Médico infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, graduado em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIF...
iManuela Pagan é jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (2014) e em fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2008).
iO que é Ebola?
Ebola é uma doença causada por um vírus de mesmo nome, pertencente à família Filoviridae, cujo principal sintoma é a febre hemorrágica, que causa sangramentos em órgãos internos — por esse motivo, o quadro chegou a ser conhecido anteriormente como “Febre Hemorrágica Ebola”. O vírus é nativo da África, onde surtos esporádicos ocorrem desde a década de 1970, quando foi descoberto.
Trata-se de uma doença grave e muitas vezes fatal, com uma taxa de letalidade de até 90%, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). O Ebola é transmitido pelo contato direto com o sangue, fluidos corporais e tecidos de animais ou pessoas infectadas.
Durante o surto da doença, as pessoas com maior risco de infecção são os profissionais de saúde, familiares e outros indivíduos em contato próximo com pessoas doentes e mesmo com pacientes falecidos. Como os primeiros sintomas a aparecer (como febre, dor muscular e dor de garganta) são inespecíficos, ou seja, podem ser facilmente confundidos com outras doenças, a transmissão pode ocorrer antes mesmo de o diagnóstico ser feito.
Os primeiros registros do vírus Ebola foram encontrados em macacos, chimpanzés e outros primatas não-humanos que vivem na África. Uma cepa mais branda de Ebola foi descoberta em macacos e porcos nas Filipinas — no entanto, o vírus das Filipinas não causa doença em humanos. A doença recebe esse nome por causa do rio Ebola, na República Democrática do Congo, onde o vírus foi encontrado pela primeira vez.
Causas
A causa da ebola é o vírus de mesmo nome, que pertence ao gênero Ebolavirus. As evidências científicas mostram que morcegos são seus hospedeiros prováveis, mas outros animais selvagens, como macacos e roedores, também podem ser infectados.
Hoje, o que se acredita é que o morcego é o hospedeiro provável por transmitir o vírus para outros animais. Nele, o vírus não provoca doença. Mas uma fruta meio comida por um morcego e encontrada por outro animal já pode transmitir a doença. Macacos, antílopes e porcos-espinho também são afetados pelo Ebola. É possível entrar em contato com o vírus visitando lugares com infestação de morcegos (como minas e cavernas) ou manipulando o tecido de algum animal morto pelo Ebola.
Transmissão
É possível contrair o micro-organismo por meio do contato direto com os fluidos corporais de um animal ou humano infectados, como sangue, saliva, sêmen, vômito, urina ou fezes.
Saiba mais: Sete dicas seguras para baixar a febre
Há alguma evidência de que a transmissão do Ebola pode acontecer através do ar entre primatas não-humanos, como de macaco para macaco. Nenhum estudo definitivo provou isso, entretanto.
A pessoa infectada normalmente não se torna contagiosa até que desenvolva sintomas. Os membros da família são frequentemente infectados ao cuidar de parentes doentes ou mortos, assim como os profissionais de saúde podem entrar em contato com o vírus se não usarem equipamentos de proteção, como máscaras cirúrgicas e luvas. O vírus não é altamente transmissível, basta diagnosticar o paciente e isolá-lo.
Tipos
Existem seis subtipos do vírus Ebola. Sendo que os cinco mais conhecidos são:
- Ebola-Zaire
- Ebola-Sudão
- Ebola-Tai Forest
- Ebola-Bundibugyo
- Ebola-Reston.
Todos estes subtipos são encontrados na África, exceto o Ebola-Reston, que é encontrado somente nas Filipinas. O vírus Ebola-Reston também é o subtipo que não causa doenças em seres humanos, uma vez que afeta apenas animais, assim como um sexto tipo, o Bombali, recentemente descoberto.
Sintomas
Pessoas expostas ao vírus Ebola podem começar a apresentar sintomas entre dois e 21 dias após o contato com a doença, que tem início rápido. Os sintomas de ebola iniciais se assemelham aos de uma infecção comum da gripe. Eles são:
- Febre
- Dor de cabeça
- Garganta inflamada
- Dor articular e muscular
- Fraqueza.
Conforme a ebola progride, os sintomas podem tornar-se mais graves. Sintomas de ebola em estágio final podem incluir:
- Vômitos
- Diarreia
- Vermelhidão nos olhos
- Inchaço dos genitais
- Hemorragia interna e externa (alguns pacientes podem ter sangue saindo de seus olhos, nariz, boca, orelhas ou intestino reto)
- Erupção ou hemorragia ao longo da pele e mucosas.
Diagnóstico
Pode ser difícil dizer se uma pessoa tem ebola analisando somente os sintomas, já que eles não são específicos e podem ser confundidos com outras doenças. A equipe médica pode inicialmente realizar testes para outras doenças que têm os mesmos sintomas de ebola, tais como:
Se houver suspeita de ebola, a equipe médica pode fazer um exame específico para identificar rapidamente o vírus, o ensaio imunoenzimático (ELISA), que detecta a presença de anticorpos relacionados à doença em amostras de sangue.
Pessoas diagnosticadas com ebola devem ser isoladas imediatamente para ajudar a prevenir a propagação do vírus. Profissionais de saúde e outras pessoas que entrem em contato com o doente devem usar equipamento de proteção, como luvas, toucas e máscaras.
