Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (1982), mestrado em Medicina (Hematologia) pela Univ...
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O que é Talassemia?
A talassemia, também chamada de anemia do Mediterrâneo, é um tipo de anemia crônica com origem genética e não contagiosa. É provocada devido a uma falha genética que leva a uma malformação da hemoglobina, proteína encontrada nos glóbulos vermelhos do sangue, responsáveis pelo transporte de oxigênio para o corpo. Quadros moderados e graves provocam sintomas como fraqueza muscular, fadiga e falta de ar.
Causas
A talassemia é causada por mutações no DNA das células que produzem a hemoglobina. As mutações associadas com talassemia são passadas dos pais para os filhos. As mutações que causam a talassemia interrompem a produção normal de hemoglobina, causando baixos níveis de hemoglobina e uma alta taxa de destruição das células vermelhas do sangue, resultando em anemia.
“A pessoa com talassemia maior ou intermediária não consegue produzir quantidade suficiente de hemácias e o pouco que produz acaba sendo mal feita e destruída pelo organismo e, por isso, há uma anemia muito grave”, explica Maria Stella Figueiredo, médica hematologista e professora de hematologia da UNIFESP.
Tipos
Existem dois tipos principais de talassemia: alfa-talassemias e beta-talassemias, sendo que a segunda é mais comum. Para formar a hemoglobina, o corpo precisa das proteínas alfa-globinas e beta-globinas — que, por sua vez, precisam de alguns genes do corpo para que sejam construídas. Alterações nesses genes irão determinar o tipo e o grau de talassemia que uma pessoa tem. Veja detalhes de cada uma:
Talassemia beta
Dois genes estão envolvidos na formação da talassemia beta: um é herdado da mãe, e outro do pai. A talassemia beta ocorre quando um ou ambos desses genes herdados não funcionam ou funcionam apenas parcialmente. A doença tem diferentes graus, a depender de sua herança genética:
- Talassemia beta minor: conhecida também como traço talassêmico, a talassemia beta minor ocorre quando a pessoa recebe um gene normal de um genitor e um gene da talassemia do outro. Pessoas com talassemia beta minor podem ter anemia leve e provavelmente não vão precisar de tratamento
- Talassemia beta major: pode ser chamada de anemia de Cooley ou anemia mediterrânea. A talassemia beta major ocorre quando ambos os genes são danificados. Isso significa que você tem um gene de talassemia de cada genitor. A pessoa com talassemia beta major tem o tipo mais grave da doença e normalmente precisa fazer transfusões de sangue
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Talassemia beta intermediária: esse tipo de talassemia fica entre a minor e a major. Ela é causada por uma mutação que pode ter sido herdada apenas do pai ou da mãe - não de ambos. No entanto, diferente da talassemia minor, esse paciente irá precisar de tratamento para ter uma vida saudável, ainda que este não envolva transfusões de sangue
Talassemia alfa
Pessoas com alfa talassemia apresentam uma ou mais mutações no cromossomo 16. Isso afeta a produção das duas cadeias alpha de globina que compõem a hemoglobina. O fato de existirem duas cadeias de alfa-globina envolvidas na produção da hemoglobina indica que são quatro genes envolvidos na formação talassemia alfa. Este tipo ocorre quando um ou mais dos quatro genes alfa-globina que formam a hemoglobina estão faltando ou danificado.
- Se um gene está faltando ou danificado: suas células vermelhas do sangue podem ser menores do que o normal. Você não terá nenhum sintoma e você não vai precisar de tratamento. Mas você é um portador silencioso. Isto significa que você não tem a doença, mas pode passar o gene defeituoso para o seu filho
- Se dois genes estão em falta ou danificados: você terá anemia muito suave, que normalmente não precisa de tratamento. Isso é chamado de alfa talassemia minor
- Se três genes estão faltando: você terá anemia ligeira a moderadamente grave. Isso às vezes é chamado de doença da hemoglobina H. As cadeias beta continuam a ser produzidas de maneira normal, e as moléculas excedentes começam a se combinar entre si, originando um novo tipo de hemoglobina: a hemoglobina H. Esta tem uma função semelhante à da hemoglobina normal. Entretanto, por ser mais instável e ter uma vida menor, as células vermelhas que contêm esta hemoglobina terão menor duração no organismo, o que resultará em uma anemia de moderada a severa
- Se todos os quatro genes estão faltando: há casos em que a mutação no cromossomo 16 leva à completa incapacidade do organismo em produzir as cadeias alfa, e a produção de hemoglobina normal torna-se impossível. Este estado produz uma doença conhecida como Hydropsis fetalis, que leva ao óbito do feto ainda no útero. Este tipo de acontecimento é muito raro. Geralmente o feto será natimorto ou a criança vai morrer logo após o nascimento.
Sintomas
Sintomas de talassemia
Os sintomas de talassemia dependem da gravidade da doença. Quadros leves de talassemia normalmente não causam nenhum sintoma. Já a doença moderada ou grave pode provocar sinais como:
- Fraqueza muscular
- Fadiga
- Falta de ar
- Palidez
- Icterícia
- Atraso no desenvolvimento
- Aumento do baço
- Inchaço abdominal
- Urina escura
- Deformidades ósseas
Diagnóstico
O diagnóstico de talassemia é feito a partir do histórico clínico do paciente, além de exames laboratoriais, como:
- Hemograma completo
- Teste genético para identificar possíveis genes que causam a talassemia
- Níveis de ferro no sangue
- Um exame de sangue que mede a quantidade de diferentes tipos de hemoglobina, para ajudar a descobrir que tipo de talassemia o paciente tem.
