Médico especialista em Pneumologia pela UFRJ e pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), especiali...
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O que é Síndrome do desconforto respiratório?
A síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), anteriormente chamada de síndrome da angústia respiratória aguda, é uma condição clínica grave. Ela é caracterizada por insuficiência respiratória devido à intensa resposta inflamatória pulmonar, que ocorre frente a agressores como infecções bacterianas e virais, além da inalação de substâncias tóxicas.
Segundo o médico pneumologista Gleison Marinho Guimarães, a síndrome pode resultar de várias doenças que causam o acúmulo de material inflamatório nos alvéolos, o que provoca uma redução da oxigenação do sangue a níveis ameaçadores. Sem o cuidado contínuo, o paciente pode evoluir para complicações e morte.
Causas
O desenvolvimento da síndrome do desconforto respiratório agudo pode se dar no contexto de inúmeras doenças e lesões. O problema atinge os dois pulmões e se manifesta como uma reação do organismo a uma agressão pulmonar, que pode ser local, como nas pneumonias ou aspiração gástrica, ou ocorrer por via sistêmica. Entre as principais causa, é possível destacar:
- Infecções bacterianas e virais, como pneumonia;
- Infecção generalizada (sepse);
- Inalação de substâncias tóxicas;
- Aspiração para o pulmão de conteúdo ácido do estômago, como em casos de engasgo após vômito;
- Afogamento;
- Inflamação do pâncreas (pancreatite);
- Inalação de grandes quantidades de fumaça;
- Inalação de outros gases tóxicos;
- Algumas complicações gestacionais, como pré-eclâmpsia e embolia do líquido amniótico;
- Embolia pulmonar.
Quando os alvéolos são afetados, o sangue e os líquidos se infiltram nos espaços entre os alvéolos e, após isso, passam para o interior deles. Isso interfere no movimento do oxigênio do ar inspirado para o sangue — o que causa a queda brusca no nível de oxigênio no sangue.
Segundo o Manual MSD, a diminuição do nível de oxigênio no sangue causada pela síndrome e o vazamento para a corrente sanguínea de certas proteínas podem provocar inflamação e complicações em outros órgãos.
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Sinais
O paciente com a síndrome do desconforto respiratório apresenta sintomas como tosse e falta de ar extrema, normalmente 24 a 48 horas após a lesão. Também é possível que hajam sons crepitantes ou chiados nos pulmões, possíveis de serem ouvidos pelo especialista com um estetoscópio.
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Devido à má oxigenação no sangue, pacientes de pele clara podem apresentar a coloração azul ou arroxeada da pele, unhas ou lábios — condição conhecida como cianose. Já pessoas de pele escura podem apresentar coloração cinza ou esbranquiçada na boca, ao redor dos olhos e sob as unhas.
Além disso, outros órgãos, como o coração e o cérebro, podem não funcionar adequadamente, provocando uma frequência cardíaca elevada, ritmos cardíacos anormais (arritmia cardíaca), confusão e sonolência.
Diagnóstico
Segundo Gleison, o diagnóstico da síndrome do desconforto respiratório é feito a partir de exames como a radiografía de tórax, que mostra o líquido nos espaços que deveriam ser preenchidos com ar, e a gasometria arterial, exame de sangue que é coletado a partir de uma artéria para avaliar os gases presentes no sangue, como o oxigênio e o gás carbônico.
O nível de oxigênio no sangue também pode ser monitorado por meio de um sensor colocado no dedo ou no lóbulo da orelha, sem coletar uma amostra de sangue. O procedimento é chamado de oximetria de pulso. Outros exames podem ser necessários para confirmar que a insuficiência cardíaca não é a causa do problema, segundo o Manual MSD.
Tratamento
Na síndrome do desconforto respiratório agudo, é necessário tratar a doença subjacente que provocou a resposta inflamatória, como pneumonia ou infecção generalizada. A gravidade do problema indica a necessidade de tratamento em unidade de terapia intensiva (UTI), em que é fornecida oxigenoterapia, capaz de corrigir os níveis baixos de oxigênio no sangue.
Se o oxigênio administrado por máscara facial ou outro dispositivo não for efetivo ou forem necessárias doses muito altas de oxigênio inalado, deve-se utilizar a ventilação mecânica. O ventilador normalmente fornece ar pressurizado rico em oxigênio utilizando um tubo inserido na traqueia através da boca.
Tem cura?
A síndrome do desconforto respiratório tem cura. Em geral, os pacientes que respondem com rapidez ao tratamento restabelecem-se por completo, quase sem alterações pulmonares de longo prazo, conforme explica Gleison. Todavia, pode ser necessária a reabilitação no hospital para recuperar as quantidades de peso e de músculo normalmente perdidas durante o tratamento.
Complicações possíveis
A mortalidade da síndrome do desconforto respiratório está entre 30% e 50%. Por se tratar de um quadro grave, pacientes que não recebem o tratamento adequado podem apresentar complicações e morte. De acordo com Gleison, as complicações da síndrome do desconforto respiratório incluem:
- Pneumotórax;
- Pneumonia associada à ventilação mecânica;
- Falência múltipla dos órgãos;
- Fibrose pulmonar com insuficiência respiratória prolongada.
Sequelas da síndrome do desconforto respiratório
As sequelas da síndrome do desconforto respiratório agudo podem surgir em pacientes cujo tratamento envolve longos períodos no ventilador — o que aumenta a probabilidade de formar tecido cicatricial (fibrose) nos pulmões.
Em um quadro de fibrose pulmonar, ocorre endurecimento e redução do tamanho dos pulmões progressivamente, diminuindo a captação de oxigênio e causando falta de ar — que pode se manifestar de forma mais evidente durante certas atividades diárias. Se menos extensa, a fibrose pode prejudicar a função pulmonar somente em momentos de estresse pulmonar, como durante exercícios ou em doenças.
Referências
Gleison Marinho Guimarães, médico pneumologista
Manual MSD