Evelyn Vinocur é doutora em Pediatria, graduada em 1978 pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em Pedi...
iRedatora especialista em conteúdos sobre saúde, família e alimentação.
O que é TDAH?
O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico caracterizado pela combinação de sintomas de desatenção, hiperatividade (inquietude motora) e impulsividade. O TDAH aparece na infância e, na maioria dos casos, acompanha o indivíduo por toda a vida. O tratamento precoce é essencial para que o paciente consiga ter uma vida saudável e produtiva.
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Causas
O TDAH pode surgir a partir de inúmeras causas. Embora não exista um consenso científico, a maioria dos estudiosos concorda com a origem multifatorial do transtorno, com seus componentes genéticos e ambientais, em que provavelmente vários genes anômalos de pequeno efeito em combinação com um ambiente hostil, formataram um cérebro alterado em sua estrutura química e anatômica.
É possível dividir os fatores que causam o TDAH em fatores neurobiológicos, que incluem genética e anormalidades cerebrais, e fatores ambientais.
- Fatores genéticos: a prevalência de TDAH é bem maior em filhos e familiares de pessoas com TDAH em relação a pessoas sem o problema. A herdabilidade média do TDAH é estimada em 76%. Entre familiares de pessoas com TDAH, o risco de se ter o transtorno era cinco vezes maior que o de pessoas sem história familiar
- Anormalidades cerebrais: estudos de imagem feitos no cérebro mostraram evidências de disfunção em pessoas com TDAH — no córtex pré-frontal, núcleos da base, cerebelo e outras
- Fatores ambientais: o transtorno está correlacionado com tabagismo na gravidez, embora parte dessa associação reflete um risco genético comum. Pode haver história de abuso infantil, negligência, múltiplos lares adotivos, exposição a neurotoxinas (chumbo), infecções (como encefalite) ou exposição ao álcool durante a gestação.
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Tipos
O TDAH pode se apresentar com sintomas de desatenção e de hiperatividade ou impulsividade. De acordo com a quantidade desses sintomas, podemos classificar o TDAH em três subtipos:
- Apresentação combinada: se tanto os critérios de desatenção e hiperatividade-impulsividade são preenchidos nos últimos 6 meses
- Predominantemente desatento: quando os critérios de desatenção é preenchido nos últimos seis meses, mas os critérios de hiperatividade não são
- Predominantemente hiperativo-impulsivo: quando os critérios de hiperatividade é preenchido nos últimos seis meses, mas os critérios de desatenção não são
Além disso, a pessoa pode ter três diferentes graus de TDAH:
- Leve: poucos sintomas estão presentes além daqueles necessários para fazer o diagnóstico, e os sintomas resultam em não mais do que pequenos prejuízos no funcionamento social, acadêmico ou profissional
- Moderado: sintomas ou prejuízo funcional entre leve e grave estão presentes
- Grave: muitos sintomas além daqueles necessários para fazer o diagnóstico estão presentes, ou vários sintomas particularmente graves estão presentes, ou os sintomas podem resultar em prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional
Sinais
Sintomas de TDAH
Os sintomas do TDAH envolvem um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interferem no funcionamento e no desenvolvimento da criança. Eles incluem:
- Deixar de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou durante outras atividades;
- Ter dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
- Não escutar quando lhe dirigem a palavra;
- Não seguir instruções e não termina deveres de casa, tarefas domésticas ou tarefas no local de trabalho;
- Ter dificuldade para organizar tarefas e atividades;
- Evitar, não gostar ou relutar em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado, como tarefas escolares, deveres de casa, preparo de relatórios e outros;
- Perder objetos necessários às tarefas ou atividades;
- Ser facilmente distraído por estímulos externos. Para adolescentes mais velhos e adultos pode incluir pensamentos não relacionados;
- Ser esquecido em relação a atividades cotidianas;
- Remexer ou batucar mãos e pés ou se contorcer na cadeira;
- Levantar da cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado;
- Correr ou subir nas coisas, em situações onde isso é inapropriado ou, em adolescentes ou adultos, ter sensações de inquietude;
- Ser incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente;
- Não conseguir ou se sentir confortável em ficar parado por muito tempo, em restaurantes, reuniões e outros;
- Falar demais;
- Não conseguir aguardar a vez de falar, respondendo uma pergunta antes que seja terminada ou completando a frase dos outros;
- Ter dificuldade de esperar a sua vez;
- Interrompe ou se intromete em conversas e atividades, tentar assumir o controle do que os outros estão fazendo ou usar coisas dos outros sem pedir.
No geral, é preciso que a criança apresente seis ou mais desses sintomas por mais de seis meses antes de ser feito o diagnóstico. Já em adultos ou adolescentes com mais de 17 anos, é preciso apresentar apenas cinco destes sintomas.
É preciso haver evidências claras de que os sintomas interferem no funcionamento social, acadêmico ou profissional ou de que reduzem a sua qualidade. E os sintomas não devem ser mais explicados dentro de outro transtorno mental, como transtorno bipolar e transtorno de personalidade.
