Possui graduação em Medicina pela Universidade de São Paulo (2002) e mestrado em Moléstias Infecciosas e Parasitárias pe...
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O que é Doença do sono?
A doença do sono, conhecida como tripanossomíase humana africana, é uma infecção parasitária causada pelo Trypanosoma brucei, transmitida pela picada da mosca tsé-tsé. A doença atinge áreas rurais de 36 países da África Subsaariana e não ocorre no Brasil, mas pode afetar pessoas que visitam estes países. A infecção ataca o sistema nervoso central e provoca sintomas como mudanças de humor, confusão mental e distúrbios sensoriais.
Causas
Transmissão da doença do sono
A doença do sono é causada pelo parasita Trypanosoma brucei, transmitido para os humanos através da picada das moscas tsé-tsé, que vivem e procriam em regiões quentes e úmidas da África Subsaariana. A mosca, por sua vez, adquire o parasita picando outra pessoa ou animal infectado. Humanos, animais selvagens, domésticos e o gado servem como hospedeiros para o parasita.
Por razões ainda não conhecidas, existem locais com grande incidência das moscas tsé-tsé em que não há epidemia da doença do sono. Há ainda outras formas de infecção, que são menos comuns, como:
- Transmissão vertical (de mãe para filho durante a gravidez)
- Contaminação acidental em laboratórios com agulhas contaminadas
Tipos
Existem dois tipos de doença do sono, que são classificados de acordo com a subespécie de parasita envolvido na infecção. Os tipos também são divididos de acordo com os territórios endêmicos, sendo que Uganda é o único país africano que apresenta os dois tipos da doença.
- Trypanosoma brucei gambiense: é a forma mais comum da doença, que corresponde a 98% dos casos relatados, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e causa uma infecção crônica. A pessoa infectada pode passar meses ou até anos sem apresentar a maior parte dos sintomas, fazendo com que o paciente, muitas vezes, só seja diagnosticado quando ele já se encontra num estágio avançado da doença do sono e o sistema nervoso central já foi afetado
- Trypanosoma brucei rhodesiense: representa menos de 2% dos casos relatados da doença do sono, de acordo com a OMS, e causa uma infecção aguda. Os sintomas já são notados poucos meses, ou semanas, após a infecção e a doença se desenvolve rapidamente atingindo o sistema nervoso central
Outros tipos de trypanosomiasis são a Doença de Chagas e a Animal trypanosomiasis, que acomete animais selvagens e domésticos. No caso do gado, a doença é denominada Nagana.
Sintomas
Os primeiros sintomas da doença do sono não são específicos e incluem dores de cabeça e nas articulações, crises de febre e coceira. Já no segundo estágio os sintomas são mais óbvios, mas também mais difíceis de serem tratados. São eles:
- Mudanças de humor ou comportamento
- Confusão mental
- Febre
- Distúrbios sensoriais e de coordenação
- Aumento de linfonodos (ínguas)
- Fraqueza muscular
- Convulsões
- Sudorese
- Ansiedade
- Distúrbios no ciclo do sono, em que a pessoa infectada não consegue dormir durante a noite mas é facilmente vencida pelo sono durante o dia
É importante ressaltar que, se não tratada, a doença do sono pode ser fatal, apesar de casos de portadores saudáveis já terem sido relatados.
Diagnóstico
O diagnóstico da doença do sono é feito através da pesquisa do parasita em sangue ou líquido aspirado de linfonodos. O T. b. rhodesiense é mais facilmente encontrado no sangue do que o T. b. gambiense. Todos os pacientes diagnosticados com Tripanossomíase Africana devem ser submetidos à punção para coleta de líquido céfalo-raquidiano para avaliar o envolvimento do sistema nervoso central.
Apesar de ser difícil diagnosticar a doença no início, essa é a fase em que ela é mais facilmente tratada, então deve ser feito o quanto antes. Por ser comum em locais remotos e com sistemas de saúde deficientes, estima-se que muitas pessoas infectadas morram antes mesmo de serem diagnosticadas.
Fatores de risco
As populações das áreas rurais onde há incidência da doença do sono e que praticam agricultura, pesca, criação de gado ou caça são as mais expostas às moscas e, portanto, mais suscetíveis à doença.
Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar a doença do sono são:
- Clínico geral
- Infectologista
Nas grandes cidades brasileiras existem ambulatórios dentro de hospitais de referência especializados em doenças adquiridas fora do país, como o Ambulatório do Viajante do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Se estiverem disponíveis na sua localidade, de preferência para esses locais, pois estarão mais aptos a atendê-lo e identificar a doença.
Buscando ajuda médica
Por ser uma doença comum apenas nos países africanos, caso um estrangeiro que tenha viajado para as áreas com risco de contaminação tenha algum dos sintomas do primeiro estágio, deve procurar imediatamente ajuda médica antes que os sintomas se agravem. Estando em um dos locais endêmicos da doença, sendo local ou viajante, também se deve procurar ajuda médica ao aparecimento dos primeiros sintomas.
Tratamento
O tratamento para a doença do sono irá depender do estágio em que a doença se encontra, sendo que quanto mais cedo for iniciado o tratamento, melhores as perspectivas de sucesso. No primeiro estágio, os medicamentos utilizados são de baixa toxicidade e fáceis de administrar, mas no segundo estágio a medicação deve transpassar a barreira hemato-encefálica para alcançar o parasita, sendo usadas medicações que podem apresentar mais efeitos colaterais.
Para o primeiro estágio é recomendado o uso de pentamidina e suramina. Já para o segundo estágio da doença do sono, desde 2009, a OMS recomenda a combinação terapêutica de nifurtimox-eflornitina, ou NECT, que é mais seguro do que o melarsoprol, utilizado anteriormente.
Medicamentos
Os medicamentos mais usados para o tratamento de algumas doenças do sono são:
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.
Tem cura?
A doença do sono tem cura. Quanto antes a doença do sono (de ambos os tipos) for diagnosticada e tratada, melhores as expectativas de cura para o paciente. À medida em que os sintomas se agravam, da mesma forma o estágio em que a doença se encontra, o tratamento se torna mais complicado e incerto.
Prevenção
A prevenção da doença do sono inclui evitar áreas endêmicas e/ou se proteger contra as picadas das moscas tsé-tsé. As roupas devem proteger o corpo todo e serem grossas, pois a picada das moscas pode transpassar as roupas mais finas. O uso de repelentes de insetos também é recomendado a fim de prevenir a doença do sono, porém, sua eficácia contra as moscas tsé-tsé pode ser limitada.
A Pentamidina também pode ajudar na prevenção, contudo, os efeitos colaterais envolvem o dano nas células pancreáticas, o que pode gerar hipoglicemia seguida, posteriormente, de diabetes. Sendo assim, a droga raramente é utilizada com a finalidade de profilaxia.
Complicações possíveis
Dentre as complicações decorrentes da doença, então os danos causados pelos momentos de sono durante as atividades diurnas (como ao manejar máquinas), danos graduais no sistema nervoso central, coma e até a morte.
Referências
Organização Mundial da Saúde
Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC)
Médicos Sem Fronteiras