Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Marcus Borba é especialista em Cirurgia de cabeça e...
iEmbora o hábito de fumar e o consumo de álcool ainda sejam os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de cabeça e pescoço, outro vilão tem preocupado especialistas no mundo inteiro por pesar no aumento da incidência do câncer de garganta (orofaringe) e, segundo demonstram alguns estudos recentes, do câncer de boca. Trata-se do Vírus Papiloma Humano, ou simplesmente HPV, que é transmitido por contato sexual sem proteção, incluindo o sexo oral.
Para se ter uma ideia, em cinco anos, nos EUA, cresceram 61% os pedidos de seguro de câncer de cabeça e pescoço, segundo relatório da FAIR Health, publicado em 2016. Para pesquisadores, esse aumento no índice pode estar relacionado à contração do HPV por meio do sexo oral, já que o número de fumantes vem se reduzindo no EUA com as campanhas antitabagistas.
Especificamente falando do câncer de boca e de garganta (orofaringe), vem ocorrendo um aumento de pacientes com essas doenças nos consultórios, que não fumam e/ou bebem e que são mais jovens. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que, por ano, o país registre 14 mil novos casos de câncer de boca. Nem todos são causados ou têm relação com a infecção pelo HPV, mas a participação do vírus vem aumentando. Hoje em dia, estima-se que o HPV está presente em cerca de 30% dos cânceres de boca em pacientes abaixo de 45 anos.
Importante ressaltar que nem todo mundo que tem infecção pelo HPV vai ter câncer de cabeça e pescoço, embora haja um aumento do risco. Outros fatores, como álcool e fumo, podem aumentar esse risco, se associados. A boa notícia é que os tumores de garganta relacionados ao HPV têm um melhor prognóstico em relação àqueles provocados pelo fumo, respondendo melhor à quimioterapia e à radioterapia e, muitas vezes, nem precisam de cirurgia.
A prevenção continua sendo o melhor caminho. Por isso, a indicação é de praticar o sexo oral com o uso de preservativos masculinos e femininos e, com isso, evitar o contato de pele e mucosa, sem infecção pelo HPV com a pele infectada. A médio e longo prazo, a imunização de crianças e adolescentes também pode ajudar na redução da infecção e, talvez, ter algum papel preventivo nesse panorama.