Formada em psicologia pelo Centro Universitário Paulistano e em psicanálise pelo Centro de Estudos em Psicanálise.Especi...
iÉ muito comum ver as pessoas acreditando que o feminismo é o contrário de machismo. Inclusive, recebo muitas perguntas e colocações a este respeito, tanto de homens como mulheres de diferentes idades e culturas que costumam confundir os termos e acabam se baseando em achismos ou ideias superficiais e equivocadas.
Sempre digo que é preciso buscar saber mais, estudar mais a respeito e então entender o que cada termo diz e significa, pois assim com certeza muita coisa ficará mais clara. Inclusive, é importante fazer isso independente se você é a favor ou não, a questão aqui é somente esclarecer as confusões tão comuns em torno deste assunto e que acabam gerando mais conflitos, tabus e resistências. E isso acontece tanto por parte de homens quanto das mulheres, engana-se e muito quem acha que os homens são os que mais resistem, pois há muita, mas muita mulher que acaba sendo a grande causadora das confusões, exageros e equívocos no assunto.
O que é machismo e qual é seu contrário?
O machismo é um sistema histórico, religioso, cultural e hierárquico (basta ler nos livros de história da humanidade) que tem como base o regime patriarcal. Este regime diz que o meio social, no mundo era (e ainda é) separado entre: o que é feminino, isto é para mulheres, e o que é masculino, ou seja, para homens.
O machismo é a recusa da igualdade direitos e deveres e o termo existe porque na história da humanidade sabemos que os homens eram enaltecidos e tidos como superiores às mulheres unicamente por seu gênero. Enquanto isso, as mulheres eram limitadas, submetidas e reprimidas em sua existência.
No machismo há padrões a seguir, não significa apenas ser homem ou do gênero masculino, é preciso agir, falar e pregar ideais machistas que no geral envolvem muitos atos e movimentos intenso de repúdio, menosprezo e agressivos, não somente com as mulheres, mas também com os próprios homens. Ou seja, homens que não agem daquela determinada forma acabam sendo hostilizados e até excluídos pelos homens e até por mulheres machistas. Logo, ser homem não significa ser machista e que isso fique bem claro.
O contrário de machismo não é o feminismo, como muitos acreditam, mas sim o femismo. Prestem atenção as palavras e termos: machismo e femismo, mesma base de termos, apenas alterando os gêneros.
O femismo prega e dita a superioridade da mulher sobre o homem. Busca dizer e criar uma ideia que os homens são inferiores, são perigosos e um risco a sociedade e que as mulheres devem negá-los, excluí-los e menosprezá-los, pois eles não possuem as habilidades e qualidades femininas. Neste caso, tudo que é feminino é enaltecido e colocado como superior ao masculino, fazendo exatamente o contra ponto com o machismo. Também pregando e ditando regras e mandamentos de como é ser mulher, por exemplo não se depilar, maquiar e etc... e acabam menosprezando e sendo pejorativas com as mulheres que não seguirem tais regras e assim como acontece com o machismo, possuem ordens agressivas de repúdio e ódio contra o outro gênero.
Machismo e femismo são exatamente a mesma coisa, apenas mudando a defesa de lado, de gêneros. São sistemas que pregam superioridade frente ao outro gênero e excluem a possibilidade de igualdade e respeito.
Saiba mais: Entenda por que algumas situações são consideradas machistas
E o que é feminismo então?
O feminismo não se trata de um sistema ou regime social, mas sim um movimento social, político e filosófico que levanta a possibilidade de igualdade entre os gêneros. Se alguém estiver enaltecendo o feminino sobre o masculino, esta pessoa é uma femista que é o mesmo que um machista e não um feminista.
O feminismo não fala em nenhum momento sobre a superioridade da mulher sobre o homem, fala unicamente sobre igualdade e chances das mesmas oportunidades tanto sociais, profissionais e políticas, na liberdade de ir e vir, usar roupas sem preconceitos e medos, ser solteira ou casada por opção própria, ter direito a salários iguais, oportunidades aos cargos superiores sem que a maternidade seja um impeditivo e tantas outras buscas.
