Fisioterapeuta graduado pela Universidade de São Paulo (USP). Possui especialização em Fisiologia e Biomecânica do Apare...
iQuebrar um osso não parece ser muito fácil, mas por incrível que pareça é bem comum fazermos isso pelo menos uma vez ao longo de nossas vidas. Nesses casos, a maior dúvida é sempre a respeito do que fazer, como fazer e como vai ficar nosso corpo depois que isso acontece. Por este motivo, o artigo vai dar uma visão geral sobre o tema, esclarecendo também a importância da fisioterapia, que é uma das principais ferramentas utilizadas para a recuperação de uma fratura.
Antes de tudo, vamos entender o osso. Ele é feito de um monte de células que vão se juntando até formar a estrutura dura que conhecemos. É coberto por uma fina membrana, como se fosse encapado, tornando-o mais resistente ainda. Diferente da rigidez de uma pedra, ele é complacente, ou seja, pode ser envergado como um bambu (voltando na posição original posteriormente), mas em amplitudes muito menores. Além disso, ele possui vasos sanguíneos, inclusive alguns ossos como o fêmur (osso da coxa) têm em seu interior a medula óssea, que é uma das principais fábricas de nosso sangue. Ou seja, quebrar uma estrutura como essa agora parece ser mais grave do que você está pensando, não?
Fique calmo. Pense em quantas pessoas que você conhece que já não quebraram algum osso. Jogando bola, caindo de escadas, batendo o dedão do pé em algum móvel, prendendo o dedo na porta, batendo as costelas, caindo com a mão espalmada no chão, tentando pegar uma bola que vem muito rápida, entre outras tantas histórias e poucas delas estão reclamando das dores da fratura até hoje. Se deixarmos um osso quebrado descansando por semanas, ele vai naturalmente se consertando, recompondo as células machucadas, até formar um novo osso, com as mesmas propriedades. Um bom exemplo seria como a formação do gelo quando deixamos a água no congelador. A superfície cria uma casquinha de gelo e depois o interior vai congelando também, mas qualquer movimento que fizermos, vai quebrar esta fase inicial, retornando à estaca zero. Por este motivo que a orientação é evitar movimentos no local do osso fraturado.
Então vamos falar um pouco mais destas fraturas. Existem alguns tipos delas: a mais simples é aquela onde existe uma única linha e as partes quebradas não se separam, como se formasse uma rachadura, mas sem alterar os contornos do osso. Um tipo um pouco mais sério é bem parecido, porém, existe um pequeno afastamento entre as partes. As mais graves são aquelas onde além de afastar uma parte da outra, ocorre um desvio entre elas criando desalinhamentos no osso. Além disso, existe a possibilidade de um mesmo osso ser quebrado em duas, três ou mais partes, aumentando a gravidade do problema quanto maior for o número destas partes. Ossos mais finos e compridos são mais fáceis de serem quebrados em duas partes, com desvios. Já ossos mais curtos e largos necessitando de traumas muito maiores para fraturarem-se.
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O tratamento das fraturas vai depender de cada tipo delas. Nos casos mais graves, onde os ossos se separam em vários fragmentos ou se desviam do eixo, é necessário fazer uma cirurgia para colocar tudo de volta no lugar, utilizando-se hastes metálicas, parafusos, fios metálicos ou até mesmo fixadores externos, como forma de manter os ossos no lugar, para que consolidem de forma alinhada. Agora, nos casos mais leves, onde não ocorre separação ou desvio considerável, o tratamento é conservador (sem cirurgias), com imobilização (órteses ou gesso) do local acometido.
E onde entra a fisioterapia? Finalmente, ela vai entrar após os procedimentos iniciais, quando o paciente for liberado pelo médico. Depois de uma cirurgia de fraturas graves, ela vai atuar no controle do inchaço (edema) e das dores, com manobras de drenagem linfática e equipamentos de analgesia. Por conta da cirurgia e da fixação dos ossos, alguns movimentos poderão ser realizados pelo fisioterapeuta, como maneira de melhorar a circulação do sangue na região operada, facilitando a cicatrização, preservando os movimentos e dando maior conforto ao paciente. Já nos casos mais simples, onde é liberado o uso do gesso ou da órtese, a fisioterapia tem como objetivo recuperar todas as funções da região afetada. Por exemplo uma pessoa que fraturou o cotovelo, após semanas imobilizada terá uma enorme dificuldade em esticar e dobrar o braço, por aderências na articulação do cotovelo e por conta da perda de força e controle do membro. Nestes casos, o fisioterapeuta vai atuar utilizando técnicas para desbloquear a articulação, recuperar o controle e força musculares, além de preparar a pessoa para as tarefas que necessite fazer novamente.
Muitas pessoas não fazem a fisioterapia e nem por isso sentem falta dela. Isto acontece pois em muitos casos a pessoa vai fazendo os movimentos do cotidiano aos poucos, até recuperar todo o controle normalmente. São casos onde a fisioterapia apenas iria acelerar a recuperação. Mas isto não quer dizer que todo caso será assim. Na maioria, sobram algumas aderências que ficam limitando um pouco alguns movimentos, ou a pessoa não consegue recuperar toda a força ou fica com um pouco de dor em determinados movimentos. Estes pequenos bloqueios muitas vezes são ignorados, mas com o tempo geram compensações no corpo que podem trazer problemas somente após vários anos depois da fratura. Por exemplo, uma pessoa que fratura a perna vai ficar semanas com ela imobilizada, perde a massa muscular e muda seu jeito de andar.
Com o tempo, sem ela saber, vai estar mancando, compensando os movimentos, podendo gerar um dor na coluna depois de vários anos, por mais que a perna esteja 100%. Por este motivo é que uma avaliação profissional sempre faz a diferença. No caso do fisioterapeuta, é ele quem vai reabilitar a pessoa, de forma que ela fique preparada para tudo que pretenderá fazer futuramente (dentro da medida do possível), sem sobrecarregar o corpo. O tempo de tratamento vai depender de como o corpo do paciente responde. Em casos mais graves podem ser necessários vários meses e nos casos mais simples, algumas semanas, mas com orientações para o paciente fazer em casa, no intervalo entre as sessões.
Para finalizar, vale a pena lembrar que para uma boa recuperação, é importante que todos os profissionais envolvidos se comuniquem (principalmente médicos e fisioterapeutas), para que tenham a informação completa sobre seu caso e as chances de sucesso na recuperação sejam maiores. Por isso, procure sempre por profissionais que demonstrem conhecimento sobre o seu problema, ou que sejam indicados por pessoas de sua confiança.