Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
Na infância, ter horários regulares para banho, refeições e sono é uma prática saudável para o desenvolvimento comportamental. Mas, se combinado com sensibilidades exageradas, como irritação quando veste uma roupa de um tecido diferente ou ao ser tocado por pessoas fora do seu convívio habitual, por exemplo, esses rituais podem ser um sinal de alerta precoce de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
O estudo, realisado pela Universidade de Tel Aviv (Israel), sugere que, quando as crianças apresentam altos níveis de sensibilidade, elas desenvolvem comportamentos ritualísticos para lidar melhor com seu ambiente. Em longo prazo, esse é um caminho potencial para o TOC.
Os pesquisadores desconfiaram da ligação ao trabalhar com pacientes com TOC que relataram sensibilidade ao toque e sabor, como crianças. No primeiro estudo detalhado sobre o assunto, foi estabelecida uma correlação direta entre o processamento sensorial - a forma como o sistema nervoso controla a informação sensorial recebida -, os comportamentos ritualísticos e o transtorno obsessivo-compulsivo.
Saiba mais: Apego aos filhos e a síndrome do ninho vazio
Dois estudos foram desenvolvidos para mapear a conexão entre o processamento sensorial, os rituais e o TOC. No primeiro, os pais de crianças em idade pré-escolar completaram três questionários sobre o comportamento de seu filho. Foram avaliados: o nível de ritualismo - tais como a necessidade de repetir determinados atos -, o nível de ansiedade - com as questões relativas à reação a estranhos e apego aos membros da família - e as suas reações frente aos eventos sensoriais - tais como ser tocado ou exposto a sabores e odores.
No segundo estudo, os pesquisadores pediram a 314 adultos que respondessem pesquisas on-line sobre as suas tendências ao TOC, os seus níveis de ansiedade, e a sua sensibilidade oral e tátil. Os resultados de ambos os estudos indicaram uma forte ligação entre as tendências compulsivas e a hipersensibilidade. Em crianças, a hipersensibilidade foi um indicador do ritualismo, enquanto em adultos, foi relacionada aos sintomas do TOC.
Conclusão dos pesquisadores
Esses resultados fornecem suporte para a ideia de que tais sensibilidades são um precursor para sintomas do TOC. Quando as crianças são extremamente sensíveis a certos tipos de toque ou cheiro, eles podem se sentir atacadas ou achar que o ambiente é ameaçador. O ritualismo pode caracterizar um mecanismo de defesa, que ajuda essas crianças a recuperar um sentimento de controle, assim como o TOC para os adultos.
Muitas crianças têm hábitos particulares e preferências, mas nem todas terão TOC. Os pais devem prestar atenção para as características de um comportamento normal e de um potencialmente patológico. "Se você vê que uma criança é muito rígida com os rituais, tornando-se ansiosa quando não consegue se envolver nesse comportamento, é mais alarmante", explicam os pesquisadores.
Além disso, a idade é um fator importante. Um hábito exibido até cinco ou seis anos de idade não é necessariamente um preditor de TOC. Mas, se o mesmo comportamento continua aos oito anos ou mais, é preciso atenção. Especialmente se acompanhada de ansiedade ou angústia.
Reconheça o transtorno obsessivo-compulsivo
Há cerca de quinze anos, o Transtorno Obsessivo Compulsivo era uma doença considerada rara, chegando a uma prevalência de 0,05%, durante a vida. Com o passar dos anos, inúmeros pesquisas e estudos epidemiológicos foram feitos sobre o TOC e hoje chegamos a uma prevalência de 0,6%, fazendo do TOC a quarta doença psiquiátrica mais comum, só perdendo para as fobias, dependência de drogas e depressão.
O TOC é considerado uma doença de grande importância para a saúde publica, seja pelos prejuízos sociais que acarreta, seja pelo sofrimento que causa aos pacientes e às suas famílias. Conheça algumas manifestações da doença.
Obsessões de contaminação: preocupação em não encostar as mãos e roupas em nada que possa sujá-los.
Escrúpulos: preocupação excessiva em nunca errar as contas para não prejudicar clientes, por exemplo, não reter nada que pertença a outro.
Dúvidas patológicas: ter de perguntar (à empregada, por exemplo) repetidas vezes se de fato realmente ela fez o que devia.
Compulsões de limpeza e lavagem: lavar as mãos inúmeras vezes, rituais para o ato de tomar banho, sacudir as roupas para tirar a sujeira ou lavá-las sempre que for vesti-las.
Rituais de verificação checar os móveis, cômodos, repetidamente, vendo inclusive se as frestas ou dobras não contêm sujeira ou poeira.
Compulsão de contar: contar em voz alta ou baixa o número de vezes que repete certos gestos até chegar ao número "suficiente" de vezes.
Compulsões de ordenação e simetria antes de escrever, por exemplo, sacode o papel, alinha canetas e lápis, ordena a escrivaninha.