Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde também realizou mestrado em Psiquiatria. Doutor e...
iManuela Pagan é jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (2014) e em fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2008).
iO que é Eletroconvulsoterapia?
Também conhecida como eletrochoque, a eletroconvulsoterapia (ECT) já esteve envolvida em muitas polêmicas e foi muito criticada. No entanto, com o avanço da sedação e tecnologia, seu uso pode ser eficaz para o tratamento de transtornos psiquiátricos graves.
O que é eletroconvulsoterapia?
Como o próprio nome já indica, a eletroconvulsoterapia nada mais é do que o uso de um estímulo elétrico para provocar uma crise epiléptica generalizada no cérebro.
Na prática, isto significa que o cérebro vai apresentar uma atividade igual à observada em crises epilépticas ou convulsões, em que a pessoa tem uma fase de rigidez, seguida de movimentos bruscos e repetidos de braços e pernas. Entretanto, a crise ocorre apenas no cérebro, já que o corpo se encontra sob o efeito de relaxantes musculares.
Tal estímulo ajuda a regular os níveis de serotonina, dopamina, noradrenalina e glutamato.
O preço da eletroconvulsoterapia é elevado quando contabilizado que será empenhado em um prazo mais curto do que o do tratamento com antidepressivos, por exemplo, e o preconceito que ainda há contra ele são os principais motivos pelos quais esse tratamento é usado apenas como uma das últimas opções.
Do ponto de vista médico, contudo, há sugestões para que se use a ECT como uma opção mais precoce na abordagem dos transtornos
É possível ainda ter acesso à eletroconvulsoterapia pelo SUS, mas o tratamento só está disponível em alguns poucos centros de saúde, como é o caso do Hospital Universitário Onofre Lopes, vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
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Indicações da eletroconvulsoterapia
Por auxiliar nos níveis dos neurotransmissores, a indicação do eletrochoque, principalmente, para casos graves de:
- Depressão
- Catatonia
- Mania
- Transtorno bipolar
- Esquizofrenia
- Transtornos psiquiátricos graves que não podem ser tratados com medicamentos (para grávidas ou idosos)
Embora já tenha sido indicado como um tratamento para Comportamento Agressivo no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC - SUS) informou que não recomenda o uso de tal tratamento.
Como funciona a eletroconvulsoterapia?
O procedimento é indolor e realizado com anestesia geral, a fim de reduzir o desconforto do relaxante muscular, que causará uma sensação de paralisia. Além disso, o eletrochoque costuma ser rápido, durando cerca de quatro a oito segundos, apenas.
Tal duração costuma ser avaliada pelo psiquiatra de acordo com cada caso. No entanto, há cada vez mais estudos sobre estímulos "ultracurtos", com duração inferior a meio segundo.
Todo o processo é realizado sob supervisão do anestesista e psiquiatra e conta com assistência para possíveis emergências. O paciente deve estar em jejum, com a bexiga vazia e os cabelos limpos e secos.
Caso use próteses, elas serão removidas. O paciente será mantido com soro, para a administração das medicações, como anestésico e relaxante muscular. Para garantir a respiração, é usada uma máscara de oxigênio até que o paciente volte a respirar espontaneamente.
Além disso, o tratamento só é realizado mediante a autorização do paciente ou familiar, que deve assinar um termo de consentimento. Antes da ECT, é necessário que a pessoa realize uma série de exames médicos, incluindo avaliação cardiológica para garantir sua segurança.
São necessárias, em média, seis a oito aplicações para o tratamento efetivo de um episódio depressivo, podendo chegar a 12 aplicações ou mais se não houver melhora clínica satisfatória.
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Um aspecto interessante é que, frequentemente, após uma série de ECT, as pessoas ficam mais sensíveis à ação antidepressiva dos remédios. Isto possibilita que medicações anteriormente usadas e que não foram eficazes possam ser novamente testadas, com resultados positivos. Isto pode ocorrer mesmo quando a ECT não leva a uma melhora completa (e até quando não há nenhuma melhora).
Habitualmente, após uma série de ECT, a pessoa é tratada com medicações antidepressivas, apesar de que, em casos nos quais a eficácia destas continuar insuficiente, as sessões podem ser repetidas como tratamento de manutenção.
Contraindicações
A ECT é um tratamento muito seguro e com poucas contraindicações. A situação na qual ela é proibida é quando a pessoa possui um implante coclear (um dispositivo inserido no crânio de pessoas com surdez grave).
Porém, ela também costuma ser evitada em:
- Casos de infarto cardíaco recente
- Acidente vascular cerebral (AVC) recente com sintomas residuais
- Instabilidade do funcionamento cardíaco
- Doença pulmonar grave
- Aneurisma cerebral instável (vaso cerebral dilatado, com possibilidades de sangramento)
- Aumento da pressão no líquido (líquor) que banha o cérebro
- Se estiver associado a alterações no volume do cérebro como, por exemplo, no caso de alguns tumores)
- Uso de marca-passo cardíaco
- Descolamento de retina
- Em casos nos quais os riscos da anestesia sejam muito grandes
Considerações
Efeitos colaterais da eletroconvulsoterapia
Como efeito colateral imediato, o paciente pode apresentar dor de cabeça, náuseas e perda de memória temporária. No entanto, a modernização do tratamento reduziu consideravelmente os efeitos colaterais e sequelas do eletrochoque.
Os efeitos sobre a memória costumam ser perceptíveis apenas por algumas horas (em pessoas idosas podem durar mais) e consistem em uma dificuldade de gravar e rememorar fatos recentes, de modo que é possível ver a pessoa repetindo várias vezes a mesma pergunta ou fazendo várias vezes as mesmas observações.
Há dúvidas, ainda, sobre a possibilidade de a ECT causar sequelas como deficiências em longo prazo, o que ocorreria basicamente sobre a memória autobiográfica, a capacidade de a pessoa recordar fatos de sua vida.
Além disso, é possível que o paciente sinta dores musculares ou pneumonia por aspiração, que ocorre quando o conteúdo estomacal “volta” e é aspirado para o pulmão, que podem ser tratadas com alguns medicamentos.
Referências
Ministério da Saúde
Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA)
Eletroconvulsoterapia: critérios e recomendações da Associação Mundial de Psiquiatria. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rpc/a/vfXmhbfsnXL8z6vnHfFsrsd/
Quais as indicações para a eletroconvulsoterapia (ECT) - Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Disponível em: https://aps-repo.bvs.br/aps/quais-as-indicacoes-para-a-eletroconvulsoterapia-ect/
Eletroconvulsoterapia é aliada no tratamento de depressão grave - Escola de Educação Permanente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (EEP - FMUSP). Disponível em: https://eephcfmusp.org.br/portal/online/eletroconvulsoterapia-no-tratamento-de-depressao-grave/
SUS de Natal abre tratamentos com eletroconvulsoterapia (ECT) e cetamina oferecidos pelo Huol-UFRN. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-nordeste/huol-ufrn/comunicacao/noticias/sus-de-natal-abre-ineditos-tratamentos-com-eletroconvulsoterapia-ect-e-cetamina-oferecidos-pelo-huol-ufrn