Dr. Carlos Moraes se graduou na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo em 1991. Fez Residência Médica...
iRedatora especialista em conteúdos sobre saúde, família e alimentação.
Dra. Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, da Infância e Adolescência, preceptora na residência da Universidade Federal...
iO que é Depressão na gravidez?
A depressão na gravidez, ou depressão perinatal, é um transtorno que acontece durante o período gestacional e que pode se estender por meses após o parto. Ela causa uma persistente sensação de tristeza profunda, de modo que a gestante não consegue encontrar prazer nas atividades que antes lhe davam alegria. Isso provoca falta de interesse e energia nas tarefas rotineiras, como trabalhar e estudar.
Apesar dos esforços, a pessoa com depressão gestacional dificilmente consegue enxergar positividade na vida, podendo apresentar sentimentos de culpa e inutilidade. Eles podem ser intensos e debilidades, o que pode resultar em consequências graves tanto para a mãe quanto para o bebê. A falta de apoio e o histórico de transtornos são alguns dos principais fatores de risco para a doença.
Causas
Transtornos psiquiátricos, como a depressão, normalmente são causados por fatores genéticos e ambientais. Mas, durante a gravidez, as alterações hormonais, físicas e sociais também podem afetar a saúde mental da gestante e aumentar os riscos de problemas — incluindo de origem psicológica.
Entre os fatores que causam a depressão na gravidez, é possível destacar:
- Alterações hormonais, que podem afetar o humor e o bem-estar
- Histórico de depressão e outros transtornos
- Estresse associado à gravidez, ao trabalho e à vida pessoa
- Problemas de relacionamento, como conflitos com a família e o parceiro ou parceira
- Falta de apoio de familiares e amigos
- Problemas financeiros
- Gestação não planejada
Sintomas
Em função das alterações na rotina e no estilo de vida que ocorrem durante a gestação, é considerado normal apresentar “altos e baixos” no período. Contudo, deve-se prestar atenção se os sintomas de depressão na gravidez forem persistentes, como:
- Humor melancólico durante todo o dia
- Alterações de sono, como dormir por muito tempo ou dificuldade para dormir
- Ausência de apetite ou apetite excessivo
- Fadiga ou perda de energia
- Perda de interesse nas atividades rotineiras
- Desinteresse pela gravidez
- Ansiedade excessiva sobre o bebê
- Sentimento de culpa e inutilidade
- Sensação de inadequação à maternidade
- Pensamentos de morte ou suicídio
Leia também: Sintomas de depressão: 8 sinais que talvez você não reconheça
Diagnóstico
A depressão na gravidez é identificada a partir de uma observação dos sintomas e sinais apresentados pela gestante, isto é, em como ela se sente fisicamente e emocionalmente. Também é necessário apresentar ao médico o seu histórico de vida e familiar. O diagnóstico também ajuda a identificar a intensidade da depressão, que pode ser leve, moderada ou grave.
“É muito importante, na primeira consulta do pré-natal, conversar com essas pacientes no consultório, para saber identificar os fatores de risco”, aponta Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, médico do Hospital Albert Einstein.
Buscando ajuda médica
Se você está apresentando os sintomas de depressão de maneira persistente e eles estão afetando o seu dia a dia procure ajuda médica. A gravidez é um período associado a uma grande felicidade, e estar deprimida pode causar um sentimento intenso de receio sobre falar do estado emocional.
Qualquer pessoa está suscetível a ter a saúde mental afetada, ainda mais num período de mudanças como a gravidez. Por isso, não se culpe pelo o que está sentindo. Ao procurar ajuda médica, você começa a compreender as particularidades da depressão, o que te ajuda a ser mais gentil consigo mesma e a lidar com a situação.
Tratamento
O tratamento de depressão na gravidez pode variar de acordo com a gravidade dos sintomas apresentados, e envolve acompanhamento com obstetra, psiquiatra e psicólogo. Em quadros leves, o recomendado é a realização de psicoterapia — que pode ajudar a gestante a compreender e lidar com os sentimentos que surgiram no período para que ela vivencie a gestação de uma maneira mais equilibrada.
A prática de atividades físicas, uma alimentação saudável e outras atividades que promovam relaxamento (como acupuntura e o mindfulness) também podem contribuir para melhorar a qualidade de vida e aumentar a autoconfiança da gestante.
