Formada em Medicina pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Patrícia Consorte fez especialização em Terapia Intens...
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Médica especialista em Ortopedia Infantil pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia da USP, membro titular da Sociedad...
iO que é Raquitismo?
O raquitismo é uma doença rara caracterizada pela redução da mineralização dos ossos devido à falta de vitamina D, cálcio e fósforo. Como ela atinge apenas a placa de crescimento ósseo, o seu grupo de risco é composto unicamente por crianças e adolescentes.
Diferença entre raquitismo e osteomalácia
A grande diferença está nas regiões que as doenças afetam. Em vez de acometer a placa de crescimento ósseo, a osteomalácia age em partes do osso que já estão completamente desenvolvidas (a cortical e a trabecular), podendo, portanto, acontecer em qualquer fase da vida, e não somente na infância e na adolescência.
As duas, contudo, têm as mesmas causas e sintomas e por isso frequentemente são confundidas.
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Causas
A causa mais comum de raquitismo é a falta de vitamina D e de cálcio. Como explica Patrícia Consorte, pediatra e especialista em nutrição materno-infantil: “A infância é um dos períodos de maior desenvolvimento e mineralização óssea, deixando as crianças muitos suscetíveis a déficits nutricionais”.
Em casos mais raros, a criança pode nascer com alterações genéticas ou com alguma outra condição (geralmente nos rins, fígado e intestino) que afetam o modo como as vitamina e os minerais são absorvidos pelo organismo.
Tipos
De acordo com a ortopedista pediátrica Natasha Voge, o raquitismo pode ser dividido em:
- Hipocalcêmico: quando há falta de vitamina D e cálcio no organismo;
-
Hipofosfatêmico: quando a deficiência nutricional é de fósforo.
Dentro desses grupos, ainda existem subdivisões internas, sendo o raquitismo nutricional ligado à baixa ingestão de nutrientes e o genético quando ele vem dos genes.
Sinais
Um dos sintomas mais famosos do raquitismo é a deformação dos ossos. Os locais em que ela mais aparece depende da idade da criança. Nas que já começaram a andar, por exemplo, é comum o aumento da curvatura normal das pernas.
“Em casos graves, conseguimos palpar uma espécie de nódulos nas extremidades dos ossos longos e junções, característicos de uma formação desorganizada das placas ósseas, chamado de rosário raquítico”, aponta Patrícia Consorte.
Além disso, conforme explica a pediatra, o raquitismo grave também pode levar ao atraso no fechamento da fontanela, conhecida como moleira, e a alterações nos ossos cranianos, chamados de craniotabes.
A doença ainda provoca muitas vezes:
- Atraso no crescimento;
- Convulsão;
-
Arritmia;
-
Contratura muscular;
-
Fraqueza muscular;
-
Enfraquecimento dos ossos, com aumento do risco de fraturas;
-
Dor óssea, especialmente na coluna vertebral, na pelve e nas pernas
Quando a causa é genética, tudo isso pode começar a aparecer no primeiro ano de vida da criança, se intensificando com o passar do tempo.
Diagnóstico
Como outras doenças, o raquitismo só pode ser diagnosticado por um médico. No consultório, ele vai investigar o histórico familiar, alimentar e de saúde dos pacientes, além de examinar os ossos para encontrar possíveis anormalidade, como:
- Ossos moles;
- Demora para o fechamento das fontanelas (pontos fracos do crânio);
- Pernas com curvatura exagerada;
- Pulsos e tornozelos mais grossos que o normal.
Exames de imagem, como os de raios x, podem ajudar o especialista a analisar a região com mais detalhes. Já se o intuito for verificar as taxas de cálcio, vitamina D, fósforo e outras substâncias no organismo, é possível que ele peça exames de sangue e urina.
“Níveis elevados de fosfatase alcalina, por exemplo, colaboram para o diagnóstico diferencial com outras doenças, além de guiar o tipo de deficiência nutricional envolvida na doença”, esclarece a pediatra Consorte.
É a junção de todas essas informações que vai confirmar e determinar qual é o tratamento mais adequado para cada caso, segundo Natasha Vogel.
