Graduada em Odontologia pela Universidade de São Paulo (USP) desde 2004, Fabíola tem vasta experiência na área, atendend...
iO uso de chupetas ou a sucção dos dedos têm elevado o número de problemas nos dentes em crianças que por algum motivo não receberam o aleitamento natural materno. Quando o bebê é alimentado com a mamadeira, a necessidade nutricional é suprida, mas a necessidade emocional e a de sucção não o é. Desta forma, as crianças adquirem facilmente esses hábitos de sucção não nutritiva (ou seja, chupar o dedo ou a chupeta) e muitas vezes ficam dependentes emocionalmente deles.
Todos sabem que a chupeta tem o poder de acalmar e muitas vezes silenciar os bebês de maneira rápida e simples e nos dias atuais, o uso de chupetas em crianças tem se intensificado fortemente. Mas apesar da chupeta ser vista como a solução de muitos problemas, é necessário que os pais saibam sobre os pontos negativos relacionados a isso, inclusive problemas que vão desde consequências no desenvolvimento físico e até psicológico da criança.
Malefícios de chupar o dedo ou chupeta
Antes de oferecer esta opção para os bebês, vale ressaltar que o uso prolongado da chupeta e do dedo prejudica o correto crescimento e desenvolvimento das estruturas orais e faciais, atrapalhando na mastigação, fala, deglutição e respiração da criança. As alterações vão variar de acordo com a intensidade da sucção, frequência, posição do dedo ou chupeta na boca, padrão de crescimento facial (determinados por fatores genéticos) e do tempo em que o hábito permanece.
Os danos do dedo podem ser potencialmente maiores, pois a pressão exercida nos dentes e arcadas é maior. Portanto é aconselhável que caso os pais percebam que o bebê está com tendências à sucção de dedos, tentem trocar pelo uso de chupetas.
Os ossos da face crescem de maneira errada e desigual, as arcadas ósseas ficam estreitas, com o céu da boca profundo, causando também desvios de septos nasais, pois diminui o espaço da cavidade nasal. Com tudo isso, ocorre uma predisposição maior para o aparecimento de alergias respiratórias, como rinites, sinusites, adenoides hipertrofiadas, entre outros, prejudicando profundamente a saúde e a qualidade de vida das crianças.
Com o uso de chupetas, a mastigação que deveria ser bilateral e alternada, passa a ser vertical ou de um lado só, afetando as articulações temporomandibulares e os ossos da maxila e mandíbula. Se durante uma importante fase de crescimento da criança essas estruturas são estimuladas incorretamente, elas vão sofrer alterações no desenvolvimento e consequências futuras como problemas articulares (estalos, dor, travamentos etc), falta de desenvolvimentos dos maxilares e até deformações na face.
Outra consequência envolvida no uso de bicos artificias são alterações nos encaixes dos dentes superiores e inferiores conhecidas como mal oclusões dentárias como mordida aberta, mordida cruzada unilateral ou bilateral, retrognatia mandibular (quando a mandíbula não consegue desenvolver no sentido anterior e fica posteriorizada), apinhamentos dentários (falta de espaço para os dentes) o que caracteriza os "dentes tortos" ou até mesmo haver a necessidade de extrair alguns dentes permanentes.
Outro caso possível de ocorrer é o dente permanente ficar impactado, ou seja, preso em outro dente e ficar dentro no osso, não conseguindo erupcionar normalmente, precisando ser removido cirurgicamente.
Durante a sucção do bico artificial da chupeta, o bebê utiliza incorretamente a musculatura da língua, bochecha e dos lábios, levando à diminuição da tonicidade muscular Isso atrapalha nos movimentos e força necessários, prejudicando o aleitamento natural. O bebê acaba por repetir o exercício que faz com a chupeta, deixando a língua numa posição incorreta, o que impede um selamento ideal, pois ele não consegue sugar o leite e não estimula a produção, causando até machucados na mãe.
