Médica Endocrinologista Graduada Pela Universidade Federal De São Paulo (Unifesp) com especialização em medicina desport...
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Receber o diagnóstico de diabetes pode ser desafiador e, em muitos casos, angustiante. Afinal, essa é uma doença crônica que impacta a alimentação e o estilo de vida. Além disso, o manejo da condição exige cuidados diários, como aplicação de insulina e verificação de glicemia, entre outros.
É um fato que o diabetes afeta a saúde mental dos pacientes. Um estudo publicado no periódico científico American Diabetes Association mostrou que pessoas com diabetes têm o dobro de chance de desenvolver depressão em comparação com quem não tem a doença.
A fim de reduzir essa angústia e sanar dúvidas a respeito do diagnóstico, o MinhaVida convidou a especialista Denise Franco, endocrinologista da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo), para responder 10 perguntas sobre diabetes. Confira a seguir!
1. O médico disse que eu estou com diabetes. Como ele faz o diagnóstico?
O diagnóstico do diabetes é feito através do exame de sangue. Uma das opções é a glicemia de jejum, que mede o nível de açúcar no sangue no momento em que é realizado. “A medicação é feita duas vezes e, para confirmar o diagnóstico, o resultado deve ser maior ou igual a 126 mg/dL nas duas ocasiões”, afirma a especialista.
A segunda opção é o teste oral de tolerância à glicose, ou curva glicêmica. “Se após duas horas do teste, a glicemia estiver maior ou igual a 200 mg/dL, o diagnóstico é de diabetes”, explica. Por fim, existe o exame de hemoglobina glicada, que analisa a média da glicemia nos últimos três meses (90 dias). “É diabetes se ela for maior ou igual a 6,5%”, completa.
Vale lembrar que existem diferenças entre diabetes tipo 1 e tipo 2. A primeira é uma doença autoimune em que o pâncreas não produz insulina o suficiente Isso acontece devido a uma falha no sistema imunológico, que destrói as próprias células beta-pancreáticas, responsáveis pela fabricação de insulina. É mais comum em crianças, apesar de ocorrer em qualquer idade.
Já o diabetes tipo 2 surge ao longo da vida, devido a hábitos alimentares pouco saudáveis, sedentarismo ou decorrente de herança genética. Ela é caracterizada pela resistência à insulina ou à produção ineficiente desse hormônio para controlar o aumento da glicemia.
2. O médico disse que estou com pré-diabetes. Posso reverter esse quadro?
O pré-diabetes é uma condição “intermediária” entre um indivíduo saudável e o diabetes. “Ela acontece quando o valor de glicemia não está normal, mas também não está dentro do valor que é considerado diabetes”, explica Denise.
Esse valor deve ser maior que 99 mg/dL e menor que 126 mg/dL, em glicemia em jejum. No caso do teste oral de tolerância à glicose, os valores devem estar entre 140 e 200 mg/dL. Já na hemoglobina glicada, entre 5,7% e 6,4%.
“A reversão desse quadro pode ser realizada desde que o paciente mude alguns fatores de risco. Por exemplo, se ele está acima do peso, precisa emagrecer. Se é sedentário, deve praticar atividade física. Então, a partir daí, é possível começar o tratamento e reverter o quadro de pré-diabetes”, esclarece a endocrinologista.
3. Terei diabetes para o resto da vida?
“É importante o paciente saber que o diabetes é uma doença que não tem cura, tem tratamento apenas”, afirma Denise. “Existem alguns casos que a terapia pode controlar o quadro de diabetes, com glicemias próximas ao de uma pessoa saudável, mas depende do caso”, completa.
Em alguns casos indicados, a cirurgia bariátrica pode ser recomendada, quando o paciente ainda tem reserva de insulina. Isso pode ajudar na remissão da doença. “No entanto, se a pessoa ganhar peso novamente, ela pode, sim, voltar a ter o quadro de diabetes”, afirma.
