Natural do Rio de Janeiro, graduou-se em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1999, concluindo...
iNas últimas duas semanas tenho observado um fenômeno extremamente curioso, que apelidei de "efeito Lula". Não, não se trata de mais uma manobra política de nosso ex-presidente, que muitos acreditam ainda influenciar enormemente os rumos do poder em Brasília. É, na verdade, uma consequência inesperada da enorme popularidade de Lula, e da identificação que o povo brasileiro tem com esse retirante nordestino que venceu na vida - mas que guarda hábitos não tão saudáveis, como a queda pela bebida e o cigarro.
Desde o anúncio do câncer de laringe de Lula, esta doença ganhou espaço sob os holofotes. As informações sobre esse tipo de tumor se proliferaram nas mais diversas mídias e, por conseguinte, um número enorme de pessoas identificou em si algum sintoma que julgou sugestivo da doença. Aí vem o efeito Lula, um aumento em quase 100% na minha prática diária de pessoas que buscam uma laringoscopia, exame que pode diagnosticar o câncer de laringe.
Lógico que não se trata de um efeito novo. Toda vez que uma celebridade adoece, aumenta a consciência popular a respeito daquela doença e, com isso, a procura por assistência médica, assim como cresce o número de diagnósticos. Isso é algo muito positivo. Nos Estados Unidos, houve um caso notório de uma apresentadora de um programa matinal de grande audiência, Katie Couric, que perdeu o marido com câncer de cólon e decidiu então televisionar o preparo e a realização de sua própria colonoscopia, com o intuito de mostrar aos seus telespectadores que o exame não era doloroso e podia salvar vidas. A sociedade americana de oncologia publicou posteriormente um estudo que atribuía um aumento de 20% nos exames de colonoscopia nos 12 meses seguintes à exibição da matéria, o que ficou conhecido no meio médico como "efeito Couric".
Assim como o efeito Couric, o efeito Lula é visível. É claro que 80% ou mais dos pacientes que nos procuram temendo estarem com câncer (muitos deles citando o caso do ex-presidente) não tem a doença. Felizmente. Mas basta um diagnóstico a mais para essa "campanha" indireta ter valido a pena.
Saiba mais sobre o câncer de laringe
Aproveitando a ocasião, vamos falar um pouco sobre o câncer de laringe. Trata-se de um tipo de câncer muito mais comum em quem fuma, com a bebida alcoólica também contribuindo para seu surgimento. Vale a pena ressaltar esse dado: é realmente muito difícil uma pessoa que nunca fumou ter câncer de laringe.
Quando diagnosticado precocemente, o câncer de laringe tem uma chance de cura acima de 90%. O principal sintoma do câncer de laringe é a rouquidão persistente, sendo mais sugestiva a rouquidão contínua e lentamente progressiva do que aquela que vai e volta. Toda rouquidão que persistir por mais de 30 dias deve ser investigada. Outros sintomas são a dificuldade para engolir, em especial alimentos sólidos, e a falta de ar (esta última raramente isolada ou como sintoma principal). Podem surgir também caroços no pescoço, que já indicam comprometimento de linfonodos.
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O exame mais importante para o diagnóstico do câncer de laringe é a laringoscopia, que não exige nenhum preparo (embora um jejum de poucas horas seja recomendável) e dura menos de 15 minutos. Neste exame, o paciente senta-se na cadeira e abre a boca com a língua para fora. O médico então observa a laringe por meio de uma ótica que permite olhar para baixo, na direção da laringe. Algumas pessoas precisam fazer um anestésico em spray na boca para facilitar o exame. Outras nem isso. A visão direta da laringe permite identificar lesões suspeitas de câncer. A biópsia, quando necessária, confirma o diagnóstico.