Carla Cecarello formou-se em psicologia pela universidade São Marcos e especializou-se em sexualidade humana pelo instit...
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O que é Ninfomania?
Você provavelmente já assistiu ou ouviu falar no filme "Ninfomaníaca". Ele retrata a história de Joe, uma mulher que convive com um transtorno de hipersexualidade, chamado de ninfomania.
Ao decorrer do longa-metragem, vemos a personagem passar por situações extremas para satisfazer seu desejo por sexo. O problema é que, por mais que ela transe com diversos parceiros, ela não encontra satisfação, e precisa embarcar em uma odisseia sexual a fim de cessar uma necessidade inquietante.
Apesar de ser uma história fictícia, esta é a realidade de muitos homens e mulheres que sofrem com o vício em sexo. A condição pode ser interpretada como um desvio de caráter para alguns, mas, na verdade, trata-se de uma compulsão que coloca nossa saúde física e emocional em risco.
Da mesma forma que podemos ter compulsões por bebidas, comidas ou compras, também é possível ter a compulsão por sexo, chamada de ninfomania. De acordo com o Código Internacional de Doenças (CID-10), a condição não está relacionada à produção de hormônios sexuais.
Portanto, não existem razões biológicas para explicar o comportamento. De acordo com o psiquiatra Arnaldo Barbieri, não basta gostar muito de sexo para ser considerado uma ninfomaníaca.
Ninfomania para homens e mulheres
A ninfomania representa um distúrbio de hipersexualidade, ou uma compulsão sexual. O termo vem de "ninfa" e se refere à mulheres. No caso dos homens, o vício em sexo pode ser chamado de satiríase.
Gostar muito de sexo x ser ninfomaníaca (o)
O desejo sexual se transforma em um transtorno de hipersexualidade quando é possível perceber que estamos sofrendo e tendo nossas vidas social, profissional e sentimental prejudicadas.
"Quando gostamos muito de sexo, a dependência não existe. Podemos querer a prática várias vezes na semana, mas caso isso não aconteça, não há problemas. Não é algo que pode causar uma depressão ou um alto índice de ansiedade", explica a sexóloga Carla Cecarello.
Causas
1. Traumas na infância
Segundo Carla, a ninfomania pode ter suas raízes na infância. Quando a criança é vítima de agressões físicas e emocionais, o sexo pode se tornar uma forma de aliviar os traumas na fase adulta. A prática começa a ser a maior fonte de bem-estar do compulsivo, não sendo possível viver sem.
2. Distúrbios psicológicos e medos
A psicóloga Milena Lhano aponta que a ninfomania pode ser originada por transtornos psicológicos. Temores, vícios e distúrbios emocionais fazem parte do mesmo ciclo. Portanto, um medo pode estar associado a uma compulsão e ambos podem estar sendo gerados por doenças maiores.
Um exemplo disso é o medo da solidão: a sensação de isolamento pode fazer com que nós busquemos diversos parceiros sexuais. Mas, por trás do estar solitário, pode existir um transtorno maior, como a depressão, que nos faz adotar comportamentos que preencham nossos vazios.
Arnaldo Barbieri afirma que outras doenças, como o Transtorno Bipolar (em sua fase maníaca) e TDAH, também podem instigar a ninfomania. Porém, é importante lembrar que o quadro pode ocorrer em pessoas sem outros distúrbios psiquiátricos.
Saiba mais: Psicoterapia: O que é, quais são os tipos e quando devo procurar?
Sintomas
De acordo com Carla Cecarello, os sintomas mais comuns da ninfomania podem incluir:
- Ansiedade elevada ao pensar em sexo
- Impossibilidade de manter uma relação monogâmica
- Trair o parceiro constantemente para satisfazer os desejos sexuais
- Gasto prejudicial em itens e experiências sexuais
- Passar mais de 12 horas diárias em sites pornográficos
- Consumir pornografia ou se masturbar no local de trabalho
- Perder a concentração nas tarefas diárias por estar pensando em sexo.
Sentir a necessidade de algo e não poder corresponder esse desejo é doloroso. Agora imagine isso acontecendo diariamente. É possível perceber que viveríamos em um ciclo de constante frustração e tristeza. E é exatamente dessa maneira que os viciados em sexo passam a maior parte de seus dias.
Em suas buscas constantes por um prazer inalcançável, quem convive com essa condição acaba tendo crises de ansiedade, pânico e depressão. De acordo com Milena Lhano, em seus estágios mais graves, a ninfomania também gera comportamentos e pensamentos obsessivos, que podem levar até mesmo ao suicídio.
