 dias de descanso", diz o oncologista Christian Domange.
Estágio avançado: nos casos graves de câncer de laringe, o mais indicado é a cirurgia de laringectomia total, que consiste na retirada da laringe, deixando o que os especialistas chamam de traqueostomia, que é um pequeno buraco em baixo da garganta. "O inconveniente dessa cirurgia é que o paciente perde a capacidade de fala da forma natural, tendo que reaprender a falar usando o ar do estômago", explica o oncologista Christian. Outras complicações decorrentes da laringectomia incluem dificuldade de deglutição e respiração.
3) Existem cuidados que devem ser tomados durante o tratamento?
A quimioterapia e a radioterapia podem gerar mucosite - lesão das células da mucosa na garganta, causando dor para engolir, pequenas feridas e aftas na boca - náuseas, vômitos, queda da imunidade e perda de peso.
Por conta desses problemas, a especialista Aline Lauda conta que é importante tomar cuidado com a ingestão de alimentos muito ácidos - para não piorar o quadro de aftas -, tomar medicamentos contra enjoos e vômitos, ingerir suplementos alimentares para tratar a perda de peso e tomar um cuidado especial com a alimentação fora de casa, a higiene dos alimentos ingeridos e a permanência em lugares muito cheios - para diminuir o risco de contaminações por vírus e bactérias. "É importante também manter a alimentação o mais nutritiva possível e cuidar de outros fatores, como o sono adequado, para não causar mais quedas na imunidade", alerta Aline.
4) Quais são as chances de cura?
De acordo com os especialistas, o câncer de laringe responde muito bem ao tratamento, sendo grandes as chances de cura total. A taxa de cura nos casos de radioterapia e quimioterapia associadas ou radioterapia exclusiva são de 80%, sendo que, em 70% dos casos, a laringe é inteiramente preservada.
Nos casos de laringectomia total, as chances de cura total do câncer caem para 40% a 50% dos casos. Já em estágios iniciais, nos quais é necessária apenas a cirurgia local, as chances de cura são de 90%.
5) Existem fatores de risco? Quais?
"Fumar é a principal causa do câncer de laringe e as chances de incidência aumentam em 40 vezes quando o fumo é associado à bebida alcoólica", conta o oncologista Anderson Silvestrini. "Uma pequena concentração desse tipo de câncer pode estar relacionada ao HPV, mas o fumo e o álcool são de longe as principais causas", completa.
As chances aumentam para pessoas que fumam e ingerem álcool porque esses hábitos reduzem a proteção natural da mucosa e causam uma multiplicação celular desordenada.
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