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A autoestima é um valor essencial para nossa formação. "Ela representa o quanto eu gosto de mim, como eu me relaciono comigo mesmo e, a partir disso, como eu me relaciono com o mundo", nos explica a psicóloga infantil Daniella Freixo de Faria, formada pela PUC-SP. E é muito importante que ela seja construída desde a infância, afinal a criança é um ser humano em formação e está construindo sua base. Para esclarecer melhor essa questão, esse foi o tema do Minha Viva ao Vivo, transmitido dia três de dezembro. O evento foi uma conversa ao vivo com a psicóloga Daniella, seguido de um chat com a especialista. Se você perdeu, confira os melhores momentos do chat aqui!
Sergio: Fui bem rigoroso com meus filhos, um hoje tem dezessete e o outro treze. Percebo que eles têm por mim um sentimento mais próximo ao medo. Posso reverter isso?
Daniella Freixo de Faria: Lógico que pode, Sérgio. Só sua vontade de mudar já faz uma grande diferença. Com a idade que eles estão hoje é possível ter boas conversas, fazer bons combinados e quando algo não funcionar da maneira como deveria, corrigir de um lugar de muito respeito e carinho.
Eucelena Aparecida Silva: Tenho dois filhos adotivos e são crianças sofridas com o abandono e rejeição. Como lidar com eles?
Daniella Freixo de Faria: Você já fez a maior ação que foi trazer essas crianças para a sua vida para dar amor, reconhecimento e carinho. O foco agora é o cuidado e é o andar para a frente porque muitas vezes nós focamos no sofrimento que essas crianças tiveram e que entendemos como sofrimento e deixamos de cumprir nosso papel de educador porque o nosso foco é não gerar mais sofrimento. Na realidade o foco é a educação, o amor, a formação dessas duas crianças. Você é a parceira nessa caminhada para resignificar essa história.
Aula: Minha filha é péssima nos esportes e sempre é a ultima a ser escolhida, isso afeta demais a autoestima dela, como posso ajudá-la?
Daniella Freixo de Faria: Duas coisas são importantes. A primeira é montar uma parceria com a escola e verificar se há uma variedade na forma de escolher os times. As escolas hoje costumam alterar bastante esse método. Uma hora tem alguém que escolhe, outra hora o professor sorteia. Mas o principal é você ver com ela qual a postura dela em jogo. Se ela tem medo da bola, se ela fica mais passiva e ai trabalhe com ela que para mudar esse resultado ela precisa mudar a postura em campo.
Camila: Tenho gêmeos com perfis completamente diferentes, um com autoestima extrema e outra zero autoestima. Como conciliar isso na educação deles?
Daniella Freixo de Faria: É importante olhar cada uma das crianças como única e cuidar para não rotular o funcionamento de cada uma delas. Evitar comparações e reconhecer nessas duas crianças o que elas dão conta de fazer. Sempre focar nas necessidades de ambas.
Elson Marino Ferri: Um pai que grita com seus filhos, quando eles não obedecem, é certo, errado ou prejudicial?
Daniella Freixo de Faria: O que acontece com o grito é que a criança vai parar o que está fazendo, mas porque se assustou e não porque compreendeu que é uma boa atitude. A criança vai ficar sempre em estado de alerta, é importante que o pai avise como está se sentindo dentro daquela situação e avisar que na próxima vai falar muito bravo, o grito ele demonstra descontrole e então a criança não aprende e a distância entre pai e filho aumenta.
Grace Mairy Castro: Por que minha filha de nove anos se sente tão rejeitada, tudo se envergonha e quando recebe elogio ela chora?
Daniella Freixo de Faria: Muitas vezes receber elogios é algo difícil e deve ser aprendido. Passe a elogiar as atitudes e o processo que a criança está passando de maneira íntima, não na frente de outras pessoas. Isso faz com que ela se perceba melhor dessa forma e isso impulsione ela a melhorar mais.
Sonia: O que fazer quando um filho diz que amamos mais os outros filhos do que ele?
Daniella Freixo de Faria: É importante fazer um trabalho de resgate, isso é um pedido de atenção e vale a pena intensificar o carinho, esse encontro, para que esse filho perceba que o amor é o mesmo, mas que a relação com cada um é diferente e sempre se dispor a ajudá-lo e estar ali por ele.
Arina: Estimular as crianças a fazer esportes ajuda a criar e desenvolver a autoestima? Quais são mais recomendadas?
Daniella Freixo de Faria: O esporte dá noção do próprio corpo, ela se percebe em um desafio e desenvolve, ou enxergar a trajetória do que iniciou e dá conta de fazer. Algumas variantes: pode ser coletivo, ela se percebe e também tem a oportunidade do relacionamento com as outras crianças. Ou pode ser individual como natação, tênis e dança, ela vai ter essa percepção dela com ela mesma. O esporte em si é um jeito muito legal de você se experimentar.
