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No Dia Nacional de Combate ao Câncer da Pele (30 de novembro), a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) promoverá um dia inteiro dedicado a examinar a população para prevenção e diagnóstico da doença, que deve registrar mais de 140 mil novos casos este ano no Brasil, de acordo com estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Este ano, cerca de quatro mil médicos voluntários e outros profissionais da área de saúde irão fazer o atendimento gratuito em 139 postos montados nos serviços de saúde instalados em 24 estados.
Entre 9h e 15h, o paciente será submetido à avaliação clínica e, se for diagnosticado com câncer da pele, será encaminhado para tratar a doença - tudo gratuitamente. Quem for a um desses postos terá acesso a palestras informativas e receberá folhetos com informações sobre a doença e sobre proteção solar. Clique aqui para ver os hospitais participantes do mutirão para diagnóstico de câncer de pele.
Para aqueles que já receberam o diagnóstico de câncer de pele não melanoma, o tratamento mais indicado, chamado de "padrão-ouro", é a cirurgia para retirada do tumor. "Dessa forma, a cirurgia é sempre a primeira escolha de tratamento para o câncer de pele", afirma o dermatologista Marcus Maia, Coordenador do Programa Nacional de Controle do Câncer de Pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Entretanto, algumas pessoas podem não ter indicação para cirurgia - no geral idosos com alguma comorbidade ou pessoas acamadas, que tem dificuldade de locomoção. Há outras situações em que a cirurgia somente pode não ser suficiente para a retirada total do tumor, ou que o comportamento deste possa pedir outras medidas.
Nesses casos, o médico pode indicar outras medidas para erradicação do câncer. Entenda como é feita a cirurgia para o câncer de pele e conheça outras opções de tratamento quando o procedimento não está indicado:
Excisão cirúrgica
A cirurgia é considerada o padrão-ouro dentre os tratamentos disponíveis para câncer de pele, por permitir uma avaliação das margens do tumor. A excisão cirúrgica é feita com um bisturi, e consiste retirada da pele que contém a lesão mais uma margem de segurança de pele não cancerosa, cujo tamanho varia conforme o tipo de câncer. É pela análise dessa margem que os especialistas vão garantir que o tumor foi retirado completamente. Essa cirurgia é indicada para todos os tipos de câncer de pele.
"Os riscos envolvidos são pequenos, dependendo da situação clínica do paciente e da extensão do tumor", diz o dermatologista Paulo Issa, coordenador da campanha de alerta para o Câncer de Pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia Regional Rio de Janeiro (SBD-RJ). Entretanto, existem algumas condições que podem contraindicar uma cirurgia, e essas devem ser indicadas pelo médico. Nesses casos existem os outros tratamentos que podem ser utilizados.
Cirurgia de Mohs
Essa técnica é uma melhoria da cirurgia padrão, permitindo a visualização microscópica das células tumorais, tornando possível assim a sua retirada seletiva, com o mínimo dano a pele normal. "Tumores de margens mal delimitadas e neoplasias recidivadas após tratamento adequado são focos do procedimento", afirma a dermatologista Selma Cernea, do Hospital Israelita Albert Einstein. A cirurgia de Mohs também está indicada para tumores de pele mais agressivos, que apresentam maior chance de recidiva, para se ter certeza de que o câncer foi completamente removido. É uma cirurgia extensa e que mobiliza uma equipe médica e um patologista durante muitas horas, indicada apenas em caso de exceção.
Durante a cirurgia de Mohs, o cirurgião utiliza um bisturi para remover a porção visível do cancro juntamente com uma camada fina de tecido subjacente. Em seguida o cirurgião leva este tecido ao laboratório para análise, de forma que ele possa saber quantas camadas de tecido exatamente foram afetadas pelo câncer de pele e em quais locais. Avaliado o tecido, o médico irá saber onde exatamente se encontram as células cancerosas, se é necessário continuar retirando o tecido e aonde. Dessa forma, camadas de pele contendo o câncer são progressivamente removidas e examinadas até que sobre apenas tecido sem câncer. O objetivo é remover o máximo de cancro da pele possível com o mínimo de danos ao tecido saudável circundante.
Pomadas imunomoduladoras
"Alguns tumores muito superficiais e pequenos podem ser tratados com pomadas imunomoduladoras com bons resultados", afirma a dermatologista Selma. Segundo o dermatologista Marcus Maia, Coordenador do Programa Nacional de Controle do Câncer de Pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia, as pomadas são mais usadas para o tratamento da pele onde o câncer já foi retirado, uma vez que as células no entorno do câncer que ali existia já podem ter se tornado cancerosas - e a pomada garante o tratamento dessas. Esses produtos atuam modificando a resposta imunológica do organismo, favorecendo a remissão de lesões específicas da pele.
