Você só sai de casa com um guarda-chuva azul? Só assiste aos jogos do time do coração em casa? Só beija a bochecha da sua mãe no lado direito? Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) ou é mania? O transtorno é grave, mas virou dito popular para quando a pessoa faz algo sistematicamente, mas até que ponto a mania pode ficar séria?
"As manias são comportamentos repetitivos que são motivadas por superstição ou crenças. Todos nós podemos ter manias e isso não gera nenhum efeito em nossas vidas. É algo corriqueiro", explica o psiquiatra da Unesp Edson de Moraes Júnior. Para exemplificar, imagine uma pessoa que ao se levantar da cama, coloca primeiro o pé direito no chão. É algo que acaba virando hábito de tanto que ela faz e, depois de certo tempo, passa a ser automático, quase que involuntário.
O alerta
Com toda a complexidade da mente humana, para além da mania existe o SOC, sintomas obsessivos compulsivos. "Quase todo mundo tem SOC . É quando, por exemplo, a pessoa chega cinco vezes ao dia se a porta do carro está trancada ou se o gás do fogão está desligado. É obsessivo porque ela precisa cumprir esse ritual e compulsivo por causa do número de repetições". O psiquiatra diz que se o SOC não está interferindo muito na rotina da pessoa é perfeitamente normal.
Porém, se o SOC se tornar muito intenso e fizer com que a pessoa ocupe boa parte do seu tempo com isso, cuidado. Pode ser o TOC. "O TOC é caracterizado pela presença de obsessões ou compulsões recorrentes e tão severas para fazer com que o paciente passe a ocupar boa parte do tempo com elas, causando desconforto ou comprometimento", esclarece o psiquiatra.
Doença incapacitante
Até bem pouco tempo, o TOC era uma doença rara e pouco estudada. Só os casos mais graves eram reconhecidos. No entanto, hoje se sabe que existem vários níveis do transtorno. Até virou brincadeira em rodinhas de amigos diagnosticar aquele cara sistemático do grupo com TOC. No entanto, o psiquiatra explica que a prevalência desse transtorno na população é baixa: "Não chega a 2% na população brasileira, porém é uma doença incapacitante, pois a pessoa fica refém das suas próprias obsessões".
Os comportamentos obsessivos são causados por pensamentos, ideias, impulsos ou imagens que invadem a consciência contra a vontade de forma repetitiva e persistente. "A obsessão leva a rituais para neutralizar esse pensamento. Normalmente é acompanhada de ansiedade e desconforto", diz Edson Capone. A compulsão é realizada como forma a neutralizar ou reduzir os efeitos da obsessão. Os tipos mais comuns de compulsões envolvem a limpeza (das mãos ou da casa), verificação ou controle (fechaduras, gás, chuveiro), repetições (sair, entrar, contar números) e sequência (ordenar roupas por cor).
Segundo o psiquiatra, a doença não tem momento para aparecer. "Não se sabe ainda os motivos do desenvolvimento de TOC, mas sabe-se que ele pode aparecer por vários motivos, como um ataque de fúria, depois de um acidente grave, estresse, entre outros". No entanto, os tratamentos costumam ser eficientes no combate ao transtorno. Podem ser somente medicamentosos ou associados à terapia. "A psicoterapia cognitivo-comportamental, que foca nos sintomas, ou a psicodinâmica, que foca a análise psicológica, funcionam muito bem para tratar os pacientes que não conseguem se adaptar ao tratamento medicamentoso", explica o psiquiatra Edson Capone.
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SOC ou TOC?
A linha entre o SOC e o tipo leve de TOC é muito tênue, mas em geral a própria pessoa que está sofrendo com a doença sabe que tem algo de errado com ela. "Os pacientes de TOC são críticos do seu problema e consideram seu comportamento absurdo, mas elas não conseguem ter o controle, o que acaba potencializando o sofrimento." Porém, o psiquiatra diz que o TOC é ainda uma doença secreta, já que muitos pacientes sofrem calados por medo do diagnóstico.
Já os sintomas obsessivos são corriqueiros em nossas vidas. São pequenos rituais que não te tiram do eixo e que, se eventualmente você não puder fazê-los, não vão gerar nenhum tipo de sofrimento ou penitência. "Enquanto a pessoa com TOC pode gastar até 15 horas concluindo todos os seus rituais, o paciente com SOC não perde nem 10 minutos se tiver distraído com alguma outra coisa".
Se você imagina que tem TOC, o mais importante, segundo Edson Capone, é observar o comportamento e notar se você está gastando mais tempo do que deveria com os rituais, se eles estão causando algum tipo de sofrimento ou ansiedade e se está havendo muita interferência nas atividades do dia e nos relacionamentos sociais (afetivos, profissionais, ocupacionais ou financeiros).