Graduada em Psicologia pela Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN), Lizandra Arita é psicóloga institucional e c...
iJornalista especializado na cobertura de temas relacionados à saúde, bem-estar, estilo de vida saudável e à pratica esportiva desde 2008.
iCrescer sem amigos durante a infância é mais do que uma simples ausência de companhias para brincar. Essa experiência pode ter impactos profundos no desenvolvimento emocional e social, moldando comportamentos e crenças que se manifestam, muitas vezes, de forma inconsciente na vida adulta. A psicóloga Lizandra Arita, da Clínica Mantelli, explica que "as relações interpessoais formadas na infância desempenham um papel fundamental na construção de nossa visão de mundo e de nós mesmos".
Quando essas interações são limitadas ou inexistentes, padrões emocionais disfuncionais podem surgir…
Como a ausência de amigos na infância impacta a vida adulta
A infância é um período crucial para o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais. Durante essa fase, as interações ajudam as crianças a aprenderem a lidar com conflitos, a estabelecerem limites e criarem vínculos afetivos. Quando essas experiências são ausentes, podem surgir consequências que se estendem à vida adulta (mesmo que a pessoa nem note), como dificuldades em formar conexões significativas e problemas em lidar com as próprias emoções.
"Sem a vivência de trocas naturais com amigos na infância, é comum que adultos desenvolvam relações baseadas em contratos implícitos disfuncionais", aponta Arita. “Por exemplo, alguém pode se colocar sempre na posição de ‘cuidador’ ou de ‘vítima’, perpetuando jogos psicológicos inconscientes que reforçam a falta de autenticidade nas conexões interpessoais”, explica.
Esses contratos psicológicos podem levar a relações desequilibradas, em que a pessoa sente que está sempre "dando demais" ou "recebendo de menos", por exemplo.
Leia mais: É normal o meu filho ter amigos imaginários? Descubra!
5 comportamentos na fase adulta de quem não teve amigos na infância
Pessoas que cresceram sem amizades na infância podem apresentar diversos comportamentos na vida adulta relacionados às interações pessoais. Pedimos à psicóloga Lizandra Arita que listasse os principais!
1. Crenças negativas sobre si mesmo e os outros
A falta de interações positivas na infância com crianças de uma idade aproximadad pode gerar uma visão distorcida de si próprio e das pessoas ao redor. Segundo Arita, essas crenças podem incluir pensamentos como: "Eu não sou bom o suficiente, os outros são melhores" ou "Nem eu nem os outros somos bons o suficiente".
2. Dificuldade em estabelecer vínculos significativos
A ausência de conexões na infância pode levar a um medo inconsciente de rejeição ou abandono. Isso faz com que a pessoa evite laços profundos ou tenha dificuldade em confiar nos outros, perpetuando um ciclo de isolamento emocional.
3. Tendência ao isolamento e à negligência de si mesmo
Muitos adultos que não tiveram amigos na infância evitam relacionamentos por medo de rejeição ou até se tornam excessivamente agradáveis para serem aceitos, mesmo que isso signifique comprometer seus próprios desejos e necessidades.
4. Busca constante por reconhecimento
A falta de validação emocional durante a infância pode gerar uma necessidade contínua de aprovação na vida adulta. Isso pode se manifestar como perfeccionismo, busca por elogios ou até hipercompetitividade em ambientes sociais e profissionais.
5. Dificuldades na autorregulação emocional
A falta de interação com “pares” na infância pode limitar o aprendizado de como lidar com emoções difíceis no futuro. Isso pode levar, na vida adulta, a explosões emocionais, dificuldade em lidar com frustrações ou até mesmo a repressão de sentimentos importantes.
Leia mais: Sentimentos reprimidos podem causar dor emocional e doenças físicas
Existe solução para mudar esses padrões?
Sim, existem! Esses comportamentos não precisam ser permanentes, segundo Lizandra Arita. Com autoconhecimento e ferramentas adequadas, é possível transformar as crenças e atitudes aprendidas durante a infância. A psicóloga sugere algumas estratégias para começar:
- Repense crenças sobre si mesmo e os outros: trabalhe para adotar pensamentos como "Eu sou bom o suficiente e os outros também são". Essa mudança pode ajudar a construir relações mais saudáveis e equilibradas
- Busque equilíbrio interno: aprenda a identificar quando está sendo excessivamente crítico consigo mesmo ou tentando agradar demais aos outros. Desenvolver um "lado Adulto" mais consciente e racional pode ajudar a tomar decisões mais equilibradas
- Reconheça suas necessidades emocionais: em vez de buscar validação externa, foque em cuidar de si mesmo, valorizando suas conquistas e respeitando seus próprios limites
Além dessas dicas, tenha em mente que a terapia pode ser uma ferramenta valiosa para identificar e ressignificar padrões disfuncionais. "Com autoconhecimento e ferramenta adequadas, é possível ressignificar essas experiências, romper com contratos inconscientes e construir relações mais autênticas e enriquecedoras", afirma Lizandra Arita.
O acompanhamento com um psicólogo, segundo ela, ajuda não apenas a compreender as origens dos comportamentos, mas também a desenvolver habilidades sociais e emocionais que podem melhorar significativamente a qualidade de vida.
Crescer sem amigos na infância pode deixar marcas profundas, mas essas experiências não precisam definir o futuro. Ao identificar os padrões de comportamento e trabalhar para transformá-los, é possível construir uma vida adulta mais equilibrada e saudável.
Leia mais: Terapia é para quem precisa de “conserto”? Psicóloga desvenda se é todo mundo que precisa fazer