Segundo o dermatologista Paulo, a aplicação da pomada pode ser indicada para carcinomas basocelulares superficiais no tronco, lesões na face não muito extensas e sem infiltração - exceto na chamada zona T, correspondente a região da testa, nariz e queixo - e no caso dos carcinomas espinocelulares "in situ". O tratamento dura de seis a doze semanas e costumam provocar uma grande irritação na área aplicada, com aparecimento de vermelhidão, inchaço e descamação. Marcus também afirma que essa terapia é utilizada como exceção, uma vez que os tumores superficiais também podem ser retirados com cirurgia.
Terapia fotodinâmica
"Essa pode ser usada com sucesso para o tratamento de carcinomas basocelulares superficiais e primários fora da face", explica o dermatologista Paulo. De acordo com Selma Cérnea, a terapia fotodinâmica também é indicada para pacientes que apresentam um grande número de lesões pré-malignas na face ou no couro cabeludo. O tratamento se realiza com a aplicação inicial de um creme, que deve permanecer sobre as áreas a serem tratadas por cerca de duas a três horas.
Passado este período o paciente deve ficar exposto por alguns minutos a uma luz de comprimento de onda específico. Esse período de exposição provoca uma ardência na pele que, explica Selma, pode ser bastante doloroso. "Nos dias seguintes ao procedimento surge vermelhidão e inchaço na pele tratada, porém com o passar do tempo os resultados estéticos costumam ser muito bons." O produto utilizado para a terapia fotodinâmica não estão mais disponíveis no mercado e devem ser manipulados em consultório.
Crioterapia
Geralmente feita com a aplicação de nitrogênio líquido, a crioterapia está indicada para o tratamento de lesões pré-malignas, tumores bem delimitados, tumores localizados em áreas que não correm riscos de terem penetrações mais profundas, tumores superficiais no tronco ou tumores primários na face que não ultrapassem meio centímetro e não sejam recorrentes. Também é uma opção para pacientes debilitados, com marca-passo ou em uso de anticoagulantes.
"A técnica funciona com o emprego do nitrogênio líquido, conservado a 196 graus celsius negativos, que quando em contato com a pele vai a 70 graus celsius negativos aproximadamente, provocando a destruição das células tumorais", declara Paulo Issa. Por provocar a destruição dos tecidos por meio de uma queimadura na pele, a crioterapia frequentemente leva ao aparecimento de bolhas. "Estas merecem cuidados intensivos com aplicação de compressas e curativos nos locais tratados, e ainda sim podem gerar cicatrizes", ressalta a dermatologista Selma.
Curetagem e eletrocoagulação
O dermatologista Paulo conta que a curetagem é um método usado para remover várias lesões de pele, tanto benignas quanto malignas superficiais, utilizando um instrumento chamado cureta. O procedimento é uma espécie de raspagem da pele, retirando assim as camadas superficiais da pele. "A eletrocoagulação é uma técnica cirúrgica feita com uma agulha com corrente elétrica, por onde é liberado calor sobre a pele, destruindo a base do câncer que não foi retirada pela curetagem", diz. O procedimento, também chamado de eletrocautério, é indicado no tratamento de carcinomas basoscelulares múltiplos, preferencialmente superficiais, tanto no tronco quanto na face. Esse também é um tratamento de exceção para a cirurgia
Laser de CO2
Assim como o eletrocautério, a destruição dos tecidos provocada pelo laser de CO2 ocorre pelo calor. "A grande diferença é que nessa técnica existe uma maior precisão da aplicação desta energia, fazendo com que a pele saudável na vizinhança do tumor seja poupada, resultando em menor cicatriz", afirma a dermatologista Selma. Está indicada para o tratamento de tumores bem delimitados e superficiais. Segundo Paulo Issa, o laser de CO2 também é um instrumento para melhorar as cicatrizes decorrentes de outros tratamentos para câncer da pele. "Ele vaporiza a pele onde está localizada a cicatriz, possibilitando a formação de novas camadas de pele com melhor qualidade em seu lugar."
Radioterapia
"A radioterapia atualmente é pouco utilizada nos tratamentos de câncer de pele, devendo ser indicada nos casos em que o paciente não apresenta condições cirúrgicas ou não pode ser encaminhado para outros tratamentos", ressalta Selma Cernea. Ela também pode ser utilizada como complemento da cirurgia em tumores mais agressivos, ou que se espalharam para os gânglios linfáticos. Ela deve ser feita em consultório e a aplicação é diária, sendo que seu tratamento gera inflamações na pele.
"A radioterapia deve ser evitada em pacientes jovens com história de irradiação prévia e/ou excessivamente claros, além de não ter indicação para áreas com propensão para traumatismos, como proeminências ósseas, e áreas de crescimento capilar, como sobrancelhas e cílios", alerta o dermatologista Paulo.