Médico geneticista, atuante em Neurogenética e Neuroimunologia. Graduado em Medicina pela Universidade Estácio de Sá (UN...
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Médica geneticista, residência médica em genética medica pelo instituto Fernandes figueira. Título de especialista pela...
iO que é Porfiria?
As porfirias são um grupo de doenças genéticas que afetam o metabolismo e causam alterações na pele ou no sistema nervoso. Elas são caracterizadas pelo acúmulo de porfirinas no organismo, substâncias que estão presentes na hemoglobina.
Existem dois tipos de porfirias: as hereditárias e as adquiridas. “A única porfiria adquirida é uma forma de porfiria cutânea tarda. As outras são consideradas formas hereditárias”, explica a médica geneticista Maria Angelica de Lima, da UniRio.
Ainda de acordo com a geneticista, as porfirias são consideradas doenças raras, já que têm uma incidência muito baixa - com proporções de um a cinco casos a cada 100 mil brasileiros, segundo a Associação Brasileira de Porfiria (ABRAPO).
Causas
As porfirias são, na maioria das vezes, resultado de uma mutação genética herdada do pai ou da mãe em um dos genes envolvidos na produção de heme. No entanto, herdar os genes para porfiria não significa, necessariamente, que a pessoa desenvolverá os sinais e sintomas típicos da doença. É o caso da porfiria latente.
Porém, em casos de porfiria adquirida, como a porfiria cutânea tardia, fatores ambientais também podem desencadear os sintomas, como doenças hepáticas, alcoolismo, tabagismo e infecção pelo vírus da hepatite ou HIV.
Tipos
Existem diferentes tipos de porfirias. Eles são classificados de acordo com as deficiências enzimáticas específicas no processo de síntese de heme. A primeira classificação diz respeito à sua origem: hereditária ou adquirida.
Como o heme é produzido na medula óssea (para a produção de hemoglobina) no fígado (como componente do citocromos, proteína responsável pelo transporte de elétrons), esse conjunto de doenças também pode ser classificado em porfiria eritropoética ou em porfiria hepática, respectivamente.
Outra forma de classificação divide as porfirias em aguda e cutânea, com sinais e sintomas específicos para cada uma delas.
Sintomas
Há duas categorias gerais de porfiria: aguda, que afeta principalmente o sistema nervoso, e cutânea, que afeta principalmente a pele. Existem ainda alguns tipos de porfiria que podem apresentar problemas tanto no sistema nervoso quanto na pele.
Porfirias agudas
As crises de porfiria aguda são raras antes da puberdade e após a menopausa, e os sintomas podem durar uma ou duas semanas e, em seguida, melhorar lentamente. Mas é importante ter cuidado, pois eles costumam aparecer rapidamente e podem ser fatais. Os principais sintomas de porfirias agudas são:
- Dor abdominal intensa
- Distensão abdominal
- Dor no peito, nas pernas ou nas costas
- Prisão de ventre ou diarreia
- Vômitos
- Insônia
- Palpitações no coração
- Pressão alta
- Ansiedade ou agitação
- Convulsões
- Alterações mentais, como confusão, alucinações, desorientação ou paranoia
- Problemas respiratórios
- Dor muscular, fraqueza, paralisia ou dormência e formigamento
- Urina com cor anormal, geralmente vermelha ou marrom
Porfirias cutâneas
Estas incluem formas da doença que causam sintomas de pele como resultado de hipersensibilidade à luz solar. Este tipo de porfiria não costuma causar danos ao sistema nervoso e suas crises podem durar vários dias. Em geral, os sinais e sintomas podem ter início durante a infância ou a adolescência. Eles são:
- Sensibilidade ao sol e, às vezes, à luz artificial também, podendo causar dor ou sensação de ardor e queimação
- Vermelhidão repentina e dolorosa da pele (eritema), com ocorrência de inchaços (edema)
- Surgimento de bolhas que podem levar semanas para cicatrizar
- Coceira
- Pele frágil
- Cicatrizes ou alterações da cor da pele
- Aumento no crescimento de cabelo
- Urina de cor anormal, geralmente vermelha ou marrom
Diagnóstico
De modo geral, o diagnóstico de porfirias tende a ser complexo, pois exige diversos exames. Após a suspeita clínica, com base no que o paciente sente e nos sinais que apresenta, é necessário realizar alguns exames laboratoriais, como de sangue, de urina e de fezes.
“Esses exames avaliam a presença de substâncias que se acumulam no corpo do paciente que tem porfiria. São exames muito específicos, com cuidados em sua coleta e realização, como, por exemplo, proteção do frasco para evitar exposição à luz, pois a exposição do material coletado à luz pode comprometer o resultado e atrasar o diagnóstico”, ressalta Thiago Oliveira, médico geneticista no Hospital Mãe de Deus e pesquisador no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
O médico explica que também pode ser realizado exame genético, ou seja, de DNA, principalmente para os casos com forte suspeita e exames laboratoriais alterados. Isso possibilita a realização de aconselhamento genético, explicando ao paciente qual a chance de outros familiares - pais, irmãos, filhos - também terem porfiria.
“Após o diagnóstico, os pacientes devem ser encaminhados a um centro especializado em porfiria e a um médico geneticista com experiência na área. Cuidados interdisciplinares podem ser recomendados no tratamento”, explica Alexandre Lucidi, médico geneticista atuante em Neurogenética e Neuroimunologia.
Fatores de risco
Além dos riscos genéticos, alguns fatores externos também podem influenciar no surgimento de sintomas em alguns tipos de porfiria. Entre eles, a idade.