"Na crise de compulsão sexual, a pessoa se masturba ou tem relações sexuais excessivamente, e mesmo assim não se sente saciada. Tudo isso traz picos alternados de prazer e culpa, que aumentam ainda mais a ansiedade de quem está vivendo a situação", explica a especialista.
Ninfomania e relacionamentos
Assim como qualquer outro vício, a ninfomania pode ser despertada em situações e ambientes aleatórios. Com isso, o(a) ninfomaníaco(a) começa a notar problemas constantes em seus relacionamentos pessoais, e também em seu desempenho profissional.
"Não é impossível que uma pessoa com ninfomania possa manter um relacionamento. Entretanto, ele será conflituoso, e repleto de insatisfações", diz Milena. Isso acontece porque quem tem vício em sexo estará sempre querendo mais, e seu parceiro sentirá uma grande cobrança para corresponder aos desejos do outro.
Ninfomania e vida profissional
Em âmbito profissional, as consequências também são notáveis. "A pessoa não consegue mais se concentrar em suas tarefas, porque só é capaz de pensar em transar. Com isso, ela acaba indo ao banheiro diversas vezes para se masturbar, e não consegue mais dar atenção às suas obrigações", esclarece a especialista.
As amizades e os laços familiares também vão sendo enfraquecidos aos poucos, porque a ninfomania não permite que consigamos relaxar durante eventos sociais. O desejo sexual constante faz com que precisemos nos engajar em encontros sexuais diariamente, o que reduz o espaço em nossa rotina para focarmos em relacionamentos pessoais.
Ninfomania e saúde sexual
O número elevado de transas também aumenta as chances de ter relações desprotegidas e contrair infecções sexualmente transmissíveis. Em casos mais extremos, as vítimas da condição recorrem à prostituição para corresponder o vício.
Diagnóstico
Por mais que o termo "ninfomaníaca" esteja se referindo a mulheres, também é possível que homens sofram com a compulsão sexual. E o que caracteriza o vício é a impossibilidade de controlar os próprios impulsos.
Acompanhado do descontrole, existe a insatisfação constante. Não importa o quanto você transar, o prazer nunca será atingido. E por mais que exista um contentamento após o sexo, ele não dura por muito tempo, já que quem tem vício se sente culpado por sua rotina sexual.
Outros comportamentos também podem servir como um alerta para a ninfomania. Veja a seguir:
1. Masturbação excessiva
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a masturbação pode ser um indicativo de hiperssexualidade quando acontece diariamente, em pelo menos três períodos do dia. "A prática começa a ser encarada como uma maneira de aliviar tensões. Fica impossível ir trabalhar ou dormir sem se masturbar", alerta Carla.
2. Consumo exagerado de pornografia e sexo virtual
A compulsão sexual também pode ser manifestada em ambiente virtual. Pessoas que não têm a possibilidade de ter encontros sexuais físicos podem criar uma relação de dependência com sites pornográficos. Com isso, seus relacionamentos começam a ser prejudicados, pois a pessoa passa a maior parte do tempo em casa, consumindo conteúdo erótico.
Tratamento
Acoplado ao trabalho do psicólogo, o psiquiatra engloba remédios na rotina do paciente, que reduzem o vício em sexo gradativamente. "A psiquiatria diminui os sintomas, e a psicoterapia encontra as causas. O tratamento não cura, mas controla os impulsos sexuais de uma maneira muito eficaz", esclarece Carla.
A sexóloga não recomenda que as pessoas tentem se curar sozinhas, apenas com autocontrole. Por mais que seja difícil falar sobre a situação com um psicólogo e/ou psiquiatra, a participação destes especialistas é imprescindível.
No momento de entrar no consultório, pense que você está ali para lutar pelo seu bem-estar, e para recuperar sua qualidade de vida. Não há vergonha em cuidar de si mesmo. Não se esqueça de que a pessoa que irá atender você será imparcial, e nunca julgará sua condição.
Comportamentos que não caracterizam a ninfomania
Ter fantasias sexuais com estranhos e conhecidos, mesmo que constantemente, não é um indicativo de ninfomania. De acordo com Carla Cecarello, quem está em um relacionamento e idealiza situações eróticas com outros, pode estar insatisfeito com a realidade atual, e ter o desejo de embarcar em novas aventuras.
