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Uma das principais causas de morte materna, a hipertensão pode afetar a gestante antes ou durante a gravidez, na chamada pré-eclâmpsia. Segundo dados do Ministério da Saúde, a hipertensão é responsável por 13,8% das mortes maternas no Brasil. Embora ainda seja um número alarmante, essa porcentagem era muito maior há 20 anos - cerca de 40% das mortes maternas eram causadas pela hipertensão.
A pré-eclâmpsia, também conhecida como doença hipertensiva específica da gravidez (DHEG), se caracteriza pelo aumento da pressão após 20 semanas de gestação, com desaparecimento até 12 semanas pós-parto. "Os cuidados a serem tomados nesse caso não são diferentes daqueles que a mulher que apresentava hipertensão antes da gravidez irá receber", diz a ginecologista e obstetra Bárbara Murayma, especialista do Minha Vida, de São Paulo.
Segundo a especialista, mulheres com histórico de aumento da pressão antes da concepção ou em gestação prévia, diabetes, doença do colágeno ou doença renal vascular e gestação múltiplia têm risco aumentado para desenvolver a pré-eclâmpsia e devem monitorar a pressão a cada trimestre de gestação, além de tomar os cuidados indicados para evitar complicações. No Dia da Gestante (15 de Agosto), tire todas as suas dúvidas sobre hipertensão na gravidez:
Inchaço em grávidas é sempre sinal de que a pressão está alta?
Não. De acordo com o cardiologista especializado em hipertensão Celso Amodeo, do Hospital do Coração, em São Paulo, o inchaço na gravidez pode ser reflexo de uma alteração hormonal, alterações na função renal e até mesmo excesso de ingestão de sal. "Se combinado com outros sintomas, como dores de cabeça, dores abdominais e escotomas (visão comprometida e com pontos brilhantes), o inchaço pode sim ser um grande sinal de pré-eclâmpsia."
Toda gestante hipertensa precisa tomar medicamentos?
Nem sempre. "Toda gestante hipertensa ou com alto risco de hipertensão deve inicialmente fazer mudanças em seu estilo de vida, como ingerir pouco sódio, manter o peso, dormir adequadamente e fazer caminhada regularmente", diz o cardiologista Celso. Se, mesmo com a adoção desses hábitos, a pressão persistir alta, deve-se fazer uso de medicamentos.
A ginecologista obstetra Bárbara explica que as mulheres que apresentavam uma alteração pequena na pressão antes da gravidez podem inclusive ter o quadro normalizado naturalmente nesse período. "Isso porque a gestante sofre uma queda de pressão fisiológica durante a gravidez, pois o sangue precisa circular mais", diz. Caso a gestante hipertensa já fizesse uso de medicamente antes da gravidez, é necessário apenas conversar com o médico sobre a necessidade de trocar ou não a receita. "Alguns remédios para hipertensão não são indicados durante a gravidez, devem ser substituídos."
Mulheres que já têm hipertensão podem sofrer de pré-eclâmpsia?
Sim. Pode ser que a gestante hipertensa apresente pioras no quadro e sintomas de pré-eclâmpsia, como inchaço e dores de cabeça. "Nesses casos, é importante o acompanhamento médico rigoroso para evitar a eclâmpsia (convulsões ou coma) e uso de medicamentos para controlar a pressão", diz o cardiologista Celso.
A mãe hipertensa precisa normalizar a pressão para ter uma gravidez tranquila?
Depende do quadro. Se a gestante apresentar uma pressão muito descontrolada, pode ser arriscado um tratamento que cause baixas muito bruscas na pressão. "Nesses casos, o melhor a fazer é manter a grávida internada no hospital e ir baixando sua pressão aos poucos, para não afetá-la e nem o bebê", diz a obstetra Bárbara.
É permitida a prática de exercícios nesses casos?
Varia caso a caso. A obstetra Barbara afirma que o ideal é que a gestante hipertensa pratique alguma atividade física leve, até para conseguir manter o seu peso o máximo possível e não piorar o quadro. "No entanto, apenas o obstetra poderá avaliar se o melhor para aquela mãe é a prática de exercícios ou então o repouso durante a gestação", afirma.
Quanto maior a pressão, maior o risco de parto prematuro?
Sim. "Por um mecanismo ainda desconhecido, a hipertensão causa o envelhecimento precoce da placenta, fator que impede a passagem de nutrientes para o bebê de forma normal", explica o cardiologista Celso. Por conta disso, uma gravidez com hipertensão pode causar sofrimento ao feto, havendo a necessidade do parto prematuro. "O parto também pode ser antecipado se a grávida estiver em risco por conta da pressão descontrolada, pois a retirada da placenta tende a melhorar a pressão da mãe", completa Bárbara Murayma. Os especialistas afirmam que quanto mais alta estiver a pressão da gestante, maior é o risco de insuficiência placentária e parto prematuro.
Hipertensão pode levar ao aborto?
Sim. Por conta do amadurecimento da placenta, o bebê pode não receber os nutrientes necessários para sobreviver, ocorrendo o aborto - nas primeiras 20 semanas ou quando o bebê tem menos de 500g - ou óbito fetal, quando o bebê está acima desse peso e idade.
O filho da gestante com hipertensão irá nascer hipertenso?
"Filho de hipertensa tem mais chance de ser hipertenso na idade adulta, mas não quer dizer que ele irá nascer hipertenso", diz o cardiologista Celso. Para prevenir a doença, o especialista recomenda a adoção de hábitos saudáveis desde o nascimento do bebê. "A melhor coisa que a mãe pode fazer é educá-lo desde a infância a comer pouco sal e alimentos industrializados, além da prática de exercícios e a manutenção do peso."
O bebê de mãe com hipertensão nasce como qualquer outra criança?
Não. Geralmente, o bebê nasce com baixo peso devido à insuficiência placentaria. "E o peso baixo ao nascer está relacionado com um maior risco cardiovascular na idade adulta, por isso é importante a manutenção de hábitos saudáveis desde a infância", afirma Celso Amodeo.
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Hipertensão na gravidez também traz riscos para a mãe?
Sem dúvida. Os especialistas explicam que tanto a hipertensão adquirida durante a gravidez quando uma mulher que já tinha hipertensão, caso não controlem o quadro, podem sofrer convulsões (eclâmpsias), diabetes gestacional, AVC, infarto e insuficiência renal, complicações que podem inclusive levar à morte.