“Existem oito tipos da doença, divididos em porfirias agudas e porfirias cutâneas. Os episódios de dor abdominal, desorientação, fraqueza muscular e crises convulsivas, que acontecem nas porfirias agudas, em geral ocorrem em mulheres em idade reprodutiva (após a primeira menstruação e antes da menopausa). Essa é a principal faixa etária de risco”, alerta o pesquisador.
Entretanto, o especialista conta que a condição pode acontecer também em meninas antes da primeira menstruação e após a menopausa, assim como em homens. As manifestações cutâneas podem aparecer em qualquer época da vida, inclusive nos primeiros meses de vida. “A porfiria cutânea mais comum, a porfiria cutânea tardia, costuma se iniciar aos 40-50 anos de idade”, completa.
Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar uma porfiria são:
- Clínico geral
- Geneticista
- Dermatologista
- Pediatra
- Hematologista.
Tratamento
O tratamento depende do tipo exato de porfiria e tem como principal objetivo aliviar os sintomas apresentados pelo paciente.
Porfirias agudas
O tratamento de porfirias agudas consiste em tratar os sintomas e prevenir possíveis complicações. A hospitalização pode ser necessária em casos graves. Mas, normalmente, o tratamento envolve:
- Interrupção dos medicamentos que possam estar desencadeando os sintomas
- Uso de medicação para controlar a dor, náuseas e vômitos
- Tratamento imediato de infecções ou de outras condições subjacentes que possam estar causando os sintomas
- Aplicação de glucose intravenosa ou por via oral, a fim de manter a ingestão adequada de carboidratos
- Uso de fluidos intravenosos para combater a desidratação
- Injeções de hemina, uma medicação que é uma forma de heme, para limitar a produção de porfirina pelo corpo
Porfirias cutâneas
O tratamento voltado para porfirias cutâneas é baseado em reduzir a exposição do paciente à luz solar e em reduzir a quantidade de porfirina no corpo, o que ajuda a eliminar os sintomas. Para isso, pode ser recomendado:
- Flebotomia, extração de sangue de uma veia, a fim de reduzir a quantidade de ferro e, consequentemente, diminuir as porfirinas produzidas
- Uso de determinados medicamentos, como os usados para tratar malária, capazes de absorver o excesso de porfirinas produzidas pelo corpo. Essa medicação é usada geralmente apenas em pessoas que não podem passar por flebotomia
- Prescrição com doses diárias de betacaroteno, que pode ajudar na proteção da pele contra a radiação solar e reduzir a Fotossensibilidade
- Reduzir ou eliminar possíveis fatores que desencadeiam os sintomas, como o uso de alguns medicamentos, exposição excessiva ao sol, tabagismo ou ingestão abusiva de álcool
- Consumo de maiores quantidades de vitamina D, às vezes por meio de suplementos
Tem cura?
As porfirias são doenças crônicas com sintomas intermitentes, ou seja, não possuem cura. Alguns tipos desta doença causam mais manifestações do que outros, e realizar o tratamento adequado, assim como evitar os fatores desencadeadores, pode ajudar a prolongar o período entre as crises de porfiria e melhorar significativamente a qualidade de vida do paciente.
Convivendo (Prognóstico)
Para conviver melhor com a porfiria, um paciente diagnosticado com a doença deve estar ciente de quais são os fatores que desencadeiam uma crise. Além disso, mudanças nos hábitos e no estilo de vida podem ser essenciais para o tratamento dos sintomas. Veja:
- Evite fazer uso de medicamentos conhecidos por desencadear crises de porfiria. Peça ao seu médico uma lista de remédios seguros e inseguros
- Não consuma bebidas alcóolicas ou drogas ilegais, mesmo para uso recreativo
- Evite jejum e dietas que envolvam a restrição severa de calorias (principalmente de carboidratos)
- Não fume
- Minimize ao máximo sua exposição ao sol. Procure usar sempre o filtro solar e usar roupas compridas para proteger as áreas mais vulneráveis
- Siga o tratamento de eventuais infecções ou outras doenças corretamente
- Procure reduzir o estresse emocional.
Complicações possíveis
As possíveis complicações decorrentes de porfiria incluem:
- Desidratação: em decorrência de vômitos recorrentes
- Dificuldades respiratórias: decorrentes da fraqueza muscular e de uma eventual paralisia muscular, que pode afetar até mesmo os músculos do pulmão, levando ao surgimento de problemas respiratórios. Se este sintoma não for devidamente tratado, podem levar à insuficiência respiratória
- Hiponatremia: a baixa quantidade de sódio presente no sangue
- Pressão arterial elevada: em decorrência do acúmulo de porfirina, que também pode danificar os rins e causar hipertensão no longo prazo
- Insuficiência renal crônica: o acúmulo de porfirina pode fazer com que os rins percam gradualmente a sua capacidade de funcionamento
- Danos ao fígado: algumas formas de porfiria podem provocar porfirinas em excesso no fígado, podendo causar danos hepáticos graves
- Danos permanentes à pele: quando a pele cicatriza após crises de porfiria cutânea, ela pode apresentar aparência e coloração permanentemente anormais.
Referências
Associação Brasileira de Porfiria
American Porphyrian Foundation
Genetics Home Reference
National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases
National Human Genome Research Institute
Mayo Clinic
Thiago Oliveira, médico geneticista no Hospital Mãe de Deus (Porto Alegre/RS) e pesquisador no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (Porto Alegre/RS)
Maria Angelica de Lima, médica geneticista da UniRio especialista em porfirias
Alexandre Lucidi, médico geneticista atuante em Neurogenética e Neuroimunologia