Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação...
iUma dúvida que costuma gerar até discussões familiares em relação às crianças é o quanto se deve agasalhar e qual a sensibilidade de um bebê às mudanças de temperatura. Muita roupa? Pouca roupa? Vai sair assim? Algumas informações são importantes para que se tome a decisão adequada nessa questão.
Bebês, independente de idade, sentem frio e calor e conseguem, por várias formas, demonstrar essa sua sensação, mesmo como recém-nascidos. Os menorzinhos tentam se fazer entender através de choro (que nem sempre é só de fome), de incômodo e de reações orgânicas (suor, por exemplo).
O maior órgão do nosso corpo é a pele (em superfície corporal). E é a pele o primeiro órgão de defesa de nosso corpo contra microorganismos, como as bactérias, substâncias químicas e agentes físicos agressores que tentam invadir nosso organismo. A pele do bebê é muito fina e mais sensível e por isso precisa de atenção.
A troca de calor também é feita pela pele. No frio, os vasos se contraem, a circulação não acontece de forma intensa, as crianças podem parecer pálidas, para que não se perca o calor do corpo. Já quando o clima está quente (ou a criança com febre), os vasos da pele se dilatam, ocorre um rubor (pele fica vermelha), aumenta a eliminação do suor que evapora na pele, levando o calor embora. Esse processo nos mantém na chamada homeotermia. Até os 6 meses de vida, aos bebês ainda não apresentam essa capacidade totalmente desenvolvida.
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Por isso, não é real a informação que bebês sentem mais frio ou mais calor do que crianças maiores ou adultos. O que acontece é que os bebês não conseguem manter sua temperatura corporal constante (sistema termorregulador), dentro da faixa de normalidade, independente da temperatura externa.
A transpiração do bebê ainda não é tão desenvolvida quanto à de um adulto, até porque seus sistemas ainda estão em formação e desenvolvimento. Se bebês não transpiram terão, naturalmente, maior dificuldade de perda de calor.
A cabeça é uma área grande de trocas e, assim, de perda de calor, quer seja nos bebês mais carequinhas ou mesmo nos mais cabeludinhos.
Tão ou mais prejudicial do que o ar provocando o frio na pele é o ar frio que o bebê respira e entra em contato, pelas vias aéreas superiores, com nosso sistema respiratório. Dores de ouvido, de garganta, quadros de alergias respiratórias pode ser desencadeados pela inalação de um ar mais frio, que não consegue ser aquecido antes de ter o contato com os pulmões do bebê, por exemplo, como os adultos conseguem.
Pés e mãos gelados não significam, necessariamente, que a criança esteja com frio. Nos bebês, e mesmo nos adultos, isso pode representar apenas uma característica circulatória. Quem cpmsegue dormir com os pés gelados de frio? Assim, se um bebê está dormindo, mesmo com mãos e pés mais friozinhos, não é necessário se preocupar e agasalhar. Se ele estiver com frio, ele vai acordar e chorar ou reclamar de alguma forma.
A partir dessas informações, fica mais fácil saber como agir e entender algumas das recomendações médicas que, a princípio, podem parecer estranhas, como as seguintes:
Agasalhar demais pode trazer mais problemas do que soluções. Se uma das formas mais eficazes que o bebê tem de controlar a temperatura é pela pele, cobri-la demais pode atrapalhar esse mecanismo, podendo levar até a um quadro febril. Assim, por mais estranho que possa parecer, se um bebê está com febre, a primeira providência é desagasalhá-lo (não deixa-lo pelado), aguardar 30 minutos e medir novamente a temperatura. Ela deve baixar. Se não acontecer, entre em contato com seu pediatra.
Transpiração é uma forma de ajudar o corpo a perder temperatura. Assim, crianças muito agasalhadas, além de aumentarem sua transpiração pelo calor, não vão conseguir eliminar a hipertermia e o contato do suor com a pele pode causar o aparecimento de brotoejas.
Enrolar a criança (em forma de charutinho) não a protege do frio. Além de correr um maior risco de luxação de quadril, por estar muito apertado nessa área, quando enrolar a criança em um cobertor pode impedir a adequada expansão dos pulmões do bebê, levando a um risco de 25% a mais de Síndrome de Morte Súbita Infantil. Assim, essa forma de "proteger" a criança não é recomendada.
Gorrinhos e luvas podem ser úteis. Como a cabeça é uma grande área de perda de calor, ao sair de casa, para uma temperatura normalmente mais baixa, pode-se proteger a perda de calor pelas mãos (luvinhas), mas principalmente usando o gorro. Use roupinhas confortáveis, evitando tecidos sintéticos ou muito pesados. Prefira roupinhas de algodão, especialmente se terão contato direto com a pele.
Um bebê inquieto, choroso, com rosto vermelho, transpirando no pescoço, na cabeça, no corpinho e com febre pode ser apenas um bebê muito agasalhado.
Mas, não se pode esquecer o outro lado da moeda. Vale a pena proteger o bebê quando se vai a algum lugar com uma temperatura mais fria. Para trajetos curtos (de casa até o carro, sair da garage até entrar em casa), enrolar o bebê em um cobertor pode ser mais prático. Mas, se for levar mais tempo em contato com o frio é preferível usar várias roupas fáceis de por ou tirar, pois, se a temperatura começar a subir ou a criança mostrar um desconforto pelo excesso, é possível tirar ou colocar um pouco de cada vez.