4. Fui diagnosticada com diabetes. Meu filho também terá a doença?
Depende. “O diabetes tipo 1, em geral, as chances de o filho ter a doença variam de 10% a 15%. Já no diabetes tipo 2, o filho ou um parente direto tem a chance de 30% ou mais. Essa é a incidência aqui na nossa região”, explica a endocrinologista.
Por isso, é fundamental incentivar hábitos de vida saudáveis, como uma alimentação equilibrada e a prática de exercícios físicos, principalmente em quem tem predisposição genética.
5. Vou precisar tomar insulina?
Não necessariamente, vai depender do caso. Quem é diagnosticado com diabetes tipo 1, precisa, sim, tratar a doença com insulina diariamente. “Atualmente, não existe outro tratamento para a doença que não seja a insulina”, afirma Denise.
No caso do diabetes tipo 2, a insulina é uma das formas de tratamento, mas não a única. “Ela é um bom recurso terapêutico e tem que ser usado com segurança em qualquer momento da terapia, se necessário”, explica. No entanto, há casos em que apenas o uso de medicamentos é o suficiente para controlar a condição.
6. Vou precisar cortar todo o açúcar da dieta?
“O ideal é reduzir o consumo de açúcar refinado da dieta, mas é possível consumir carboidratos complexos, desde que seja de uma maneira sábia e bem distribuída”, esclarece a endocrinologista. “Dependendo de cada caso, é possível utilizar adoçantes, em uma dieta individualizada e bem adaptada para cada paciente”, completa.
Isso acontece porque o carboidrato simples (como o mel, refrigerantes, sucos industrializados e massas) e o açúcar refinado são absorvidos rapidamente pelo organismo, criando picos de glicemia, o que pode piorar o quadro de diabetes.
7. O que uma pessoa com diabetes pode comer?
A alimentação de uma pessoa com diabetes deve ser saudável e equilibrada, sem grandes restrições. “É possível, sim, ingerir carboidrato, assim como proteínas e gorduras boas. Mas tudo isso tem que ser feito de maneira balanceada e individualizada”, diz Denise.
A inserção de frutas e carboidratos complexos deve ser feita levando em conta o quadro de cada paciente, o peso corporal e se há ou não prática de atividade física. “O que deve ser evitado são os alimentos de absorção rápida de glicose, como o açúcar refinados, sucos, massas, farinhas brancas… Mas devemos, principalmente, apostar em uma alimentação balanceada”, completa.
8. Quais frutas as pessoas com diabetes podem comer?
“Não existem frutas vilãs e nem boazinhas. O que existe são porções que as pessoas podem consumir ao longo do dia”, responde a endocrinologista. “Não existe nenhuma fruta proibida para quem tem diabetes, o importante é saber que elas devem ser consumidas de maneira adaptada no cardápio de cada um”, explica.
É o caso de fazer consumos fracionados e acompanhados de outras fontes de nutrientes que podem ajudar a evitar o pico de glicemia. Além disso, é importante variar o tipo de frutas consumidas no dia a dia.
9. Como baixar a glicemia na hora?
Isso depende do tratamento que cada paciente está realizando. “Pacientes que têm prescrição de uso de insulina de ação rápida podem usar esse recurso, principalmente se eles tiverem a orientação de como fazer esse uso para ajustar a glicemia”, ressalta Denise.
Já quem não tem essa recomendação, uma dica valiosa é apostar na hidratação e na atividade física. “A nossa orientação geral é hidratar, tomar cuidado com a próxima refeição e, se o paciente puder fazer atividade física, então fazer exercícios, pois eles ajudam muito a ajustar a glicemia”, afirma.
10. Poderei ingerir bebidas alcoólicas?
De maneira geral, o consumo de bebidas alcoólicas deve ser evitado por quem tem diabetes. “Caso haja a ingestão, a quantidade máxima recomendada é de uma dose para as mulheres e duas doses para os homens”, explica a endocrinologista.
“O consumo exagerado de álcool diminui a chance de reconhecer o que eu estou consumindo, aumenta a vontade de comer e pode ter um impacto direto na minha glicemia”, alerta.