Em casos mais graves, pode ser necessário o uso de medicamentos antidepressivos, que devem ser indicados por um especialista. Existem guias que orientam sobre quais medicações são seguras para se usar no tratamento de depressão na gravidez, mas, se a gestante já tinha diagnóstico da doença e realizava tratamento medicamentoso, é preciso uma nova avaliação médica para pesar o risco e os benefícios do remédio.
Não se automedique. Alguns antidepressivos podem causar problemas sérios ao bebê, como malformação fetal, aumentar o risco de parto prematuro e dificultar seu crescimento adequado. Segundo Danielle H. Admoni, psiquiatra geral e da Infância e Adolescência, a fluoxetina e a sertralina, que são inibidores seletivos de serotonina, são algumas das medicações mais seguras para tratar o quadro.
Leia mais: Grávida pode tratar a depressão?
Prevenção
Não existem maneiras garantidas de prevenir a depressão, mas alguns hábitos no dia a dia podem ajudar a reduzir o risco, como:
- Mantenha uma alimentação saudável, seguindo as orientações da nutricionista
- Realize atividades físicas
- Informe-se sobre a gravidez
- Procure estar rodeada de pessoas queridas
- Invista em atividades relaxantes e divertidas
- Evite colocar muita pressão em si mesma
- Siga o pré-natal e informe seu médico sobre qualquer coisa que sentir
- Se você já teve depressão, informe o seu médico
- Descanse
- Mantenha acompanhamento com psicólogo
“Ao ter um um estilo de vida saudável, o que inclui uma dieta saudável e o não uso de substâncias, a chance de ter um quadro depressivo é menor. No entanto, existem adventos de vida que nós não conseguimos escolher”, esclarece Danielle.
Convivendo (Prognóstico)
Importância de uma rede de apoio
A gravidez é um período de muitas mudanças na vida da gestante, em que ela pode se sentir desorientada e receosa sobre o futuro. Nesses momentos, é indispensável contar com pessoas que ofereçam suporte emocional, físico e prático para que a gravidez seja tranquila e ela se sinta preparada para a maternidade.
Isso se torna ainda mais crucial quando ela apresenta problemas no período, como a depressão. “A pessoa que está deprimida não percebe que está deprimida, como é uma situação nova, ela confunde com os sinais da gestação. Por isso, é importante que o companheiro e os familiares percebam isso e ajudem, levando-a ao obstetra, ao psiquiatra. Isso é ter uma rede de apoio”, aponta Danielle.
Leia mais: Depressão pós-parto: dicas de como ajudar a mãe
Uma rede de apoio pode ser formada por amigos, familiares, parceiros e profissionais da saúde, que devem estar presentes durante a gravidez e após o nascimento do bebê. Ajudar nas tarefas domésticas, cuidados com o bebê, transporte e informações sobre a maternidade são só algumas das funções realizadas por ela. Isso pode liberar mais tempo para a gestante se recuperar e descansar.
Complicações possíveis
A depressão na gravidez é um dos principais fatores de risco para a depressão pós-parto. Segundo Carlos, o quadro é mais intenso que o baby blues (ou tristeza puerperal) e a paciente não consegue cuidar de si mesma e do bebê — o que torna essencial o diagnóstico prévio.
“Uma mãe que está depressiva não se cuida direito, então ela não vai se alimentar, dormir e fazer o pré-natal corretamente — e também não vai cuidar da saúde do bebê”, esclarece Danielle. Isso pode trazer complicações como desnutrição, consumo de bebidas alcoólicas, fumo e comportamento suicida. Todos esses problemas podem desencadear:
- Baixo peso ao nascer
- Parto prematuro
- Problemas respiratórios
- Restrição de crescimento do bebê
- Atraso no desenvolvimento cognitivo
- Hiperatividade e problemas de atenção
Além disso, a depressão gestacional prejudica a maneira como a mãe se relaciona com o bebê. "O vínculo que a mãe tem com o filho é o principal para a saúde do bebê, para que ele se sinta seguro e amado. Quando a mulher está sofrendo com a depressão pré-natal, não se aproxima do bebê, gerando desconforto para os dois lados", explicou a ginecologista Carolina Carvalho previamente ao MinhaVida.