Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) com residência em Ginecologia e Obstetrícia pelo H...
iEstima-se que duas em cada 100 gestações são ectópicas. Esse problema ocorre quando o embrião se desenvolve fora da parte interna do útero. Ele pode se alojar nos ovários, no colo do útero e até no peritônio (camada que reveste os órgãos intra-abdominais), mas a maioria dos casos ocorre nas tubas uterinas.
Essa mudança ocorre logo no momento da fecundação. O óvulo é fecundado pelo espematozoide dentro da tuba, próximo ao ovário. Ao ser transportado para dentro do útero, o embrião pode enfrentar dificuldades no caminho, implantando-se e se desenvolvendo em alguma região da tuba. Esses impasses do trajeto do embrião geralmente são infecções por bactérias, como Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis, que danificam a estrutura interna das tubas.
Tire as principais dúvidas sobre esse problema:
É possível prevenir?
Não. Entretanto, podemos reduzir os fatores de risco. Além disso, quanto mais cedo for feito o diagnóstico e o tratamento adequado, menores serão as chances de complicações, que podem ser graves.
Quais são os fatores de risco?
Os principais são infecções pélvicas bacterianas, mulheres que já fizeram cirurgia nas tubas e gravidez ectópica prévia. Uma mulher que já teve a doença tem um risco dez vezes maior de ter novamente. Mas também há outros fatores, como tabagismo (que dificulta o transporte do embrião pela tuba), idade avançada da mulher, infertilidade, múltiplos parceiros sexuais (maior chance de ter doenças sexualmente transmissíveis) e mulheres que já fizeram cirurgia abdominal.
O que a grávida sente quando há esse problema?
Dor no abdome e sangramento genital, que pode ser confundido com a própria menstruação. Muitas vezes, a mulher não sabe que está grávida e acredita que naquele mês a cólica menstrual foi mais forte. Náuseas e vômitos também podem aparecer. Casos mais graves podem levar até a desmaios.
Como é feito o diagnóstico?
O médico do pronto-socorro é quem geralmente faz o diagnóstico, pois as mulheres acabam procurando ajuda rápida devido à dor e ao sangramento. Serão solicitados exames como a ultrassonografia transvaginal, o teste de gravidez e outros exames de sangue. O ultrassom mostra se há ausência de gravidez dentro do útero e presença de embrião ou imagem semelhante na tuba. O nível de beta-HCG no sangue também é importante para firmar o diagnóstico.
A gestante corre algum risco?
Sim, o maior risco é de rompimento da tuba e sangramento abdominal, provocando grande perda de sangue e até morte. Antes do século XX, a maioria das mulheres com gravidez ectópica morria por este motivo. Isso mudou radicalmente nos dias de hoje, com o diagnóstico rápido e preciso e tratamentos cada vez mais seguros.
É possível continuar a gravidez nesses casos?
Não. A gravidez ectópica sempre deve ser interrompida, já que pode levar a sérias complicações para a gestante.
A mulher que já teve gravidez ectópica pode engravidar e ter filhos normalmente?
Certamente, apesar de o risco de uma nova gravidez ectópica ser maior nesse caso. As mulheres que passaram por uma cirurgia para gravidez ectópica costumam conseguir engravidar novamente dentro de 12 a 18 meses após a operação. Quando o casal não tem sucesso após um ano de tentativas, vale a pena procurar avaliação especializada.
Saiba mais: Riscos da gravidez tardia
É verdade que uso de DIU aumenta os riscos?
Não, essa questão deve ser interpretada com cuidado. O uso de dispositivo intrauterino (DIU) reduz as taxas de gravidez como um todo, devido aos mecanismos contraceptivos locais. Desse modo, as chances de gravidez tópica e ectópica são muito menores do que as das mulheres sem métodos anticoncepcionais. No entanto, quando uma mulher engravida usando o DIU, os riscos de gravidez ectópica são maiores (até 50%) do que aquelas que não usam DIU (cerca de 2%).