Evelyn Vinocur é doutora em Pediatria, graduada em 1978 pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em Pedi...
iRedatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
O que é Autismo?
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), também conhecido apenas como autismo, é um transtorno de desenvolvimento neurológico que afeta as habilidades físicas, motoras, de comunicação e de interação social. A condição costuma se manifestar durante a primeira infância e acomete, em maior prevalência, meninos.
Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente 1% da população mundial pode ter autismo. Além disso, estima-se que, em todo o mundo, uma em cada 160 crianças convivem com o diagnóstico de TEA. Mas, afinal, o que é autismo?
O que é autismo?
O autismo é um transtorno de desenvolvimento neurológico que se apresenta de diferentes formas. De uma maneira geral, o TEA afeta a linguagem, comunicação, interação social e comportamento social. Pessoas dentro do espectro podem apresentar padrões de comportamento repetitivos, interesses fixos e hiperfoco, hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais, entre outros.
Os primeiros sinais de autismo podem ser percebidos logo nos primeiros meses de vida e o diagnóstico pode ser estabelecido por volta dos dois a três anos de idade. Pessoas com autismo podem manter pouco contato visual ao conversar, apresentar dificuldade de interagir e se interessante excessivamente por temas específicos. Entenda, a seguir, as possíveis causas, sintomas e tratamentos.
Causas
As causas do autismo não são totalmente conhecidas, mas as pesquisas na área são cada vez mais intensas. Sabe-se que a genética e agentes externos desempenham um papel-chave nas causas do transtorno.
De acordo com um estudo, publicado no Journal of the American Medical Association, a herança genética é responsável por 80% dos casos. Enquanto os fatores exógenos podem ser atribuídos a complicações durante a gravidez, infecções, desequilíbrio metabólico e exposição a substâncias tóxicas.
Autismo e vacinas
Muito se discute sobre a relação dos imunizantes com o desenvolvimento do TEA. Um amplo estudo realizado pelo Instituto Serum Statens, na Dinamarca, apontou que as vacinas não possuem qualquer relação com o autismo.
Pesquisas realizadas pela Academia Americana de Pediatria também apontaram que nenhuma vacina ou componente é responsável pelo número de crianças diagnosticadas com autismo. A entidade concluiu que os benefícios das vacinas são maiores do que os possíveis riscos.
Fatores de risco
- Sexo: meninos são de quatro a cinco vezes mais propensos a desenvolver autismo do que meninas
- Genética: famílias que já possuem histórico de autismo correm riscos maiores de novos casos
- Condições de saúde: crianças com alguns problemas de saúde específicos, como epilepsia e esclerose tuberosa, tendem a ter mais riscos de desenvolver autismo
- Idade dos pais: alguns estudos apontam que quanto mais avançada a idade dos pais, mais chances a criança tem de desenvolver autismo até os três anos.
Saiba mais: Ecolalia: conheça o distúrbio que afeta crianças com autismo
Tipos
Tipos de Autismo
Existem diferentes tipos de autismo, classificados de acordo com o quadro clínico. Veja:
- Autismo clássico: de maneira geral, são pessoas voltadas para si mesmas, que não estabelecem contato visual e não se comunicam tradicionalmente por meio da fala e possuem dificuldade de compreensão de metáforas e enunciados simples. O grau de comprometimento pode variar de caso para caso, podendo até apresentar deficiência mental importante
- Síndrome de Asperger: apresentam as mesmas dificuldades de comunicação e interação, mas em um nível menor. Muitas vezes, são muito inteligentes, podendo ser considerados gênios nas áreas que dominam
- Distúrbio global do desenvolvimento sem outra especificação: o paciente é considerado dentro do espectro autista por possuir dificuldade de comunicação e interação social, mas os sintomas não são suficientes para incluí-los nas categorias anteriores, o que dificulta o diagnóstico.
Leia mais: Qual a diferença entre o Savantismo, Asperger e o Autismo?
Graus de autismo
Além dos diferentes tipos de autismo, também existem graus que se diferem entre si. Os graus de autismo são classificados em:
Autismo grau 1: autismo leve
Pacientes com autismo grau 1 possuem maior independência e desempenham facilmente as tarefas no dia a dia. Apresentam pouco interesse e dificuldade em iniciar ou manter interações sociais, problemas em se expressar, comportamentos repetitivos e restritos, dificuldade em trocar de atividade, problemas para organização e planejamento. Por isso, é considerado autismo leve.
Autismo grau 2: autismo moderado
Os sintomas costumam ser percebidos com maior facilidade no autismo grau 2. Os pacientes precisam de suporte moderado para desempenhar atividades, apresentam maior dificuldade de socialização, podem ou não se comunicar verbalmente, não realizam contato visual, possuem comportamentos repetitivos em maior complexidade e seguem rigorosamente uma rotina.
Autismo grau 3: autismo severo
O paciente diagnosticado com autismo grau 3, geralmente, possui pouca autonomia, necessita de apoio constante para realizar atividades diárias, possui graves déficits de comunicação e interação social. Em alguns casos, não conseguem se comunicar verbalmente e precisam de suporte de um mediador e, por isso, é considerado autismo severo.
