Sou graduada pela FMUSP em psicologia , pós-graduada e especialista em psicodrama pela SOPS-PUC e especialista em Terap...
iO distúrbio narcísico de personalidade - mais conhecido como narcisismo - é um dos que mais aparecem nos consultórios psicológicos hoje em dia. Junto com ele os pacientes trazem consigo diversos tipos de transtornos afetivos, especialmente a ansiedade e a depressão.
O nome narcisismo é proveniente de uma lenda grega que conta a história de um homem chamado Narciso que, ao sentar-se à beira de um lago, se apaixona pela figura que vê refletida na água. Na verdade ele se apaixona por si mesmo e não consegue parar de se olhar até que desfalece e morre.
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As pessoas que apresentam esse distúrbio normalmente parecem ser pessoas bem sucedidas. Elas têm como valores principais o poder, a beleza e o sucesso, e trabalham em função disso. Afinal, a sensação de valor pessoal depende dessas coisas. Apegam-se a uma imagem exterior que construíram e que é a base da sua autoestima.
O narcisista passa a maior parte da vida em busca de aplausos e aprovação externa, já que ele mesmo não encontra isso na sua essência. Não tem motivos para se orgulhar e gostar de si. Sofre, porque dificilmente se sente satisfeito, e faz os outros sofrerem.
Na verdade, ele não aprendeu a enxergar que existe um "outro". Ele atropela aqueles que estão ao seu redor, não porque queira o seu mal, mas porque não consegue se colocar no seu lugar. Acaba sendo insensível aos sentimentos e necessidades dos outros.
Mas, como tudo isso começa?
Quem sofre desse mal não nasceu assim. Na verdade, as pessoas que têm esse distúrbio carregam na sua história pessoal a dor de não terem se sentido adequadamente amadas quando crianças e, à partir disso, desenvolvem uma frieza emocional nos relacionamentos interpessoais. Isso acontece como uma forma de se defender para nunca mais sentir a decepção que experimentaram quando crianças.
Penso que isso é muito comum nos dias atuais, em parte porque vivemos numa cultura onde os valores estão baseados no individualismo. Os alicerces estão no ter, no parecer e no competir, muito mais do que no ser, no construir junto, no colaborar, na amizade e no altruísmo.
Esse tipo de cultura incentiva a formação de seres humanos esvaziados de virtudes, mas repletos de aparatos exteriores. Infelizmente, é esse tipo de "amor" que as nossas crianças estão recebendo. Não é uma questão de desprezo ao que é material, externo, ao sucesso e à beleza. Mas sim uma tentativa de compreender a essência daquilo que traz saúde e satisfação ao psiquismo, de compreender porque as nossas crianças e adolescentes estão adoecendo cada vez mais cedo nas suas emoções, desenvolvendo distúrbios alimentares, depressões, síndrome de pânico, etc..
Para onde estamos caminhando?
Parece-me que para a construção de pessoas que possuem um grande vazio na alma, não de coisas, mas de amor, de presença e de contato humano. Infelizmente, se continuarmos nesse caminho como sociedade, estaremos produzindo pessoas individualistas, que cada vez mais se auto engrandecem e se fecham em busca da satisfação dos próprios desejos e prazeres, e pouco conseguem olhar para o lado e perceber que a felicidade está muito além de si.
Onde estão os nossos valores? O que realmente é importante na vida?
Algumas pessoas precisam passar por grandes perdas, ou mesmo chegar perto do próprio fim, para descobrirem que são apenas seres humanos, que precisam dos outros, que não se bastam sozinhas com as suas coisas e conquistas. Mas que a grande alegria da vida e o grande segredo da saúde emocional estão na convivência, no se sentir igual, no estar junto, no dar a mão, em "ser" nem melhor e nem pior do que ninguém, apenas igual.
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Quem dera que pudéssemos ensinar isso aos nossos jovens! Quem sabe assim teríamos pessoas mais felizes e menos doentes ao nosso redor!