A sucção não nutritiva está entre as causas da síndrome da respiração bucal, envolvendo todas as alterações musculares e esqueléticas já mencionas. Durante a respiração pela boca, o ar inspirado não passa pelo processo de filtragem, aquecimento e umedecimento que ocorre na respiração nasal, assim o organismo fica sujeito a uma série de doenças respiratórias. A respiração bucal também causa alterações físicas na face, alterações na fala, problemas dentários e nas arcadas e problemas de crescimento, com alterações na postura corporal. Além disso, diminui qualidade de sono, consequentemente prejudicando a atenção nos estudos.
Durante os primeiros anos de vida, o metabolismo e a maturação das funções vitais estão mais acentuados e acelerados, neste caso a chupeta e o dedo são ainda mais agressivos.
Com todas essas consequências causadas pela sucção de dedos e/ou chupetas, sabe-se que seus efeitos nos músculos e ossos podem ser irreversíveis ou de tratamento complexo e multiprofissional. Os fatores externos podem influenciar fortemente no desenvolvimento de todo o complexo organismo do ser humano.
Mesmo a chupeta sendo removida com pouca idade, os efeitos negativos já ocorreram e já afetaram o desenvolvimento da criança. Posteriormente poderá ser feita uma correção dentária com o uso de aparelhos, e então, melhorando o encaixe e a posição dos dentes, porém, as alterações funcionais são mais difíceis de serem revertidas e muitas vezes dificultam os tratamentos ortodônticos e ortopédicos ou fazem com que os dentes voltem às posições iniciais, pois toda a musculatura está alterada. Nesses casos, é muito importante que o tratamento ortodôntico seja feito em conjunto com fonoaudiólogos e médicos otorrinolaringologistas.
Como remover o "vício" da chupeta e dedo?
O uso de chupetas e dedos é, provavelmente, um dos sintomas relacionados a alterações emocionais e psicológicas com causas diversas e representa um momento em que a criança sente prazer, calma e proteção. É importante que os pais tenham cuidado com o modo de remoção do hábito e que seja feito com paciência e carinho, caso contrário pode levar a outros problemas psicológicos ou à substituição por outros hábitos nocivos, como roer unhas, sucção de bochechas ou lábios ou morder objetos.
O incentivo deve ser de maneira gradativa, com atividades lúdicas, conversas e com a colaboração da criança. Algumas dicas para facilitar a remoção da chupeta são limitar o uso (usar somente na hora de dormir e tirá-la assim que a criança adormecer), evitar o uso de prendedores - para que a chupeta não fique ao alcance da criança a qualquer momento - e não deixar a objeto presente em todos os lugares.
Para a criança parar com o hábito de sucção de dedo é um pouco mais difícil. Muitas vezes acaba por colocar o dedo na boca inconsciente ou em momentos que se sinta mais frágil, e isso pode perdurar por muitos anos na sua vida. O mais aconselhado é trocar pela chupeta quando se percebe esse tipo de impulso na criança, devido aos danos maiores que o dedo pode causar.
Qual a melhor idade para remoção da chupeta?
A idade ideal para incentivar a criança a remover o hábito depende do risco que cada uma tem para desenvolver problemas dentários e esqueléticos e dos malefícios que esse hábito está causando para toda a saúde da criança. Tudo isso deverá ser avaliado por um especialista o mais cedo possível para que os pais possam ser devidamente orientados.
Com tudo isso, minha dica primordial é evitar, ao máximo, oferecer chupetas aos bebês e incentivar o hábito de colocar os dedos na boca. Vários estudos mostram que crianças que recebem aleitamento materno acabam por ter menos o hábito de sucção de dedos ou chupetas.
A alternativa é tentar lidar de outras maneiras com os choros e inquietações, com carinho e atenção, oferecendo brinquedos e mordedores ou distraindo com outras atividades que envolvam o uso das mãos. Tudo isso para que os filhos possam ter um crescimento e desenvolvimento adequados e tenham uma infância feliz e saudável, como todos os pais desejam.