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Formada em 2003 em Marília, concluiu Ginecologia e Obstetricia no Complexo Hospitalar na Autarquia do Mandaqui em 2005,...
iO que é Fissura mamilar?
A fissura mamilar, também conhecida como rachadura nos mamilos, é uma lesão no tecido mamilar que ocorre devido à pressão realizada pelo bebê durante a amamentação, quando a pega e o posicionamento estão inadequados.
Além de ser uma das principais causas para o desmame precoce, a fissura mamilar pode evoluir para quadros graves de mastite, abscesso mamário e septicemia (sepse).
“As lesões mamilares são muito dolorosas e, com frequência, são a porta de entrada para bactérias. Por isso, além de corrigir o problema que está causando a dor mamilar, faz-se necessário intervir para aliviar a dor e promover a cicatrização das lesões o mais rápido possível”, aponta o caderno Saúde da Criança: Aleitamento Materno e Alimentação Complementar, do Ministério da Saúde.
Causas
A pega incorreta do bebê e o posicionamento inadequado são as principais causas de fissura mamilar durante a amamentação. No geral, isso pode acontecer quando há falta de orientação quanto à técnica adequada para dar de mamar.
Em casos de pega incorreta, observa-se que a boca do bebê não consegue envolver toda a aréola, os lábios ficam virados para dentro e o queixo não encosta na mama. Também é possível ouvir sons de estalidos quando a criança mama.
Nesse contexto, uma vez que o bebê não consegue drenar o leite com eficiência, a pressão negativa leva a lesões e rachaduras no tecido dos mamilos — que estão mais sensíveis e delicados devido ao aumento dos hormônios e à mudança na estrutura da mama.
Todavia, existem outros fatores que podem desencadear fissuras mamilares, tais como:
- Uso de cremes e óleos que deixam a pele sensível e fina
- Uso de sabonetes que ressecam a pele dos mamilos
- Disfunções orais do bebê, como frênulo lingual curto (língua presa)
- Uso impróprio de bombas de extração de leite
- Exposição prolongada a forros úmidos
- Uso de bicos intermediários de silicone
- Uso de protetores (intermediários) de mamilo
Sintomas
A presença de feridas na mama pode provocar sintomas característicos, como dor, inchaço da mama e dos mamilos e vermelhidão local — fatores que prejudicam o processo de amamentação e podem levar à interrupção do aleitamento.
“É comum, nos primeiros dias após o parto, a mulher sentir dor discreta ou mesmo moderada nos mamilos no começo das mamadas, devido à forte sucção deles e da aréola. [...] No entanto, ter os mamilos muito doloridos e machucados, apesar de muito comum, não é normal e requer intervenção”, explica o documento do Ministério da Saúde.
A lactante ainda pode apresentar outros sintomas, segundo a ginecologista e obstetra Carolina Curci. São eles:
- Marcas brancas, amarelas ou escuras
- Hematomas
- Bolhas
- Temperatura da pele aumentada
- Erosão
- Sangramento no mamilo
- Escoriações
- Feridas abertas
- Crostas
- Descamação
A lactante pode continuar amamentando com a fissura mamilar?
Sim, é possível continuar amamentando mesmo com a presença de fissuras mamilares, uma vez que a dor desaparece assim que a pega incorreta do bebê é corrigida.
Todavia, segundo Carla Iaconelli, caso a fissura seja muito grande e dolorosa, é necessário suspender a amamentação na mama mais afetada por 24 a 48 horas e ordenhá-la manualmente ou com bomba de extração até seu esgotamento para evitar que ela fique cheia.
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Fatores de risco
Segundo Carla Iaconelli, médica ginecologista e especialista em Reprodução Humana, os principais fatores de risco relacionados à ocorrência de fissuras mamilares são:
- Presença de fissuras mamilares em gestações anteriores
- Presença de mamada na primeira hora de vida
- Mamilos semiprotusos ou malformados
- Posicionamento inadequado entre mãe e filho
- Presença de ingurgitamento mamário (leite empedrado)
- Uso de mamadeira
- Uso de chupeta
- Mastite lactacional
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Tratamento
O primeiro passo para tratar fissuras mamilares é a correção da pega do bebê e do posicionamento da lactante, que são as principais causas relacionadas ao problema.