Apresentam extrema dificuldade em lidar com a mudanças, comportamentos repetitivos e extrema fixação em interesses restritos e dificuldade em mudar de foco ou ações. Comumente tem condições associadas ao Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
Autismo regressivo
Algumas crianças com autismo podem crescer sem apresentar nenhum sintoma e, com o avançar da idade, perdem as habilidades linguísticas ou sociais que adquiriram anteriormente. Esse tipo de autismo é chamado de autismo regressivo.
Sinais
Sintomas de autismo
Os sintomas de autismo variam de acordo com o nível do espectro em que o paciente está inserido. Entre as áreas afetadas e suas manifestações estão:
Comunicação
- Dificuldade em iniciar ou manter uma conversa social
- Comunicar-se com gestos em vez de palavras
- Atraso ou não desenvolvimento da linguagem
- Referir-se a si mesmo de forma errada (por exemplo, dizer “você quer água” quando a criança quer dizer “eu quero água”)
- Repetir muitas vezes a mesma palavra ou pergunta
- Dificuldade em compreender figuras de linguagem e sarcasmo
- Comunicação monótona
Interação social
- Dificuldade em fazer amigos
- Não mantém contato visual
- Isolamento
- Falta de empatia
- Não gosta de contatos físicos, como beijos e abraços
Comportamento
- Acessos de raiva intensos e agressividade
- Fixação em um único assunto ou tarefa
- Dificuldade de atenção
- Hiperatividade
- Faz movimentos corporais repetitivos
- Dificuldade em interagir em atividades de imaginação
- Visão, audição, tato, olfato ou paladar excessivamente sensíveis
- Não apresentar medo em situações perigosas
- Irritação com mudanças na rotina
- Apego a objetos
Saiba mais: Autismo em adultos: como o diagnóstico tardio faz diferença?
Sinais de autismo em bebê
.Os principais sinais de autismo em bebês são:
- Não apresentar expressões faciais aos seis meses
- Não imitar sons ou expressões faciais aos nove meses
- Não balbuciar ou gesticular aos 12 meses
- Não dizer nenhuma palavra aos 16 meses
- Não dizer frases compostas de pelo menos duas palavras aos 24 meses
- Perder habilidades sociais e de comunicação em qualquer idade
Diagnóstico
Como é diagnosticado o autismo?
O diagnóstico de autismo costuma ocorrer antes dos três anos de idade, já que os sinais do transtorno costumam aparecer cedo. Em consulta, o médico procurará por sinais de atraso no desenvolvimento da criança.
Para o diagnóstico, é utilizado o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria, que define como autista o paciente que apresenta pelo menos seis dos sintomas clássicos da condição.
Uma avaliação de autismo, normalmente, pode incluir exames físicos e neurológicos completos, procedimentos específicos, como:
- Entrevista diagnóstica para autismo revisada (ADIR)
- Programa de observação diagnóstica do autismo (ADOS)
- Escala de classificação do autismo em crianças (CARS)
- Escala de classificação do autismo de Gilliam
- Teste de triagem para transtornos invasivos do desenvolvimento
As crianças com suspeita de autismo ainda podem passar por testes genéticos em busca de anomalias nos cromossomos.
Tratamento
Autismo não tem cura, mas um programa de tratamento apropriado para as necessidades do paciente, proporciona mais perspectiva aos autistas. Os tratamentos são focados em reduzir os impactos dos sintomas do autismo e em estimular as habilidades sociais, comunicativas, de desenvolvimento e de aprendizado. Entre as alternativas de terapia estão:
- Terapias de comunicação e comportamento (TEACCH, ABA)
- Medicações
- Fonoaudiologia
- Terapia ocupacional
- Fisioterapia
- Acompanhamento nutricional
Saiba mais: ABA: o que é e por que é eficaz para tratar o autismo
Medicamentos
As medicações são prescritas com o objetivo de tratar possíveis condições que os autistas possam apresentar, como agressividade, ansiedade, problemas de atenção, compulsões extremas, hiperatividade, impulsividade, irritabilidade, alterações de humor e dificuldade para dormir.
Secretina e Autismo
A secretina é um dos medicamentos mais estudados para o tratamento do autismo. Apesar da grande movimentação em relação à droga, até o momento não há comprovação científica da sua eficácia em casos do espectro autista.
Tem cura?
Autismo não tem cura. No entanto, existe uma série de métodos de habilitação de aprendizagem e desenvolvimento para que as pessoas dentro do espectro de autismo tenham uma boa qualidade de vida.
Complicações possíveis
O autismo pode estar associado a outros distúrbios que afetam o cérebro, como a Síndrome do X frágil, déficit intelectual e esclerose tuberosa. Algumas pessoas do espectro ainda podem desenvolver convulsões.
Lidar com o autismo pode levar a complicações sociais e emocionais para a família e os cuidadores, bem como para o próprio paciente. Por isso, o acompanhamento psicológico tanto para um quanto para o outro é essencial.
Referências
Revisado por Dra. Evelyn Vinocur, psiquiatra e mestre em neuropsiquiatria pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e psicoterapeuta cognitivo comportamental, especializada em Saúde Mental da Infância e Adolescência pela Santa Casa de Misericórdia do Estado do Rio de Janeiro (SCMRJ) e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Membro associado da Associação Brasileira de Psiquiatria (CRM-RJ: 303514)
DSM-V, American Psychiatric Association - Manual de Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais 5ªed. Edit. Artes Médicas
Organização Mundial da Saúde (OMS)
Journal of American Medical Association (JAMA)
The National Autistic Society
Centers for Disease Control and Prevention (CDC)