Ginecologista e obstetra, formada pela Faculdade de Medicina da USP com Mestrado e Doutorado em Ginecologia pela F...
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O que é adenomiose?
A adenomiose é uma doença ginecológica benigna, que consiste na invasão da parede muscular do útero pelo tecido endometrial - que reveste a parte interna do útero e sofre descamação durante a menstruação. Na maioria dos casos, essa condição atinge mulheres acima dos 30 anos de idade que apresentam um histórico prévio de gravidez.
A adenomiose engorda?
A ginecologista e obstetra Flávia Fairbanks conta que não há relação entre a adenomiose e o aumento de peso. Nos quadros em que a mulher apresenta muita dor, é possível que haja falta de apetite e um forte desânimo, o que pode gerar perda de peso não intencional pela paciente.
"O aumento de peso pode ocorrer apenas pelo sedentarismo causado pela dor, mas não existe uma conexão direta entre ter adenomiose e ganhar peso", esclarece a médica.
Adenomiose pode evoluir para câncer?
O ginecologista Marcos Tcherniakovsky explica que a adenomiose é uma doença caracterizada como benigna, assim como a endometriose. Essa condição pode aparecer em diferentes intensidades para cada mulher, mas não existe nenhuma relação entre a adenomiose e o câncer.
Causas
Ainda há muitas dúvidas sobre as possíveis causas da adenomiose. Os especialistas acreditam que ela pode surgir a partir de fatores genéticos, como uma maior predisponibilidade de desenvolver esse tipo de alteração, ou até mesmo causas multifatoriais, como fatores ambientais, hormonais e estilo de vida.
Entretanto, de acordo com o ginecologista Marcos Tcherniakovsky, as principais causas apontadas e mais investigadas são:
- Menstruação retrógrada: no sangramento menstrual, ao invés do endométrio ser expelido, ele se infiltra no miométrio por meio de uma maior vascularização
- Metaplasia: é a transformação de células. Neste caso, células do músculo poderiam se transformar em células do endométrio, caracterizando a adenomiose
- De fora para dentro: uma possível endometriose que, no sangramento menstrual, ao invés do endométrio ser expelido, ele migra para a cavidade abdominal e, a partir de lá, se infiltra na parede uterina de fora para dentro, comprometendo o miométrio.
Sintomas
Entre os principais sintomas da adenomiose, estão:
- Útero amolecido e doloroso
- Cólica menstrual forte
- Irregularidade menstrual
- Dores pélvicas
- Aumento do fluxo menstrual
- Alterações gastrointestinais
- Infertilidade
De acordo com Marcos Tcherniakovsky, o sangramento uterino anormal, chamado de S.U.A, pode se manifestar em excesso durante a menstruação, assim como fora do período menstrual. Há também a possibilidade de ocorrer um pequeno sangramento antes da menstruação.
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Já as dores pélvicas podem evoluir para um quadro crônico, com duração superior a seis meses. Com isso, a mulher acaba apresentando um aumento das cólicas antes da menstruação e também dor durante a relação sexual.
"Isso ocorre porque o útero é o órgão acometido por esta doença. Então, no ato sexual, o contato do pênis com o colo do útero pode provocar uma sensibilidade maior que causa dor", explica o ginecologista.
A sensação de inchaço abdominal e os sintomas gastrointestinais são outros sinais comuns da adenomiose. Marcos explica que, devido a proximidade do útero com a bexiga e o intestino, pode ocorrer dor ao urinar e evacuar, além de ardência.
A adenomiose também pode afetar a concepção, causando dificuldade para engravidar e abortos espontâneos frequentes. Dessa forma, é preciso que seja feita uma consulta com um especialista para realizar o tratamento adequado para a condição.
Adenomiose e gravidez
Os especialistas explicam que a adenomiose não afeta a gravidez diretamente, ou seja, não causa nenhuma complicação para o feto ou torna a gestação de alto risco. Entretanto, ela pode gerar dificuldade para engravidar e fixar o embrião, aumentando as chances de abortamento precoce. Assim, após o estabelecimento da gestação, não há riscos relacionados a adenomiose.
Diagnóstico
O diagnóstico de adenomiose é realizado a partir de uma combinação de diferentes análises:
- Investigação profunda do histórico de saúde da paciente
- Diagnóstico clínico, com a apresentação dos sintomas
- Exame de toque, para entender se o útero é doloroso ao toque
- Exames de imagem, como ultrassonografia pélvica e transvaginal
"O melhor exame para fechar o diagnóstico é a ressonância magnética da pelve", conta a ginecologista Flávia Fairbanks.
Tratamento
O tratamento para adenomiose escolhido depende do histórico de saúde de cada paciente, podendo ser feito das seguintes maneiras:
- Clínico: é indicado o uso de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios prescritos pelo médico para melhorar a dor causada pela adenomiose
- Hormonal: é feito o uso de hormônios para diminuir o fluxo menstrual ou até mesmo cessá-lo, como a pílula anticoncepcional contínua, injeção anticoncepcional e o DIU mirena - que faz a liberação de progesterona dentro do útero. Essas opções tratam os sintomas, não a doença em si
- Cirúrgico: caso as outras opções de tratamento não tenham surtido efeito, é possível optar pela cirurgia. Nela, o ginecologista irá visualizar possíveis lesões de adenomiose no útero. "Caso a paciente tenha o desejo de engravidar, podemos retirar a lesão de forma mais superficial. Caso a paciente já tenha filhos, podemos retirar o útero inteiro", diz Marcos Tcherniakovsky.
Referências
Marcos Tcherniakovsky, médico ginecologista e especialista em endometriose, diretor de comunicação da Sociedade Brasileira de Endometriose (SBE), CRM 69445 SP
Flávia Fairbanks, médica ginecologista e obstetra, CRM 93879 SP