Para quem está solteiro, a fantasia pode estar sinalizando a vontade de ter mais liberdade sexual, ou então, apenas uma simples atração. Não há problemas em se imaginar transando com alguém. O hábito só deve ser repensado quando prejudica nossa concentração, e consequentemente, afeta a rotina.
Outro fator de confusão pode ser a falta de prazer. Existem pessoas que mantém uma vida sexual ativa, e mesmo assim, não sentem prazer na maioria, ou em todas as suas transas. Mas este fato isolado não indica compulsão sexual.
"A falta de prazer pode estar relacionada a uma insatisfação pessoal, que pode ter origem em decepções amorosas sofridas", exemplifica Carla. Outros fatores para a falta de libido podem ser baixa autoestima, traumas do passado e desconforto durante o sexo. Para entender mais sobre o que pode estar prejudicando sua vida sexual, veja nossa matéria sobre o assunto.
Saiba mais: Ciência revela quais são as 6 fantasias sexuais mais comuns
Mais Sobre
Famosos viciados em sexo
Terry Crews, ator
Famoso por seus personagens no seriado "Todo Mundo Odeia o Cris" e no filme "As Branquelas", Terry Crews revelou em suas redes sociais, em 2016, sofrer com hipersexualidade.
O ator informou que tem compulsão por pornografia e sexo desde os 12 anos. Em um relato, Terry afirmou que o vício quase acabou com seu casamento, pois chegou a ficar temporariamente separado de sua mulher devido a horas assistindo a filmes pornô.
Cleo Pires, atriz e cantora
A atriz brasileira Cleo Pires anunciou em entrevista que também sofre com vício em sexo. Assim como Terry Crews, ela disse ter compulsão por vídeos pornográficos e que também teve diversos companheiros e companheiras sexuais na vida.
Britney Spears, cantora
Rumores sobre a compulsão sexual de Britney Spears surgiram quando seu antigo guarda-costas publicou uma biografia da cantora, em que ressalta seu enorme apetite sexual e desejo por orgias.
A compulsão foi confirmada por seu ex-namorado, Kevin Federline, e pela própria artista pop. Em 2007, Britney confessou seu vício em sexo e atualmente luta contra o transtorno, que ela diz estar associado a distúrbios de euforia que a levam a comportamentos ninfomaníacos.
Robert Downey Jr., ator
Protagonista de "Homem de Ferro" e uma das celebridades mais bem pagas do mundo, Robert Downey Jr. teve seu vício em sexo divulgado por paparazzis na década de 90.
O ator via a compulsão sexual com bons olhos, pois dizia que o comportamento evitava com que se afogasse em álcool e drogas ilícitas.
Ele também já afirmou que nunca fez tratamento e se curou da hipersexualidade a partir do amor, ao se casar em 2005 com sua atual esposa, Susan.
Charlie Sheen, ator
Estrela da série "Two and a Half Men", Charlie Sheen assumiu publicamente seu vício em sexo, revelando que teve relações sexuais com mais de cinco mil mulheres.
A hipersexualidade do ator resultou em negligência com cuidados pessoais, fazendo com que ele se tornasse portador do vírus HIV.
Kanye West, cantor
O rapper Kanye West, marido da socialite Kim Kardashian, divulgou que necessita fazer sexo por, no mínimo, quatro vezes antes de dormir. Caso contrário, fica perturbado, inquieto e com insônia.
A situação o deixa insatisfeito, pois na maioria das vezes não sente prazer durante o ato repetitivo.
Kim Cattrall, atriz
Conhecida por interpretar a personagem Samantha Jones em "Sex and The City", Kim Cattrall chegou a romper casamentos devido à compulsão por sexo.
Diante dos divórcios, a atriz anunciou que seus parceiros a frustravam quanto ao desempenho sexual, pois seu desejo era incontrolável.
Michael Douglas, ator
Ganhador do Oscar de melhor ator pelo filme "Wall Street", Michael Douglas foi uma das primeiras figuras públicas a declarar o vício em sexo.
Em 2000, sua esposa pediu o divórcio devido às muitas infidelidades do ator e sua irresponsabilidade em fazer sexo nos intervalos das gravações de filmes.
Foi internado diversas vezes em clínicas especializadas em tratamento para hipersexualidade.
No ano de 2013, declarou que sofria de câncer de garganta devido à sua compulsão por sexo oral. Atualmente, o ator se disse curado do câncer e da dependência sexual.