Nos últimos séculos muitos movimentos femininos vieram ganhando força e graças a eles já conseguimos conquistar muitas coisas como: direito ao divórcio, votos, trabalho e outras escolhas diversas. Mas engana-se quem acha que as mulheres e homens já vivem em igualdade. Para isso basta olhar nas ruas, ler os jornais, assistir noticiários, filmes, novelas e perceber o quanto as mulheres ainda são sexualizadas e impedidas de ir e vir como querem, a hora que querem, viajar sozinhas, devem ouvir "cantadas" e devem ter como objetivo de vida ser mãe acima de sua profissão e ter a felicidade da família acima de suas vontades. Há ainda muito a ser feito e por isso o movimento permanece e cresce.
Então por que o movimento se chama feminismo e não humanismo ou igualitarismo?
O termo feminismo surgiu na França e por um homem, por volta dos anos 1800, para poder falar sobre os movimentos das mulheres que estavam em busca de seus direitos. E sim, o prefixo "Fem" do feminismo vem de Femme/Feminino. Mas desde seu surgimento, o movimento sempre teve como principal motivo a desconstrução do discurso machista enraizado na sociedade global e hoje em dia também contra o sistema femista e busca conscientizar as pessoas da possibilidade da igualdade e o respeito comum entre os gêneros.
Usar o prefixo "fem" não é querer dizer que as mulheres são mais que os homens. O termo realmente destaca em seu nome o feminino, isto é, justamente porque as mulheres foram (e são) a causa do movimento, por terem sido e serem alvos de exclusão, hostilização e desvalorização frente as sociedades que sempre entenderam os homens como superiores. É um movimento que precisa mostrar a importância, a competência e a capacidade da mulher, que até então e sem esse movimento foi sempre apagada e menosprezada, por homens e mulheres. O femme precisa aparecer para poder ter a chance de existir.
Na verdade, a implicância com o termo feminino já é uma grande mostra de que o machismo ainda impera na sociedade. Porque será que te incomoda tanto? (Lembrando que há diferença entre o femismo e o feminismo, não confundam). Vale sempre reforçar que há muitos homens feministas desde muito tempo na sociedade e isso não significa que sejam menos homens ou achem as mulheres mais que homens, apenas entendem a necessidade tamanha de dar espaço, respeito e igualdade as mulheres que ainda não aconteceu.
Há também os movimentos Humanistas ou Igualitaristas, que buscam levar adiante a ideia de igualdade humana, independente gênero, raça e cultura. E esse movimento também ainda gera muita confusão, apesar da boa intenção. Pois há ainda quem entenda que ser igual é ser padronizado e exclui que somos diferentes. Vamos lembrar aqui: somos sim diferentes por gêneros, raças e culturas, mas isso não precisa ser um problema, na verdade isso é humanismo, é conviver com as diferenças de cada ser de forma igualitária, com respeito e espaço para todos serem quem são e não serem padronizados.
O humanismo, o igualitarismo e o feminismo andam lado a lado, na verdade podemos até dizer que são ramificações da mesma ideia: a busca de respeito e igualdade entre os seres humanos. Mas o feminismo fala mais claramente desta pontuação de gêneros, logo se você se diz humanista ou igualitarista, você também é feminista, não há como separar.
E provavelmente se algum dia homens e mulheres conviverem em igualdade e respeito de existência, é bem possível que o termo feminismo fique somente na história como um ponto que foi conquistado pelo humanismo e este termo seja então a nomeação usada para os movimentos dali por diante.
Será que chegaremos a isso? Confesso que ainda não faço a menor ideia! Logo e por enquanto é bom entendermos a importância do feminismo como possibilidade de uma sociedade mais saudável e com possibilidades de igualdade.