Exames pré-natais
Os exames pré-natais podem ser feitos testes antes de o bebê nascer para saber se ele tem talassemia e determinar quão grave pode ser. Testes utilizados para diagnosticar talassemia no feto incluem:
- Amostragem vilo corial: é geralmente feito em torno da 11ª semana de gestação e envolve a remoção de um pequeno pedaço da placenta para avaliação
- Amniocentese: é geralmente feito em torno da 16ª semana de gravidez e envolve a colheita de uma amostra do líquido que rodeia o feto
Fatores de risco
O principal fator de risco é a presença do gene anormal em amplos os pais, segundo Figueiredo. Quando tanto o pai como a mãe têm pelo menos um gene com mutação, pode haver a transmissão de dois genes alterados para o filho, o que leva às formas mais graves da doença. Além disso, a ascendência também é um fator que aumenta os riscos da talassemia.
“Existe uma maior frequência de beta-talassemia na região do mediterrâneo (Itália, Grécia), mas elas são bastante comuns no Oriente Médio e Índia. No entanto, existem casos de beta-talassemia originários também da Península Ibérica e África”, aponta Maria Stella.
Tratamento
O tratamento depende da gravidade da talassemia. A talassemia minor não demanda tratamento específico. Já a talassemia intermédia pode ser tratada com transfusões de sangue e suplementos de ácido fólico. O ácido fólico é uma vitamina que o corpo precisa para produzir células vermelhas do sangue.
Além da suplementação com ácido fólico e as transfusões de sangue, pacientes com talassemia grave (ou maior) precisam administrar medicamentos que são utilizados com a quimioterapia para ajudar o organismo a produzir hemoglobina normal.
Se o paciente fez transfusões de sangue repetidamente, é possível que haja excesso de ferro. Isso pode danificar os órgãos, especialmente o fígado. Por isso, é importante evitar suplementos vitamínicos que contenham ferro e evitar o excesso de vitamina C, que pode aumentar a quantidade de ferro que você absorve dos alimentos.
Tratamentos menos comuns de talassemia grave incluem:
- Transplante de células-tronco do sangue ou da medula óssea
- Cirurgia para remover o baço em casos de esplenomegalia grave, em que o órgão cresce muito
Tem cura?
A única chance de cura para talassemia grave ou intermediária é o transplante de medula óssea. Estudos de terapia gênica estão em andamento. “Nesta terapia, é feita a modificação da alteração genética e o indivíduo passa a produzir glóbulos vermelhos normais, mas ainda vai levar alguns anos até isso estar na prática clínica”, finaliza Maria Stella.
Prevenção
Na maioria dos casos, a talassemia não pode ser prevenida. Se o paciente tem talassemia ou carrega esse gene no seu organismo, é importante considerar uma consulta com um geneticista ou hematologista antes de ter um filho. Ele poderá dizer se a criança terá mais ou menos risco de sofrer ou não com a doença.
Convivendo (Prognóstico)
Indivíduos com talassemia menor raramente necessitam de acompanhamento especializado, aponta Figueiredo. Porém, “eles devem ser orientados para o risco de terem filhos com as formas graves de talassemia e, por isso, necessitam de aconselhamento genético”, acrescenta.
Já pacientes com talassemia grave ou intermediária, a princípio, devem se conscientizar da necessidade de manter o acompanhamento com um médico hematologista a fim de evitar pioras no quadro e complicações. Existem alguns cuidados que podem ajudar o paciente com talassemia a manter uma rotina saudável, tais como:
- Evite o excesso de ferro e, a menos que o especialista recomende, não tome vitaminas ou outros suplementos que contenham ferro
- Tenha uma dieta saudável, que contém uma abundância de alimentos nutritivos. Isso pode ajudar o paciente a se sentir melhor e a aumentar a sua energia. O médico ou médica também pode recomendar um suplemento de ácido fólico para ajudar o corpo a produzir novas células vermelhas do sangue
- Evite infecções, proteja-se contra infecções com a lavagem das mãos frequentemente e evitando pessoas doentes. Isto é especialmente importante se você teve que ter seu baço removido. Você também vai precisar de uma vacina contra a gripe anual, bem como as vacinas de meningite, pneumocócica e contra a hepatite B para prevenir infecções
Complicações possíveis
As principais complicações da talassemia incluem:
- Sobrecarga de ferro: pessoas com talassemia podem obter muito ferro em seus corpos por conta da própria doença ou por transfusões de sangue frequentes. Muito ferro pode causar danos ao sistema cardíaco, fígado e sistema endócrino
- Infecções: pessoas com talassemia têm um risco aumentado de infecção. Isto é ocorre principalmente se a pessoa teve o baço removido
- Deformidades ósseas: a talassemia pode fazer a medula óssea expandir, ampliando os ossos — o que pode resultar em estrutura óssea anormal, especialmente no rosto e crânio. Expansão da medula óssea também torna os ossos finos e quebradiços, aumentando a chance de ossos quebrados
- Aumento do baço (esplenomegalia): o baço ajuda o organismo a filtrar células sanguíneas velhas ou danificadas. A talassemia é muitas vezes acompanhada pela destruição de um grande número de células vermelhas do sangue, fazendo com que o baço trabalhe mais do que o normal. Isso causa um aumento do baço, chamado de esplenomegalia. Isso pode piorar os sintomas de anemia e reduzir a vida útil das células vermelhas do sangue transfundido. Se o baço cresce muito, ele pode precisar ser removido
- Taxas de crescimento mais lentas: a anemia pode fazer o crescimento de uma criança desacelerar. A puberdade também pode ser adiada em crianças com talassemia
- Problemas cardíacos: condições como insuficiência cardíaca congestiva e ritmos cardíacos anormais (arritmias), podem estar associadas à talassemia grave.
Referências
Associação Brasileira de Talassemia
Associação de Medula Óssea
Mayo Clinic
Cooley's Anemia Foundation