Dermatologista, é membro efetivo e diretora científica da Sociedade Brasileira de Medicina Estética (RJ), coordenadora m...
iA queda difusa do cabelo que acontece de dois a três meses após um fator precipitante, que gere estresse ao organismo, chamado de "gatilho", recebe o nome de eflúvio telógeno. Este evento precipitante pode causar o término prematuro da fase anágena (fase de crescimento), com transição para as fases catágena (fase de repouso) e telógena (queda).
O eflúvio telógeno agudo geralmente é autolimitado, ou seja, cessa dentro de seis meses do início e não é considerado uma alopecia cicatricial, doença que pode gerar quadros de perda definitiva dos cabelos e danos no couro cabeludo muitas vezes irreversíveis.
É importante destacar que vários fatores podem ser considerados como gatilhos para o eflúvio telógeno, como gravidez, trauma psicológico, doença, infecções graves, hospitalização, cirurgia, desnutrição e medicamentos.
A relação entre a queda de cabelo e a COVID-19
A pandemia da Covid-19 também está associada a esses estressores, já que as pessoas infectadas com o vírus ficam sob grande estresse psicossocial e fisiológico. O corpo responde à infecção por SARS-CoV-2 criando um estado pró-inflamatório, que leva a danos nos tecidos e outras sequelas por conta da liberação das citocinas pró-inflamatórias. Esse quadro pode retroalimentar a inflamação, o que significa manter a inflamação por um período maior.
Além disso, os mecanismos de anticoagulação são prejudiciais, podendo haver formação de microtrombos nos folículos pilosos. Os trombos impedem a chegada adequada de sangue, responsável por trazer os nutrientes necessários para boa manutenção dos cabelos, para os folículos. Isso provoca mais queda.
O uso de medicamentos para tratamento dos quadros de infecção pela Covid-19 também pode desencadear em quedas, assim como a baixa da imunidade causada pela infecção, também fator de piora da queda dos cabelos. Portanto, temos mais de um fator responsável pela queda causada após a infecção.
Tenho examinado e acompanhado pacientes com queda de cabelos pós-Covid desde o início da pandemia no Brasil. Essa queda pode acontecer logo após a infecção ou iniciar meses depois. Apesar de ser uma queda que geralmente cessa espontaneamente, se a pessoa já tiver alguma outra doença capilar ou qualquer alteração no organismo que possa ser responsável pela queda de cabelos, esse quadro permanecerá, porque o organismo sozinho não conseguirá dar conta de resolver o processo.
Além disso, a infecção pela Covid gera alteração nos marcadores inflamatórios que dosamos em exame sanguíneo. Por isso, é fundamental tratarmos essa inflamação no corpo, já que os cabelos são anexos do maior órgão do corpo humano: a pele.
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Cuidados e tratamentos
A ciência tem acompanhado todas as alterações causadas pela Covid-19 e precisamos seguir com os estudos e pesquisas para maiores esclarecimentos. Nesses casos, é importantíssimo iniciarmos o tratamento o mais precocemente possível.
Para os quadros de eflúvio telógeno existem medicações orais, tópicas (para uso no couro cabeludo) e injetáveis que devem ser indicadas desde o início do quadro infeccioso. As indicações ou contraindicações para cada caso devem vir em consulta médica, já que o tratamento terá fases distintas e em cada uma existirão indicações específicas de medicamentos e tratamentos.
Estresse e ansiedade também são fatores para a perda dos fios por aumentarem a liberação de cortisol, um dos hormônios que regula o ciclo capilar. Quanto maior a concentração desse hormônio na corrente sanguínea, maior será a quantidade de fios que cairão.
A queda procedente do estado emocional, porém, é passageira. Como o folículo não morre, uma vez que o estresse esteja controlado ou o organismo se regule, o ciclo capilar é retomado. O problema é maior quando já existe alguma doença capilar ou áreas de falha no couro cabeludo, piorando o quadro já existente.
Outro ponto essencial é que a queda de cabelo também está relacionada à imunidade baixa. Com uma boa imunidade, os cabelos se revelam brilhantes, saudáveis e fortes. Mas se as defesas estão em baixa, à queda capilar é inevitável, pois como as unhas e pele, os cabelos funcionam como barreiras de proteção. Por isso, o organismo precisa estar bem nutrido em nível celular, com uma alimentação balanceada, rica em vitaminas e minerais.
Para tratar a queda de cabelos o que existe hoje de mais moderno é a associação de vários procedimentos para estimular, nutrir e reativar o nascimento dos fios quando ainda há papila dérmica, responsável por formar a raiz do pelo.
Além de medicamentos orais, tópicos e até injetáveis para controle dessa queda ou o tratamento, o microagulhamento automatizado capilar é outro grande recurso no tratamento capilar, levando nutrientes responsáveis pelo crescimento para o folículo capilar. O microagulhamento é indicado para alopecias em diversos graus, eflúvios, cabelos quebradiços, elásticos, ressecados, danificados por químicas, entre outras patologias capilares.
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