Nutricionista, graduada pelo Centro Universitário São Camilo, em São Paulo, com especialização em Nutrição de Doenças Cr...
iPerder peso virou tratamento de urgência. Bom seria se existisse uma UTI - Unidade de Terapia Intensa -para atender tantas pessoas que buscam o emagrecimento rapidamente. Melhor ainda se esse procedimento pudesse ser seguro e adequado para atender a demanda de saúde. Ainda mais, o ideal seria que o emagrecimento fosse um tratamento apenas de quem realmente precisa, seguindo orientações embasadas cientificamente, sem modismos e promessas de rápidos resultados.
Inicialmente todos os tratamentos emagrecedores seguem o mesmo princípio básico do desequilíbrio calórico. Come-se menos do que gasta ou gasta-se mais do que se come. Um conceito simplista para se adequar à máquina tão complexa que é o corpo humano. Há tantos mecanismos intrincados na gênese da obesidade, que vão desde hormônios que sinalizam fome e saciedade, sistemas cerebrais que envolvem aprendizado alimentar e resposta de prazer à ação do próprio tecido gorduroso. A dieta equilibrada vai além da proposta de déficit calórico, busca ofertar os nutrientes de forma segura para interagir com esses mecanismos ou influenciá-los de forma positiva, gerando o emagrecimento contínuo e a manutenção do peso perdido.
As dietas com propostas emagrecedoras não acadêmicas atendem a demanda da sociedade atual. Geralmente são hipocalóricas, independente das propostas, como sem glúten, sem lactose, sem carboidratos, líquidas, entre outras, levam ao emagrecimento rápido e veloz. Tão interessante e motivador. Os níveis de autoestima vão ao pico e a felicidade parece que nunca vai acabar. Mas essas dietas não consideram os mecanismos complexos associados ao ganho de peso, e de repente, ele não ocorre mais. Tudo igual, mesma dieta, mesma disciplina, mesmo controle, e nem um quilinho a menos. Vários argumentos tentam explicar esse fenômeno: "o metabolismo deve ter mudado", "é a idade" ou o mais óbvio "essa dieta não funciona mais". Ocorre o que chamamos popularmente de "efeito platô".
O efeito platô pode ser explicado pelas alterações naturais do corpo em detrimento à baixa oferta calórica. Quando a oferta alimentar é muito aquém das necessidades do corpo humano, ele se arma de mecanismos que protegem seus estoques, evitando a queima calórica e reduzindo seu trabalho metabólico. É como se corpo estivesse se protegendo da desnutrição. A resposta imediata é o fim do emagrecimento e o pior, o próximo passo é o reganho de peso, praticamente inevitável. Ainda que nesse momento as pessoas busquem seguir uma dieta equilibrada, será quase impossível impedir o ganho de peso.
Além disso, sempre que se promove um rápido emagrecimento, a composição do peso perdido é, em sua maioria, massa muscular e água. O músculo é o maior responsável pelo trabalho metabólico e queima calórica do corpo humano e quando há diminuição de massa magra naturalmente a queima calórica de um corpo cai, reduzindo assim sua necessidade alimentar. Se o organismo já esta recebendo pouco, não há como reduzir ainda mais o consumo, logo não há mais possibilidade de emagrecer. Além disso, o emagrecimento à custa de músculo causa flacidez, tudo que todos, principalmente as mulheres, abominam.
Apesar dos riscos, as dietas da moda continuam a encantar muitas pessoas graças às promessas milagrosas de perda de peso, criando uma legião de pessoas insatisfeitas, com várias histórias de efeito sanfona e incapacidade de continuar a perder peso. Após tantas tentativas de emagrecer seguindo orientações equivocadas, a resposta do corpo, mesmo com atividade física e dieta balanceada, é menor e a orientação mais eficiente nesses casos é a paciência.
Perder peso é um tratamento de saúde. Não atende a nenhuma urgência e não deve ser encarado como puramente estético. Os riscos são conhecidos e não devem ser subestimados. Afinal, conhecer o efeito platô só é bom na teoria!