Fatores de risco
Os fatores que podem aumentar o risco de uma criança sofrer raquitismo incluem:
- Idade, sendo que bebês de 3 a 36 meses de idade correm maior risco de raquitismo;
- Pele escura, pois ela não reage tão bem à luz do sol, por isso produz menos vitamina D;
- Moradia em áreas geográficas onde há menos luz solar;
- Nascimento prematuro;
- Medicamentos anticonvulsivos.
Buscando ajuda médica
É importante buscar ajuda médica se a criança apresentar qualquer um dos sintomas da doença para investigar a causa e iniciar o tratamento o mais rápido possível.
Os especialistas que podem diagnosticar raquitismo são:
- Clínico geral;
- Endocrinologista;
- Ortopedista;
- Pediatra.
Tratamento
O tratamento irá depender da deficiência nutricional a qual o raquitismo está ligado. Se ele for causado por insuficiência de vitamina D ou mesmo de cálcio ou fósforo, a reposição desses nutrientes pode ser feita a partir do:
- Aumento da ingestão de alimentos ricos em vitamina D, cálcio e fósforo;
- Aumento da exposição solar para estimular a síntese de vitamina D;
- Uso de suplementos alimentares;
-
Uso de injeções de vitamina D anualmente, caso não seja possível tomar suplementos por via oral ou haja alguma doença no intestino ou no fígado que dificulte a absorção de nutrientes nesses órgãos.
Nos casos de deformidades ósseas, ainda pode ser necessário usar uma espécie de cinta para os ossos crescerem no local correto ou passar por uma operação cirúrgica.
Além disso, quando a doença ocorre como uma complicação de outra condição médica, a causa inicial precisa ser tratada. Assim, se a pessoa desenvolveu raquitismo por conta de uma doença renal, a solução dos dois problemas pode ser a diálise.
No fim das contas, o objetivo principal é não só pausar o avanço da doença, mas também melhorar a qualidade de vida, a mobilidade e a dor do paciente.
Prevenção
Há várias medidas que podem ser tomadas para prevenir o raquitismo, sendo a maioria delas ligadas a uma mudança de estilo de vida.
Dieta
A manutenção de uma rotina alimentar saudável, equilibrada e com abundância de nutrientes e vitaminas essenciais, como cálcio e vitamina D, faz toda a diferença.
Para obter vitamina D pela alimentação, os especialistas indicam:
- Peixes oleosos, tais como salmão, sardinha e cavala;
- Ovos;
- Cereais matinais fortificados.
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Já para aumentar as taxas de cálcio é bom comer:
- Produtos lácteos, como leite, queijo e iogurte;
- Vegetais verdes, como brócolis e couve;
- Grãos de soja e tofu;
- Nozes;
- Sardinha.
Luz solar
É possível obter vitamina D a partir da alimentação, mas a sua principal forma de obtenção, na verdade, é a exposição solar.
Dessa forma, os médicos pedem que as crianças acima de seis meses tomem cerca de 30 minutos de sol por semana (algo entre seis e oito minutos por dia, três vezes por semana) usando apenas fralda. Abaixo dessa idade, o melhor é evitar o sol direto na pele.
Suplementos
Quem tem maior risco de ter falta de fósforo, cálcio ou vitamina D pode precisar de suplementação. Esse grupo inclui:
-
Crianças com dificuldade de absorver vitamina D e cálcio;
- Crianças de origem asiática, Africano-Caribe e Oriente Médio;
- Crianças que não podem ou não são expostas ao sol;
- Crianças que não comem carne ou peixes oleosos.
A ortopedista pediátrica Natasha Vogel, no entanto, faz um alerta: “A suplementação só deve ser feita com orientação médica, pois dosagens elevadas são capazes de provocar intoxicações”.
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Complicações possíveis
Se não tratado, o raquitismo pode colocar em risco a saúde e a qualidade de vida da criança, levando às seguintes complicações:
- Incapacidade de crescimento;
- Deformidades esqueléticas, incluindo na espinha;
- Problemas dentários, como a formação atrasada dos dentes.
Algumas delas, como a incapacidade de crescimento, muitas vezes são irreversíveis. É justamente por essa razão que o diagnóstico precoce e a aderência rápida ao tratamento são tão importantes.
Referências
Mayo Clinic
The National Health Service of England
Patricia Consorte, pediatra especialista em nutrição materno-infantil; CRM: 149570/SP
Natasha Vogel, médica subespecialista em ortopedia infantil; CRM: 150318/SP