A pessoa percebe que é bipolar ou alguém precisa dizer? Respostas dos nossos especialistas

Sim, alguém vai precisar dizer sim ao paciente, que ele precisa ir ao médico e se tratar! Essa penosa tarefa fica geralmente ao encargo dos familiares, cônjuge ou ambos, que não é nada fácil, pois o transtorno bipolar cursa com comprometimento cognitivo ao longo de suas fases. Mas o pior mesmo ocorre nas fases de aceleração psíquica, onde o senso de crítica e o de noção de morbidade (noção de doença) ficam rebaixados. Eles não se sentem doentes, muito pelo contrário. É patognomônico (típico) desse transtorno que os pacientes não se percebam doentes e com isso, a adesão ao tratamento costuma ser muito ruim. A exceção seria quando eles estão em fase depressiva e por isso mesmo o início do tratamento se dá, usualmente, quando os sintomas da depressão são preponderantes. Por ser o transtorno da instabilidade do humor, o paciente vive como se estivesse numa montanha russa. Ocorrem mudanças incomuns do humor, energia, níveis de atividade e da habilidade de realizar as tarefas do dia-a-dia. Os sintomas são graves e diferentes dos altos e baixos que todos passamos de tempos em tempos. Os indivíduos bipolares acabam convivendo com esse atropelo de pensamentos. Estão sempre acelerados – seja focando as coisas de uma forma muito positiva ou muito negativa – e são impulsivos nas suas atitudes. Pensamentos grandiosos fazem parte do quadro clínico e acabam muitas vezes achando que sempre têm razão, que são mais inteligentes, melhores e superiores. Em alguns casos, fazer o diagnóstico pode não ser nada fácil, sendo um desafio até para os profissionais mais experientes. A maioria costuma levar mais de dez anos até receber o diagnóstico correto. Muitas famílias passam verdadeiros anos peregrinando de médico em médico, em busca de entendimento do problema e de um diagnóstico correto. Uma das causas para isso é que os sintomas muitas vezes parecem problemas separados, não reconhecidos como parte de um único problema maior. Por isso é essencial que a família ou o cônjuge entendam que na verdade os pacientes estão vivendo sob uma percepção alterada da realidade, e por isso correndo perigos de várias ordens. Daí a dificuldade até para convencer esses indivíduos a buscar ajuda, pois eles também justificam suas atitudes de forma bastante lógica. E como as alterações de humor podem ser muito rápidas (acordar com sentimentos depressivos e ter dificuldade para dormir ou por não conseguir desligar os pensamentos ou por querer sempre encontrar uma nova atividade), tanto a família como os amigos e o parceiro podem não conseguir entender exatamente o que está acontecendo. Um cônjuge, para tentar convencer o parceiro a iniciar o tratamento, tem de passar por um processo longo e muitas vezes fazer um trabalho de aproximação de profissional e paciente. E mantê-los em tratamento também é complicado, pois ao menor sinal de melhora, eles podem abandonar o tratamento.¬ O transtorno bipolar afeta igualmente homens e mulheres e geralmente o início dos sintomas ocorre entre os 15 e 25 anos de idade. Entretanto, a literatura mundial tem mostrado que o transtorno vem se iniciando em idades cada vez mais precoces. Estima-se que cerca de 5% dos brasileiros tenham instabilidade de humor em algum grau. O transtorno é crônico, multifatorial e a sua causa exata ainda é desconhecida, apesar de serem os fatores genéticos os principais: metade dos pacientes bipolares tem pelo menos um dos pais com o mesmo problema, ou seja, ele ocorre com mais frequência em familiares de pessoas com o transtorno. Os sintomas do Transtorno Bipolar podem resultar em relacionamentos prejudicados, desempenho insatisfatório no trabalho e na escola e até mesmo suicídio. Entretanto o Transtorno Bipolar pode ser tratado e portadores deste transtorno podem viver vidas plenas e produtivas.