Médico do corpo clínico dos Hospitais e Maternidades Santa Joana e Pro Matre Paulista. É professor associado a disciplin...
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De diagnóstico mais difícil e muitas vezes negligenciada, a endometriose vem ganhando destaque nos últimos anos em decorrência dos índices alarmantes da doença em mulheres na fase reprodutiva: só no Brasil, estima-se que 1 a cada 10 sofram com os sintomas, segundo dados do Ministério da Saúde.
Médico do corpo clínico do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista, o ginecologista Rogers Camargo afirma que os números não estão necessariamente relacionados a um crescimento dos casos: “Talvez nós estejamos tendo um maior acesso à informação, portanto as pacientes estão se conscientizando mais da possibilidade da doença e os nossos recursos de diagnóstico também melhoraram”, esclarece.
Além da alta prevalência, a dificuldade na detecção levou ao surgimento do Março Amarelo, uma campanha dedicada exclusivamente à conscientização e prevenção da doença.
A iniciativa nasceu em solo americano no começo dos anos 90 por Mary Lou Bellweg, ativista feminina de saúde e fundadora da primeira associação voltada à doença no mundo, a The Endometriosis Association. Durante uma semana de conscientização sobre endometriose, Mary Lou percebeu que 7 dias não eram suficientes para debater a importância de disseminar informações sobre a doença, estendendo a discussão para o mês inteiro com a criação do Março Amarelo.
O movimento ficou conhecido no mundo inteiro e até hoje tem a missão de acelerar o diagnóstico.
O atraso na descoberta
A endometriose é caracterizada como uma doença crônica, de grande relação genética, desenvolvida durante o período reprodutivo. O endométrio, camada que reveste a parede do útero e que descama no período menstrual, se aloja em outros órgãos do corpo, causando uma dor que se confunde com fortes cólicas menstruais.
A normatização dos verdadeiros sintomas como parte do processo do período menstrual é um dos principais motivos para o atraso do diagnóstico, que costuma levar, em média, 8 anos.
“Acreditamos que isso esteja relacionado a países em desenvolvimento como o Brasil e os países da América Latina, mas essa demora acontece em âmbito mundial. Aqui, na Europa, Ásia e em vários lugares ainda se tem um atraso de 7 a 10 anos para chegar ao resultado, já que a paciente costuma não tomar atenção ou minimizar os sintomas”, ressalta Camargo.
A raiz do problema pode ser explicada por fatores culturais, no qual dores constantes são colocadas como manifestações comuns da época da menstruação, o que atrapalha no conhecimento da própria doença. Em grande parte dos casos, a procura por ajuda médica só acontece quando a portadora sente desconfortos e dificuldade de ter orgasmos nas relações sexuais.
A importância do diagnóstico precoce
Além das dores crônicas que acabam afetando a qualidade de vida diária das portadoras, a evolução desse quadro pode comprometer o trato intestinal, urinário ou desencadear em casos de infertilidade, consequências oriundas da má assistência ou não assistência na procura do tratamento.
Na campanha do Março Amarelo, a identificação do diagnóstico precoce como o grande herói no combate da endometriose não é à toa: a descoberta prévia da doença traz mais eficácia aos tratamentos com opções menos invasivas. O primeiro passo para a conscientização é saber que os sintomas são cíclicos e acompanham a menstruação.
Quadros de dor pélvica crônica que mantêm as suas características por um período maior do que 6 meses podem indicar endometriose. Os sintomas da endometriose envolvem:
- cólica menstrual intensa ou incapacitante;
- dor na relação sexual;
- dor relacionada à evacuação no período menstrual, principalmente;
- sangramento intestinal durante o período menstrual;
- dor no esvaziamento da bexiga durante o período menstrual.
“Uma cólica leve que melhore com um analgésico e anti-inflamatório é algo que é possível encontrar dentro de um quadro menstrual normal, mas dores intensas e incapacitantes necessitam de atendimento e acolhimento”, complementa Camargo.