Fatores de risco
Para a maioria das pessoas, o risco de contrair ebola é muito baixo, pois os surtos costumam ser localizados em determinadas regiões da África. No entanto, as chances aumentam se você:
- Visita áreas nas quais há surto de ebola e;
- Realiza pesquisas em animais, principalmente primatas originários da África ou Filipinas
- Fornece assistência médica ou pessoal para pessoas infectadas
- Prepara pessoas infectadas para o enterro, uma vez que os corpos das pessoas contaminadas ainda podem transmitir a doença.
Buscando ajuda médica
Pessoas que viajaram para áreas de risco e tiveram contato direto com fluidos corporais de uma pessoa ou animal infectado devem buscar ajuda médica tão logo os sintomas aparecerem.
O especialista mais indicado para diagnosticar ebola é o infectologista, e centros de referência em doenças infecto-contagiosas podem ser de grande ajuda. O médico clínico-geral e a equipe de enfermagem também podem dar suporte em situações como esta.
O que você pode fazer
Antes da consulta, para ajudar o médico a encontrar a causa de seus sintomas, escreva uma lista que responde às seguintes questões:
- Quais os sintomas que você tem? Quando começaram?
- Você recentemente viajou para a África? Se sim, qual parte?
- Se você esteve recentemente na África, entrou em contato com macacos?
- Você recentemente visitou cavernas ou minas subterrâneas na África?
- Você está empregado em um laboratório que utiliza macacos provenientes da África ou das Filipinas em pesquisa?
- Se possível, leve um familiar ou amigo com você. Às vezes pode ser difícil de lembrar todas as informações fornecidas a você no hospital ou durante uma consulta. Alguém que te acompanha pode se lembrar de algo que você perdeu ou esqueceu.
Tratamento
Em 2022, pela primeira vez, a Organização Mundial da Saúde passou a recomendar dois tratamentos para ebola. Ambos são medicações baseadas em anticorpos monoclonais e desenvolvidos especificamente para a doença: o REGN-EB3 e o mAb-114.
Um estudo publicado pelo The New England Journal of Medicine mostrou que a taxa de mortalidade com o uso do mAb-114 em casos de ebola foi de 35%, e de 51% no caso do REGN-EB3, números que mostram um impacto positivo quando comparados à mortalidade originalmente de 90% em decorrência da doença.
Além deles, são empregados tratamentos que visam aliviar os sintomas, como:
- Oxigenoterapia para manter estável o nível de oxigenação do sangue
- Reposição de fluidos intravenosos para manter a hidratação
- Transfusões de sangue para repor perdas hemorrágicas
- Medicamentos para tratar choques — que ocorrem, por exemplo, quando a perda de grande volume de sangue prejudica drasticamente a circulação e põe em risco a vida
- Analgésicos.
Prevenção
As seguintes precauções podem ajudar a prevenir a infecção e disseminação do vírus Ebola:
Vacina contra Ebola
Atualmente já existe uma vacina contra Ebola, a Ervebo, que protege contra o subtipo de Ebola do Zaire e possui um gene viral, e não o gene completo. A imunização pode ser aplicada em pessoas com mais de 18 anos e já é regulamentada nos Estados Unidos e na União Europeia.
Evite áreas de surtos
Antes de viajar para a África, saiba mais sobre as epidemias atuais e converse com um médico sobre os possíveis riscos.
Lave as mãos com frequência
Tal como acontece com outras doenças infecciosas, uma das medidas preventivas mais importantes é lavar as mãos frequentemente. Use água e sabão ou álcool em gel 70% quando sabão e água não estiverem disponíveis. Essas medidas devem ser tomadas principalmente para pessoas em áreas de risco.
Evite o contato com pessoas infectadas
Cuidadores e profissionais de saúde devem evitar o contato com fluidos e tecidos do corpo da pessoa infectada, incluindo sangue, sêmen, secreções vaginais e saliva. Pessoas com ebola são mais contagiosas nos estágios mais avançados da doença. Para interagir com o paciente, o ideal é usar luvas, máscaras, aventais e protetores oculares.
Pessoas infectadas devem ser isoladas das outras. Agulhas utilizadas devem ser descartadas e os instrumentos esterilizados.
Não manusear corpos de pessoas infectadas
Os corpos das pessoas que morreram de ebola ainda são contagiosos. Equipes organizadas e treinadas devem enterrar os corpos, usando equipamento de segurança apropriado.
Complicações possíveis
Conforme a ebola progride, pode causar:
- Falência múltipla de órgãos
- Hemorragia grave
- Icterícia
- Delírio
- Convulsões
- Coma
- Choque.
Para as pessoas que sobrevivem, a recuperação pode ser lenta e levar meses. Além disso, o vírus pode permanecer no organismo durante semanas. As pessoas podem ter:
- Perda de cabelo
- Alterações sensoriais
- Inflamação do fígado (hepatite)
- Fraqueza
- Fadiga
- Dores de cabeça
- Inflamação dos olhos
- Inflamação testicular.
Referências
Ministério da Saúde
Organização Mundial da Saúde
A Randomized, Controlled Trial of Ebola Virus Disease Therapeutics. New England Journal of Medicine. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejmoa1910993
Neutralizing monoclonal antibody cocktail REGN-EB3 for Ebola virus disease (EVD). Organização Mundial da Saúde. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/WHO-EVD-therapeutics-REGN-EB3-Poster_A-2022.1
Ervebo (Vacina contra o Ébola Zaire [rVSV∆G-ZEBOV-GP,viva]). Agência Europeia de Medicamentos. Disponível em: https://www.ema.europa.eu/en/documents/overview/ervebo-epar-medicine-overview_pt.pdf