Diagnóstico
O diagnóstico para TDAH é clínico, feito por médico especialista em TDAH. Não é necessário exame de ressonância magnética, eletroencefalograma ou qualquer outro que avalie características físicas. Também não é preciso fazer avaliação neuropsicológica, apenas em casos específicos.
O processo diagnóstico de TDAH segue uma relação de critérios médicos específicos, incluindo a determinação de subtipo, nível de remissão e gravidade do transtorno. As consultas de pessoas com o transtorno são mais longas, pois é preciso colher as histórias do paciente e de seus familiares mais próximos — em função da grande herdabilidade do TDAH.
Além disso, também é necessário entender como transcorreram a gestação, parto, período pós-parto, o desenvolvimento neuropsicomotor, a esfera social e a escolaridade. A primeira consulta deve ser feita somente com a mãe ou com os pais. A segunda deve ser feita com o paciente que pode ser a criança ou o adolescente e a terceira, com todos reunidos.
Inclusive, alguns adultos precisam chamar os pais, o cônjuge ou outros familiares para reportarem como se transcorreram nos primeiros anos de vida, pois muitos adultos podem não se lembrar de dados importantes de sua infância, escolaridade e outros dados da vida.
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Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar o TDAH são:
- Psiquiatra
- Neuropsiquiatra
- Neuropediatra
- Neurologista
Tratamento
Tratamento de TDAH
O tratamento de crianças e adolescentes com TDAH é multidisciplinar e se baseia na intervenção com profissionais de várias áreas, como os da área médica, de saúde mental e pedagógica. Avaliações com psicólogo, fonoaudiólogo, psicomotricista, otorrinolaringologista e outros especialistas podem ser necessárias.
Além disso, portadores do TDAH e familiares devem frequentar grupos de apoio psicoeducativos sobre o TDAH, nos quais o profissional de saúde falam tudo sobre o transtorno com informações claras e objetivas, para que eles aprendam a lidar com os sintomas e também possam trocar vivências e experiências com outros portadores e familiares.
A orientação aos pais é fundamental, pois os instrui sobre a doença, facilita o convívio em família, os ensinam a lidar com a criança e como prevenir futuras recaídas.
Terapia Cognitivo Comportamental para TDAH
Em relação às intervenções psicoterápicas, a mais estudada e com maior evidência científica de eficácia para os sintomas cardinais do TDAH é a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC). Crianças com TDAH muito desadaptativas demandam técnicas comportamentais que podem ajudar muito. Nem toda a criança com o transtorno necessita fazer psicoterapia, o quadro sempre exige orientação familiar.
Nos casos mais complexos, com prejuízo funcional em várias áreas, presença de comorbidades e pais de opiniões discordantes, devemos iniciar o tratamento pela psicoeducação familiar e suporte educacional. Nas famílias em que o TDAH for frequente, deve-se ter muito cuidado com as variáveis ambientais que possam servir de gatilho para aqueles que tiverem predisposição ao transtorno.
Medicamentos
Medicamentos para TDAH
Os medicamentos mais usados para o tratamento de TDAH possuem metilfenidato na composição, como Concerta e Ritalina. Medicamentos como Efexor XR, que contém venlafaxina como princípio ativo, também podem ser prescritos pelo médico responsável pelo tratamento.
Somente um e especialista ode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.
Prevenção
A neurociência ainda não sabe dizer ao certo de que forma é possível prevenir a ocorrência de TDAH. O que se conhece hoje são formas que ajudam a reduzir o risco de seu filho desenvolver o distúrbio. Confira alguns exemplos:
- Durante a gravidez, evite fazer uso de substâncias que possam prejudicar o desenvolvimento fetal. Não beba bebidas alcoólicas, evite cigarros e outras drogas. Evite, também, a exposição a toxinas ambientais
- Proteja seu filho da exposição a poluentes e toxinas, incluindo a fumaça de cigarro, produtos químicos agrícolas ou industriais e chumbo.
Convivendo (Prognóstico)
Uma das primeiras técnicas ensinadas à família é a suspensão das repreensões e dos castigos. É importante que pessoas com TDAH sejam elogiadas, reconhecidas e valorizadas pelo que elas têm de bom, sempre que fizerem algo corretamente. Este reforço positivo aumenta a autoestima da criança e evita problemas futuros.
Intervenções no âmbito escolar são essenciais e muitas vezes é preciso um acompanhamento psicopedagógico e reforço escolar — uma vez que facilita o convívio dessas crianças com os colegas e tenta impedir que elas se desinteressem pela escola, o que é muito comum em casos de TDAH.
Muitas escolas não apenas ainda desconhecem o TDAH, como não têm a possibilidade de participar do tratamento dessas crianças, pelas mais variadas razões. É fundamental que a escola receba todo o suporte informativo pertinente ao TDAH, seus mecanismos e suas manifestações nas diferentes idades.
