Possui graduação em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1981), doutorado em Ginecologia, Obstet...
i Para esta coluna, escolhemos falar sobre tratamento da endometriose, que é a presença de endométrio - tecido de revestimento da cavidade uterina - em outros locais do corpo, como na região pélvica, ovários, trompas, intestino e peritôneo.
O endométrio cresce e se descama em forma de menstruação a cada ciclo como resultado das alterações hormonais femininas. Nos focos de endometriose também ocorre esta ciclicidade, só que a descamação fica retida, causando reação inflamatória, fibrose e dor. Este é um problema muito frequente com sintomas diversos, não específicos, às vezes sem correlação com o volume da doença e podendo ser assintomática.
Por isso, é difícil avaliar sua incidência real na população, além de realizar o diagnóstico precoce. A videolaparoscopia com biópsias e o anatomopatológico são o que chamamos de padrão ouro para a identificação do problema.
Suspeitamos da endometriose quando, entre outros fatores, há dor menstrual importante, crescente e incapacitante, principalmente que perdura após a menstruação. Sua frequência é muito grande em pacientes com infertilidade, chegando a até 50% dos casos se comparado com 6 a 7% sem infertilidade, demonstrando que existe uma grande ligação da infertilidade com endometriose.
Os hormônios são fundamentais para a manutenção e crescimento da endometriose, portanto a ocorrência é maior entre os 25 e 35 anos. As mulheres que menstruam menos, como as que possuem múltiplos partos, maior tempo de aleitamento, menarca mais tardia e menopausa precoce, têm efeito protetor contra a endometriose. Sendo que o contrário, ou seja, mulheres com ciclos prolongados, são mais suscetíveis.
A partir dos sintomas, diagnóstico clínico e exames de imagens, fazemos o estadiamento da doença para avaliarmos o melhor tratamento e seguimento. Como vimos, o endométrio depende de hormônios para crescer e descamar, portanto, podemos usar medicamentos que atrofiem o endométrio e os focos de endometriose, como pílulas, progesteronas e os análogos que induzem a mulher a uma menopausa temporária. As cirurgias são necessárias para o diagnóstico e principalmente nos casos de doenças avançadas para retirada dos implantes.
Muitas vezes a endometriose envolve outros órgãos da pelve, sendo preciso retirar parte deles como intestino, bexiga etc. São as chamadas endometrioses profundas. Nestes casos a equipe cirúrgica deve estar preparada para esta abordagem por laparoscopia junto com o cirurgião gástrico tratar todos os tipos de complicações que possam ocorrer durante a cirurgia. Além da laparoscopia já consagrada, a cirurgia robótica permite ao médico treinado uma facilidade maior em operar os casos complexos. Em geral, o tratamento precisa combinar a cirurgia com tratamento clinico para melhor controle, uma vez que a recidiva é muito frequente, proporcional a extensão da doença e o sucesso da retirada dos implantes na cirurgia. Cerca de 20% recorrem nos dois primeiros anos e 50% após cinco anos.
A endometriose é uma doença crônica de muitas faces, sintomas indeterminados, prolongados, por vezes incapacitantes, tratamentos diversos e multidisciplinares. Por isso, a conscientização da paciente e o acompanhamento por uma equipe médica especializada em todos os tipos de abordagens são fundamentais para uma melhor qualidade de vida da mulher com endometriose.
Saiba mais: Endometriose: laparoscopia ou cirurgia?