Além disso, o Ministério da Saúde recomenda algumas medidas de conforto durante o tratamento, que visam minimizar o estímulo aos receptores da dor localizados na derme do mamilo e da aréola. São elas:
- Início da mamada pela mama menos afetada
- Ordenha de um pouco de leite antes da mamada, para evitar que a criança tenha que sugar muito forte no início da mamada para desencadear o reflexo
- Uso de diferentes posições para amamentar, reduzindo a pressão nos pontos dolorosos ou áreas machucadas
- Uso de “conchas protetoras” (alternativamente, pode-se utilizar um coador de plástico pequeno, sem o cabo) entre as mamadas, eliminando o contato da área machucada com a roupa. Esses dispositivos devem possuir buracos de ventilação, pois a circulação inadequada de ar para o mamilo e aréola pode reter umidade e calor, tornando o tecido mais vulnerável a infecções
- Analgésicos sistêmicos por via oral se houver dor importante
É necessário ressaltar que limitar a duração das mamadas não tem efeito na prevenção ou no tratamento do trauma mamilar. “Muitos tratamentos têm sido utilizados ou recomendados para lesões mamilares. Entretanto, a eficácia deles não tem sido avaliada adequadamente; como consequência, os tratamentos de traumas mamilares utilizados rotineiramente não são respaldados por estudos de qualidade”, explica o caderno do Ministério da Saúde.
Tratamentos alternativos para fissura mamilar
Apesar de não haver consenso sobre a melhor maneira para tratar as fissuras mamilares, além dos métodos de amamentação adequada, alguns tratamentos ainda são utilizados para minimizar a dor e tratar as fissuras que prejudicam a amamentação. Alguns deles incluem:
- Tratamento úmido: a lactante aplica o próprio leite sobre o mamilo ferido. Embora o leite materno apresente propriedades antimicrobianas, seu uso para tratar traumas mamilares é controverso na literatura
- Tratamento seco: inclui manter os mamilos secos e arejados, expondo-os ao ar livre ou à luz solar. Apesar de bastante popular, ele não tem sido mais recomendado, pois acredita-se que a cicatrização das feridas é mais eficiente se as camadas internas da epiderme (expostas pela lesão) se mantiverem úmidas
- Pomadas à base de lanolina: não havendo infecção, o Ministério da Saúde explica que a lanolina purificada pode diminuir o desconforto da lactante
- Casca de banana: a aplicação da casca de banana sobre as mamas feridas, embora seja uma prática popular, é contraindicado por ser um potencial carreador de bactérias que podem ocasionar episódios de mastite
Cremes, óleos em geral, antissépticos, saquinhos de chá ou outras substâncias tópicas devem ser evitados, pois não há comprovação de que sejam eficientes, podendo inclusive serem prejudiciais.
Prevenção
A prevenção da fissura mamilar abrange o uso de técnicas adequadas de amamentação, com intervenções na pega do bebê e posicionamento da lactante. Segundo o Ministério da Saúde, algumas medidas incluem:
- Cuidados para que os mamilos se mantenham secos e trocas frequentes dos forros utilizados quando há vazamento de leite, uma vez que o ambiente úmido é propício para a proliferação da bactéria que causa candidíase
- Não usar produtos que retiram a proteção natural do mamilo, como sabão, álcool ou qualquer produto secante
- Amamentação em livre demanda: prática na qual a mãe permite que o bebê seja amamentado quantas vezes ele quiser e pelo tempo que sentir vontade, sem restrição de horário e de duração
- Evitar o ingurgitamento mamário (leite empedrado)
- Ordenha manual da aréola antes da mamada se ela estiver ingurgitada, o que aumenta a sua flexibilidade, permitindo uma pega adequada
- Introdução do dedo indicador ou mínimo pela comissura labial (canto) da boca do bebê, se for preciso interromper a mamada, de maneira que a sucção seja interrompida antes de a criança ser retirada do seio
- Não uso de protetores (intermediários) de mamilo, pois eles, além de não serem eficazes, podem ser a causa do trauma mamilar
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Complicações possíveis
As fissuras mamilares são a principal causa de desmame precoce em bebês com menos de seis meses de vida, em que ocorre a interrupção parcial ou completa do aleitamento materno.
É importante destacar que o aleitamento possui impacto nutricional fundamental para a saúde da criança e é capaz de reduzir os riscos de inúmeras doenças. A recomendação é que o leite materno seja o alimento exclusivo dos bebês até os seis meses de vida e, após esse período, seja oferecido como complemento até os dois anos de idade.
Ademais, se não tratada adequadamente, Carla Iaconelli e Carolina Curci explicam que a fissura pode ser uma porta de entrada para microorganismos que causam:
- Mastite
- Abscessos mamários
- Septicemia (sepse)
“Alguns problemas enfrentados pelas nutrizes durante o aleitamento materno, se não forem precocemente identificados e tratados, podem ser importantes causas de interrupção da amamentação. Os profissionais de saúde têm um papel importante na prevenção e no manejo dessas dificuldades”, aponta o Ministério da Saúde no caderno “Saúde da Criança: Aleitamento Materno e Alimentação Complementar”.
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Referências
Carla Iaconelli, médica ginecologista especialista em Reprodução Humana - CRM 124292, SP
Carolina Curci, ginecologista e obstetra - CRM 111858, SP