Médico infectologista do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, professor do curso de Medicina da UNAERP Guarujá e direto...
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Marcelo Otsuka é Mestre em Pediatria pela Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), Vice Presidente do Departamento de Infectol...
iO que é Marburg?
Marburg é um vírus da mesma família que o Ebola e que causa uma infecção caracterizada por febre hemorrágica e dor muscular, chamada doença do vírus Marburg (DVM). Apesar de rara, a doença possui alta letalidade, podendo chegar a uma taxa de 88%, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O vírus Marburg tem origem animal e pode ser transmitido, principalmente, por morcegos ou de pessoa para pessoa através da pele ou da mucosa. A infecção também pode afetar primatas não humanos, como macacos, lêmures, lóris e tarsos.
Quando surgiu o vírus Marburg?
O vírus Marburg foi reconhecido pela primeira vez em 1967, quando surtos de febre hemorrágica aconteceram, simultaneamente, em laboratórios de Frankfurt e Marburg, na Alemanha, e em Belgrado, na antiga Iugolásvia e atual Sérvia. Os primeiros infectados haviam sido expostos a macacos verdes africanos, importados de Uganda, e a seus tecidos durante a realização de pesquisas. Desde então, todas as infecções humanas ocorreram no continente africano.
No dia 13 de fevereiro de 2023, a OMS confirmou o surto do vírus Marburg na Guiné Equatorial, que provocou a morte de nove pessoas até o dia 14 do mesmo mês, obrigando o país a declarar estado de alerta sanitário. Até o momento, as autoridades de saúde locais relataram 16 casos suspeitos, dos quais 14 são assintomáticos e dois apresentam sintomas leves.
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Vírus Marburg pode virar pandemia?
Três anos depois do início da pandemia da COVID-19, a confirmação do surto de um novo vírus pode ser preocupante e assustadora. Mas para Leonardo Weissmann, médico infectologista do Instituto Emílio Ribas e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), não há motivo para pânico por ora. “Surtos anteriores [de Marburg] não viraram pandemia. Em 2022, foi notificado um surto em Gana. Na época, a OMS avaliou os riscos de transmissão como alta para dentro do país, moderada para a região e baixa em nível mundial”, afirma.
O infectologista pediátrico Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da SBI, concorda. “A chance de evoluir como uma epidemia é muito pequena. É uma doença que pode ser facilmente controlada a partir do momento que se identifica quem está contaminado e se isole as pessoas que vêm dessas áreas. Esse é o cuidado que deve ser tomado”, finaliza.
Causas
O vírus Marburg é transmitido para os humanos através do contato com animais infectados ou com seus fluidos, como fezes e urina. É o caso de morcegos e macacos, principalmente. Porém, a transmissão também pode acontecer entre uma pessoa e outra, através do contato pele com pele, com mucosas ou outros fluidos corporais, como urina, saliva, suor, fezes, vômito, leite materno, líquido amniótico e sêmen.
A doença não é transmitida pela respiração, como acontece com o coronavírus e com o influenza, por exemplo. “A transmissão não é respiratória. Os casos são relacionados à exposição a animais contaminados, principalmente através da manipulação ou ingestão de carnes contaminadas. Então, essa transmissão é muito diferente do coronavírus e, por isso, é mais difícil, mas existe uma alta infectividade através desse contato”, explica Marcelo.
Sintomas
Os sintomas do vírus Marburg são muito semelhantes aos sintomas do Ebola, já que pertencem à mesma família: os filovírus. O período de incubação é de dois a 21 dias e, após esse período, a manifestação da doença é súbita.
Os principais sintomas de Marburg são:
- Febre de início súbito;
- Calafrios;
- Dor de cabeça intensa;
- Dor muscular;
- Mal-estar geral;
- Fraqueza;
- Apetite reduzido;
- Manchas vermelhas na pele;
- Náusea e vômitos;
- Cólica abdominal;
- Diarreia aquosa.
Em casos mais graves, os pacientes podem apresentar sangramentos intensos. “É uma doença hemorrágica, então há o extravasamento dos vasos e são sangramentos muito importantes, muito intensos”, afirma o infectologista Marcelo.
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De acordo com o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, os sintomas podem incluir icterícia, inflamação do pâncreas, perda de peso grave, delírio, insuficiência hepática e disfunção múltipla dos órgãos. É nesse momento que a doença pode se tornar fatal.
Diagnóstico
O diagnóstico clínico da doença do vírus de Marburg pode ser difícil, já que muitos de seus sintomas são semelhantes aos de outras doenças infecciosas, como malária, febre tifoide ou dengue, além do próprio Ebola e da febre de Lassa, que são endêmicas no continente africano. Ao apresentar os sinais iniciais da doença, o paciente deve ser isolado e amostras de sangue devem ser coletadas e testadas para confirmar o diagnóstico.
De acordo com Leonardo Weissmann, o diagnóstico de Marburg pode ser feito através de exame de sangue, por meio de testes para a detecção do material genético do vírus (PCR) ou de testes sorológicos, para a identificação de anticorpos.
Tratamento
Atualmente, não existe tratamento para o Marburg que inclua medicamentos antivirais. “Não há tratamentos antivirais aprovados para a doença. Produtos derivados do sangue, terapia imunológicas e terapias medicamentosas estão em desenvolvimento”, afirma Leonardo.
Com a confirmação do diagnóstico, o tratamento da doença de Marburg deve ser de suporte. Ou seja, trata-se de uma terapia que visa reduzir a mortalidade relacionada à doença através das ferramentas já disponíveis. Isso inclui hidratação, controle da pressão arterial e da oxigenação do paciente, reposição de sangue perdido através das hemorragias e tratamento de possíveis infecções secundárias.
Tem cura?
A doença do vírus Marburg é autolimitada, ou seja, após o período de incubação do vírus e o controle da doença, ela se cura. “Cuidados de suporte, como reidratação com fluidos orais ou intravenosos, e tratamento dos sintomas melhoram a sobrevida”, diz o infectologista Leonardo.
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Prevenção
Ainda não existem vacinas aprovadas para a prevenção do Marburg. “Dois imunizantes aprovados contra o Ebola estão sendo estudados atualmente como uma forma de proteger contra o Marburg”, afirma o especialista.
Além disso, a prevenção da transmissão de animais silvestres para pessoas continua sendo estudada. No geral, evitar morcegos frugívoros e primatas não humanos com potencial de estarem infectados pode ser uma forma de evitar o Marburg.
Já em relação ao contato de pessoa para pessoa, as medidas preventivas podem ser semelhantes às usadas para outras febres hemorrágicas, como:
- Isolamento da pessoa com suspeita de infecção por vírus Marburg;
- Uso de aventais, luvas e máscaras de proteção pelos profissionais de saúde que entrarão em contato com o paciente;
- Esterilização ou descarte adequado de agulhas, equipamentos e excreções de pacientes.
Complicações possíveis
A doença do vírus Marburg possui uma taxa de letalidade muito alta. De acordo com a OMS, o índice de mortalidade variou de 24% a 88% em surtos anteriores. “Um estudo demonstrou que a proteína do vírus bloqueia o sistema imunológico humano, permitindo que o vírus cresça sem controle, sobrecarregando a capacidade do paciente de desenvolver uma defesa eficaz”, explica Leonardo.
A infecção pode levar à icterícia, inflamação do pâncreas, insuficiência hepática e à falência múltipla dos órgãos.
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Referências
Dr. Leonardo Weissmann - Médico infectologista do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo - CRM 101100/SP;
Dr. Marcelo Otsuka - Vice Presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) - CRM 72528/SP;