Rosália: Qual a melhor maneira de falar com uma adolescente de 12 anos que ela está precisando emagrecer?
Daniella Freixo de Faria: Eu acho que se deve abordar o assunto assim, falando que ela precisa emagrecer e sim falar que vocês precisam cuidar da nossa alimentação, fazer mais exercícios e para isso criar o dia da porcaria e o dia de comer direito e seguir isso. É importante os pais fazerem isso junto, dar o exemplo e a companhia.
Jane: A criança que passa o dia todo na escola pode sentir se menos amada?
Daniella Freixo de Faria: O importante é manter uma boa qualidade de encontro quando está com a criança, para educar e brincar e não para fazer tudo que ela quer. Com isso, essa criança vai perceber que a vida é assim e que nem sempre ela terá os pais, mas quando os tiver, esse tempo será de qualidade.
Andrea: O fato do meu filho não ir bem na escola, e eu reclamar muito por isso, sempre pedindo pra ele tentar melhorar, pode afetar a autoestima dele?
Daniella Freixo de Faria: Não afeta, mas ficar apenas reclamando não ajuda muito. Por que você não tenta montar um esquema de estudo, mostrar que primeiro ele tem que cuidar dos deveres e depois ele pode brincar e, principalmente, ajudá-lo a criar o hábito de estudar. Não adianta não ajudar e depois apenas criticar. Ao perceber que consegue, seu filho se sente melhor e tudo gira.
Cíntia: Sinto minha filha de onze anos às vezes entristecida em não ser umas das garotas populares da escola, o que fazer ela não se sentir assim?
Daniella Freixo de Faria: Acho que o mais importante é desmistificar essa história de ser popular, isso é uma crença, nem sabemos se essas crianças serão amigas dela mesmo. No lugar de fazer isso, porque não investir nas amizades, investir em três amigas da escola, por exemplo, e incentivar sua menina chamá-las pra ir em casa, participar disso. Por que muitas vezes as crianças não sabem como gerar intimidade e podemos ajudar incentivando uma proximidade fora da escola. Quando as outras crianças começarem a ver como ela é legal com essas amigas podem querer se aproximar também.
Janine Castro: Como melhorar a autoestima de uma adolescente que está cercada pela mídia de "modelos de perfeição"?
Daniella Freixo de Faria: Uma opção é oferecer outras referências, tirar um pouco da frente da TV, talvez contar que existem recursos para que essas pessoas fiquem tão bonitas, como o photoshop, e o mais importante é falar para a filha focar no seu melhor. Olhar para atriz ou cantora é legal, mas ainda não é a sua filha. É possível falar para sua filha que ela pode cuidar da pele, se alimentar melhor, mas o mais importante é se amar muito.
Adriana Ciqueira: Apelidos, comentários depreciativos e comparações feitas pelos pais podem influenciar a autoestima de crianças e adolescentes?
Daniella Freixo de Faria: Pode atrapalhar muito. Os apelidos representam uma ironia depreciativa, é uma brincadeira que na verdade não é uma brincadeira. Uma brincadeira só é uma brincadeira quando duas pessoas estão se divertindo. O apelido, que não seja pelo nome ou que ela goste, existe um desconforto e é um sinal e que talvez a criança se sinta mal. Já os comentários depreciativos podem fazer com que a criança ache que é algo que ela não é, afinal ela é um ser humano em formação. Comparamos para ajudar, normalmente, mas quando isso acontece entre irmãos, as duas crianças podem entrar em competição também. E as comparações levam a criança a ter suas referências fora de si mesma, querendo ser melhor do que os outros e não ser melhor do que ela já é. Quando eu tenho que olhar para o vizinho para me localizar, minha referência está fora de mim, e autoestima ocorre quando essa referência vem para dentro.
Renata: O que fazer para não afetar a autoestima dos filhos numa separação?
Daniella Freixo de Faria: Cuidar do relacionamento entre esse marido e mulher para que eles se respeitem sempre. Entendam que o único motivo por que eles vão seguir conversando para o resto da vida é esse filho. A criança nesse momento está muito fragilizada sim, é uma questão de segurança emocional mesmo, se questiona se a vida dela com essas pessoas que ela ama tanto vão continuar da mesma forma. Mas vai continuar da mesma maneira sim, no sentido do amor e dessa importância. Quando ela percebe que tem os dois e eles estão mais felizes, ela se acalma. Mas o processo inicial pede mais encontros, presenças e acolhimento. É uma fase sensível em que ela tá num momento em que as referências que ela tinha se desmontam e isso pede cuidado.