Como reconhecer se uma criança com mais de 10 anos sem diagnóstico médico até hoje tem autismo? Respostas dos nossos especialistas

primeiramente, é importante a procura por profissionais para que seja feito o diagnóstico preciso de um Transtorno do Espectro Autista (DSM-V). Este transtorno é bastante amplo, englobando uma série de características que variam de indivíduo para indivíduo, o que torna um diagnóstico cuidadoso. Porém, certas características chamam maior atenção, nos fazendo buscar por psicólogos, fonoaudiólogos, médicos, dentre outros profissionais.
Os manuais de classificação utilizados pelos profissionais de saúde apresentam características como dificuldades na comunicação, seja ela verbal, envolvendo dificuldades em se expressar verbalmente, como também não-verbal, tendo dificuldade de utilizar gestos e expressões faciais que auxiliam na compreensão daquilo que falamos.
A interação social como, por exemplo, retribuir afetos, rir socialmente (como nas ocasiões em que retribuímos um sorriso a uma pessoa, mesmo que desconhecida, só porque sorriu para nós) e/ou dificuldades em conversar normalmente com as pessoas, seja para começar uma conversa ou até mesmo para dar continuidade a ela, também podem estar presentes em uma criança autista. Por exemplo, crianças com desenvolvimento típico costumam "jogar conversa fora", falando espontaneamente sobre as coisas que mais gostam de fazer, seu cotidiano, dentre outros assuntos. Para um autista, isso é muito difícil de fazer, mesmo que você inicie a conversa. E nessa conversa, pode ser extremamente difícil para alguns manter o contato visual, por exemplo.
Os autistas podem também ter dificuldades em coisas simples, como as tão comuns brincadeiras de imaginação e faz-de-conta. Outras vezes, podem ter dificuldades também em fazer amigos, justamente por não compreenderem tão bem essas pequenas atitudes cotidianas, como gestos, expressões faciais ou anedotas, interpretando-as muitas vezes literalmente.
Outras características deste transtorno podem envolver padrões restritos ou repetitivos de comportamento, como a necessidade de seguir sempre uma mesma rotina, sendo a fuga dessa rotina causadora de grande incômodo para a criança; ou necessidade de organizar os objetos segundo um padrão (ex: alinhar os brinquedos). As crianças também muitas vezes podem ter um interesse muito restrito sobre as coisas que gostam, podendo até ter um desempenho excelente nesta atividade. Por exemplo, existem crianças autistas que se interessam muito por desenho, sendo excelentes desenhistas, sobretudo no tema que gostam, como o desenho de animais, mas que em outros contextos de desenho, suas produções não são tão ricas em detalhes quanto no seu tema de interesse.
Essas são apenas algumas das características listadas e que podem nos chamar atenção, existem outras que ampliam o olhar. É importante saber também que nem todo indivíduo autista apresenta todas as mesmas características e com a mesma intensidade dos demais indivíduos diagnosticados dentro desse espectro. Eles variam muito entre si, o que torna indispensável a procura por profissionais, para uma avaliação clínica específica. Essa avaliação minuciosa é necessária até mesmo porque existem outros transtornos que podem até parecer com Transtorno do Espectro Autista, mas que diferem essencialmente, ou até transtornos que podem estar associados a ele, sendo o diagnóstico preciso necessário para uma melhor intervenção. Assim, é importante a integração entre os diversos profissionais, seja de saúde e da educação, para conseguir um olhar mais completo sobre a criança.

Espero que as informações tenham sido úteis.

Fonte:
American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais - 5ª edição (DSM-V). Porto Alegre: Artmed.