Possui graduação em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1981), doutorado em Ginecologia, Obstet...
iFrequentemente ouço a seguinte pergunta em meu consultório: o anticoncepcional pode causar câncer de colo de útero? Essa é uma dúvida relativamente comum já que algumas mulheres associam o uso do hormônio com risco aumentado de câncer. Mas esse raciocínio faz sentido para determinados órgãos como as mamas e endométrio (cavidade do útero) quando usamos hormônios na pré e pós-menopausa, tratamento que deve ser orientado e acompanhado com um médico.
No caso do colo do útero, a resposta correta é não. Não existe relação causal entre o uso de pílula anticoncepcional com o câncer do colo uterino, que é causado pelos HPVs (Vírus do Papiloma Humano).
Existem mais de 120 tipos de HPV, sendo que por volta de 40 deles infectam mais as regiões anogenitais e outras mucosas. São dividimos em alto (oncogênicos) e baixo risco pela capacidade maior ou menor de causar câncer. Os vírus de baixo risco são os responsáveis pelas famosas verrugas genitais ou cristas de galo. Os HPVs são a doença sexualmente transmissível (DST) mais comum.
Esses vírus penetram na espessura da pele e mucosas, infectando as células da pele, fazendo com que elas produzam novos vírus. Esse mecanismo, em casos de pacientes com predisposição, baixa imunidade e com os vírus de alto risco, pode levar à formação de alterações celulares e evoluir para o câncer.
Outras infecções por vírus, como a Hepatite B e C, também podem levar ao câncer de fígado, por exemplo. Calcula-se que um a cada seis casos de cânceres no mundo é causado por infecções evitáveis e tratáveis. O câncer de colo de útero é um dos maiores exemplos.
Como o vírus infecta a espessura da pele, ele não penetra na corrente sanguínea e consegue burlar o sistema imunológico. As vacinas contra HPVs são revolucionárias e poderão diminuir em muito os casos de câncer de colo uterino, vagina, vulva, ânus, garganta e outros. Calcula-se que vacinas contra apenas 2 tipos de vírus oncogênicos possam diminuir cerca de 70% dos casos de câncer do colo uterino, e as mais novas com 7 tipos cerca de 90% dos casos. As vacinas quadrivalentes e nonavalentes protegem contra mais 2 tipos de vírus de baixo risco e diminuem a incidência em 90% das verrugas anogenitais.
Saiba mais: HPV nas formas mais graves pode favorecer câncer de colo do útero
Portanto, os hormônios das pílulas não influenciam na transmissão, infecção e evolução do câncer do colo do útero. Alguns artigos científicos antigos correlacionam a pílula com câncer de colo uterino quando usadas por tempo prolongado, mas é mais provável que quem toma pílula tenha mais risco de exposição e contaminação pelos HPVs por maior número de parceiros novos sem proteção adequada.Na verdade, as pacientes que usam pílulas até apresentam um risco menor de alguns cânceres ginecológicos como do endométrio (cavidade do útero) e ovário. Quanto ao risco de câncer de mama, ele aumenta pouco durante o uso da pílula e retorna aos níveis normais após a mulher parar de utilizá-la por mais de cinco a 10 anos.