Danilo Höfling é endocrinologista e doutor em ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. É Membro...
iO hipertiroidismo ou tireotoxicose resulta da produção excessiva de hormônios tireóideos, denominados T3 e T4.
Várias doenças podem provocar o hipertireoidismo, contudo, a doença de Graves é a causa mais comum do seu aparecimento. Essa doença ocorre mais comumente nas pessoas que se encontram entre 20 e 50 anos, acometendo, aproximadamente, 2% das mulheres e 0,2% dos homens. É um tipo de doença autoimune, na qual o organismo produz anticorpos capazes de estimular a produção dos hormônios tireóideos (T3 e T4). Além disso, essa enfermidade pode levar à infiltração de substâncias tanto atrás do globo ocular, que o empurra para frente, resultando em exoftalmo (olhos saltados), quanto na região anterior das pernas (mixedema pré-tibial).
O aumento excessivo hormônios tireóideos pode provocar diversas manifestações clínicas de intensidade variável. A presença de hipertireoidismo intenso pode levar a complicações graves como, por exemplo, insuficiência cardíaca congestiva, arritmias cardíacas, osteoporose com aumento do risco de fraturas, aumento do risco de abortamento etc. Há, também, maior risco de morte por doenças cardiovasculares e fratura de fêmur:
Sintomas | Sinais |
Nervosismo, ansiedade e irritabilidade | Aumento da frequência cardíaca |
Suor excessivo | Aumento do volume da tireoide (bócio) |
Sensação de calor excessivo | Tremor |
Palpitação | Pele quente e úmida |
Fadiga | Retração das pálpebras |
Redução de peso | Olhos saltados (exoftalmia) |
Falta de ar | Batimentos cardíacos descompassados (arritmia) |
Fraqueza muscular | |
Aumento de apetite | |
Alterações dos olhos | |
Inchaço das pernas | |
Aumento da frequência de evacuações | |
Alterações da menstruação | |
Diminuição de apetite | |
Aumento de peso | |
Queda de cabelos |
Dessa maneira, é imperativo que todos os pacientes sejam tratados, especialmente quando o hipertireoidismo é grave. Infelizmente, nenhum dos tratamentos atualmente disponíveis é capaz de agir especificamente na causa da doença, ou seja, bloquear a produção dos anticorpos que estimulam a tireoide. No caso da doença de Graves, pode-se optar por três tipos de tratamento: medicamentos antitireóideos, cirurgia e iodo radioativo. O tratamento de escolha varia entre os países. No Brasil, os medicamentos antitireoideos ainda são os mais utilizados. A literatura mostra que a probabilidade de remissão da doença (12 meses com funcionamento normal da tireoide após a suspenção dos remédios) é de 40 a 50% após 12 a 18 meses de tratamento. O iodo radioativo vem sendo cada vez mais utilizado por ser um tratamento definitivo e seguro, quando respeitadas as suas contraindicações. Uma das desvantagens é o alto risco de hipotireoidismo permanente (falta de hormônios tireóideos). As contraindicações para o tratamento com iodo radioativo incluem, entre outras, as gestantes, as mulheres que estão amamentando e a presença de nódulo suspeito de malignidade (câncer de tireoide).
Já a cirurgia é, atualmente, restrita às situações em que os medicamentos e o iodo radioativo são contraindicados. A técnica envolve a retirada total ou quase total da tireoide. As suas vantagens são de proporcionar uma rápida cura e a remoção do bócio. Suas principais desvantagens estão associadas aos danos nas glândulas paratireoides e a paralisia das cordas vocais em um pequeno percentual de pacientes. Tais complicações estão diretamente relacionadas à experiência do cirurgião. Podem-se citar algumas situações em que a cirurgia pode ser uma alternativa terapêutica:
- Crianças e gestantes que apresentam efeitos adversos ou que não tomam regularmente os medicamentos
- Indivíduos com bócios (aumento de volume da tireoide) muito grandes que comprimem estruturas vizinhas
- Pacientes que desejam tratamento definitivo, mas têm receio de utilizar o iodo radioativo
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Quando um nódulo suspeito de câncer está presente.
É importante frisar que há, também, outras causas de hipertireoidismo, como nódulos tireóideos que fabricam T3 e T4 em excesso, tumores de hipófise que produzem quantidades exageradas de hormônio estimulador da tireoide, alguns tipos de tireoidite (inflamação da tireoide), ingestão excessiva de iodo, entre outros. Certamente, cada uma dessas causas necessita de uma conduta terapêutica apropriada.
Obviamente, muitos fatores devem ser levados em consideração para a escolha do tipo de tratamento, como por exemplo: a gravidade da doença, presença de outras doenças que possam interferir no tratamento, em caso de gestação, idade etc.
Saiba mais: Hipotireoidismo: oito dúvidas sobre a doença da tireoide
Assim, é evidente que a experiência do especialista é de suma importância na escolha da estratégia terapêutica para que bons resultados sejam obtidos. Na presença de sintomas de hipertireoidismo é necessário que os pacientes procurem o médico rapidamente, já que as manifestações clínicas são muito desagradáveis e, quando a doença é grave, pode envolver risco de morte.