Médica Endocrinologista formada pela UNISA em 1993. Doutorado em endocrinologia pela FMUSP. Médica fundadora do Ambulató...
iO aumento de peso em idades cada vez mais precoces tem despertado a preocupação de todos. Na adolescência ocorrem inúmeras mudanças físicas e psicológicas. Elas são influenciadas por um ambiente social onde comida pouco saudável rica em açúcar, gordura e fast food, sedentarismo e comodidades da vida moderna, como telefones celulares ou sem fio, controle remoto e videogames, predominam.
Quatro em cada dez crianças e jovens brasileiros estão acima do peso. Entre eles, se a mãe ou o pai é obeso, o risco do filho ficar com sobrepeso sobe para 50% e se os dois tiverem obesidade, aumenta para 80%. Isto mostra que os genes tem um papel importante, mas quando a família toda entende esta tendência e escolhe adequadamente os alimentos e opta por ter lazer com mais movimento, o destino pode ser transformado.
Desde os primeiros momentos da vida, a alimentação está ligada com emoções, simbolismos e influências sociais, econômicas e culturais. Crescer e se alimentar implica estabelecer relações, fazer escolhas, identificar-se ou não com modelos e valores familiares ou de outras pessoas, adaptar-se bem ou mal aos padrões estabelecidos e conviver com hábitos, horários e diversos estilos de vida.
O adolescente tem necessidade de marcar novas posições e encontrar sua identidade fora da família e, nessa busca, as questões afetivas ou na área da sexualidade podem ser transferidas para a alimentação. Comer demais ou não comer pode ter significados inconscientes, como uma nova oportunidade de criar amizades. Enfim, o desejo é ser diferente e ainda assim ser igual a todos os amigos na procura do seu espaço. Comer bem não é o mesmo que comer muito ou pouco.
Cuidar do corpo em desenvolvimento é escolher melhor os alimentos para manter um equilíbrio nutricional entre quanto come e quanto queima de calorias, com os extras necessários para garantir o aumento da velocidade de crescimento, que é a característica do estirão da puberdade. E nessa hora, como reconhecer a diferença entre a sensação de fome e saciedade; o que é gula ou se o corpo está adequado ou bonito. O que escolher nas refeições feitas fora de casa e como não se influenciar pela dieta do amigo, pelas informações da mídia e das redes sociais que ditam os modismos alimentares. Além disso, muitos adolescentes que começam a malhar intensamente e sem orientação nutricional adequada, nem sempre conseguem melhorar o rendimento físico, e, pior, o adequado crescimento e desenvolvimento para idade.
Se a ingestão de alimentos for maior que o gasto energético, o adolescente pode ficar obeso e muitas vezes, começa um ciclo vicioso, pois como é gordinho não se aceita e pode sofrer preconceito, o que dificulta sua participação em atividades esportivas, passeios, fazendo-o mais comilão e inativo.
As necessidades calóricas durante a adolescência podem ser estimadas em kcal/cm de altura, variando com a idade, o sexo, a maturação sexual, acrescentando-se os gastos extras com as atividades diárias. O consumo máximo para o sexo feminino deve ser estimado em torno de 2.500kcal na época da primeira menstruação, o que ocorre, em média, entre 12 e 12,6 anos de idade, diminuindo após, progressivamente, para 2.200kcal. Para o menino, as necessidades de ingestão calórica aumentam com o estirão puberal até cerca de 3.400kcal em torno dos 15-16 anos, diminuindo depois para 2.800kcal até o final do crescimento.
A nutrição deve ser uma questão familiar, já que os pais são modelos e responsáveis pelo que se coloca de alimento dentro de casa. Deve-se estimular refeições nos horários corretos, sem nunca pular o café da manhã, por preguiça de acordar mais cedo. O incentivo deve ser agradável para o adolescente. Pode-se discutir as escolhas dos alimentos, as quantidades e os métodos de preparo, orientar os aspectos positivos da dieta em vez dos nutritivos somente; explicar que todos os alimentos podem ser usados com moderação; encorajar mudanças no estilo de vida de toda a família sempre evitando conflitos familiares gerados especialmente durante as horas das refeições.
E os meninos são diferentes das meninas! No sexo feminino, a aceleração do crescimento se inicia dois anos antes e também termina primeiro e elas ganham mais gordura corporal, enquanto os meninos se desenvolvem com predomínio de massa muscular. Sendo assim, principalmente durante o estirão, é necessário, no sexo masculino, maior aporte protéico e energético, bem como maior quantidade de ferro por quilograma de peso do que no feminino. No fim do crescimento, há duas vezes mais gordura e apenas dois terços de massa muscular presentes no sexo feminino em relação ao masculino. Ainda nesta época, as meninas começam a ter a terrível TPM (tensão pré-menstrual), que além de mexer com o humor, aumenta a vontade de comer, principalmente chocolate!
Os sinais da puberdade chegam mais depressa na criança gordinha. Muitas vezes, ela é a mais alta da classe, justamente porque teve puberdade antes da hora e o estirão do crescimento acaba antes, ou seja, crianças com peso adequado se desenvolvem no tempo certo e podem alcançar uma altura melhor no final do processo.
A obesidade na adolescência está associada a problemas dermatológicos (micoses, estrias, furunculose), ortopédicos, pouca agilidade e dificuldade nos esportes, comprometimento emocional como baixa autoestima, isolamento social, depressão e distúrbios de conduta. Também tem sido associada ao aparecimento precoce de Hipertensão arterial, aumento de diabetes tipo 2, alteração de colesterol, e, o mais chocante, um maior risco de doença coronariana com aumento da mortalidade. Concluindo, nossas crianças e jovens estão sofrendo de doenças antes consideradas de adultos!