É preciso que a escola saiba de sua importância como uma das principais fontes encaminhadoras de alunos para avaliação médica. Cada vez mais, é maior o número de crianças e adolescentes que chegam aos consultórios médicos por indicação da escola.
Como lidar com o TDAH?
Saber lidar com os sintomas é uma das partes mais difíceis do processo de tratamento do TDAH. Algumas medidas podem facilitar a convivência, tanto por parte da criança quanto por parte da família. Veja quais são as dicas que você deve aplicar ao seu filho com TDAH:
- Estabeleça limites e regras;
- Seja paciente, demonstre afeição e amor;
- Faça elogios a seu filho, incentive-o e cumprimente-o sempre que ele conseguir cumprir uma atividade. Quando precisar repreendê-lo, tome cuidado com a forma com que vai fazer isso. O excesso de críticas prejudica a autoestima da criança;
- Procure passar mais tempo na companhia de seu filho;
- Busque formas de aumentar a autoestima de seu filho e coloque disciplina em sua rotina;
- Ensine seu filho a adquirir formas de organização adequadas, como calendário de atividades diárias;
- Seja claro e objetivo. Evite usar palavras de difícil entendimento ao se comunicar com seu filho, procure usar palavras mais fáceis e frases curtas;
- Ao falar com seu filho, fique à sua frente, olho no olho e fale com calma até ter certeza de que ele o compreendeu;
- Jamais exponha a criança ou crie constrangimentos a ela;
- Tente usar criatividade e usar técnicas de motivação e recompensa com ele;
- Não grite, use menos o “não” em detrimento de diálogos que o motivem a pensar e refletir;
- Seja um “expert” em TDAH, assim você certamente otimizará o tratamento do seu filho.
Criança com TDAH na escola
Crianças com têm dificuldades para ficarem paradas, escutar silenciosamente e concentrar-se, o que torna o aprendizado mais difícil, pois estas são posturas exigidas em período integral dentro das escolas. Eles acabam ficando frustrados, pois querem se comportar e aprender da mesma forma que os colegas de classe — o que é impedido pelo déficit neurológico.
Saiba mais: 16 dicas para melhorar a vida da criança com TDAH
O que está ao alcance dos pais é ajudar os filhos a lidar com suas limitações, para que possam cumprir os desafios da escola; equipar a criança com estratégias de aprendizado que ela possa levar para sala de aula, e falar com os professores sobre a melhor forma de educar a criança, são apenas algumas das dicas para tornar essa fase menos incômoda para os pequenos.
Veja a seguir, alguns planos de ação que podem melhorar a experiência da criança com TDAH na escola:
- Planeje com antecedência: é possível falar com os professores ou diretores da escola antes mesmo do ano letivo começar, para planejar estratégias de ensino;
- Promova encontros: combine um horário com o professor de seu filho, para falar sobre a situação da criança. Se possível, realize os encontros na sala de aula, para entender o ambiente físico que o pequeno vive parte do dia;
- Criem objetivos juntos: discuta suas expectativas em relação ao ensino da criança com o professor, para que em conjunto, vocês possam desenvolver metas realistas e possíveis de serem alcançadas pelos pequenos;
- Escute atenciosamente: por mais que seja difícil, ouça o que o professor tem a dizer sobre as dificuldades de seu filho. Dessa forma, você entenderá melhor o seu raciocínio;
- Troquem informações: você conhece a história de seu filho, e o professor convive com ele todos os dias. Juntos, vocês podem entender melhor as dificuldades da criança. Faça observações livremente, e encoraje o educador a fazer o mesmo;
- Seja sincero: não se esqueça de citar quaisquer medicamentos que seu filho esteja tomando, e explique quaisquer tratamentos. Pergunte ao professor quais táticas de aprendizado estão funcionando em sala de aula, e quais não, para que você possa aplicá-las em casa, por meio de educação domiciliar.
Complicações possíveis
Se não tratado adequadamente, o TDAH pode trazer diversas consequências no dia a dia da criança, adolescente ou adulto com o quadro. Em crianças e adolescentes, o transtorno está associado a maiores taxas de sentimento precoce de fracasso, rejeição social e bullying, além de menores taxas de índice de desempenho escolar e sucesso acadêmico.
Já em adultos, o transtorno está associado a baixo desempenho e sucesso no campo profissional, maiores taxas de desemprego e conflito interpessoal. Além disso, indivíduos com TDAH possuem chances significativamente maiores de desenvolver Transtorno de Personalidade Antissocial, obesidade e outros problemas.
Referências
Revisado por Dra. Evelyn Vinocur, psiquiatra e mestre em neuropsiquiatria pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e psicoterapeuta cognitivo comportamental, especializada em Saúde Mental da Infância e Adolescência pela Santa Casa de Misericórdia do Estado do Rio de Janeiro (SCMRJ) e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Membro associado da Associação Brasileira de Psiquiatria (CRM-RJ: 303514)
Mario Louzã, médico psiquiatra, doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha, e Membro Filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
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