É médica sanitarista e mestre em Saúde Pública - Saúde da Família. Atualmente, é CEO da Abrale (Associação Bra...
iRedatora especialista na cobertura de conteúdos sobre saúde, bem-estar, maternidade, alimentação e fitness.
O diagnóstico precoce do câncer deve ser a principal estratégia para prevenir os óbitos devido à doença para 38% dos profissionais de saúde. É o que indica uma pesquisa inédita realizada pelo movimento Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC) em parceria com o Observatório de Oncologia.
Os resultados do levantamento foram apresentados na abertura do 10º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer, que aconteceu na última terça-feira (26), em São Paulo. O TJCC é um movimento que congrega mais de 300 representantes de diferentes setores voltados ao cuidado com o paciente com câncer.
Na abertura do congresso, mediada pelo jornalista Rodrigo Bocardi, especialistas e autoridades em saúde pública discutiram os desafios para o tratamento do câncer no país e as perspectivas para as próximas décadas. O estudo foi apresentado por Catherine Moura, médica sanitarista, CEO da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) e líder do TJCC.
A pesquisa foi dividida em oito blocos que englobam temas como: políticas públicas, prevenção, assistência, gestão e financiamento, formação e qualificação de profissionais em oncologia, pesquisa e desenvolvimento biotecnológico, participação social e ecossistema da saúde.
Leia mais: Sintomas de câncer de mama: conheça os 9 mais comuns
Para levantar os dados, foram entrevistados gestores em saúde pública, médicos, sanitaristas/epidemiologistas e representantes da sociedade médica e da indústria farmacêutica. Entre os resultados obtidos, 29% dos participantes acreditam que o investimento em prevenção é a maior prioridade para a próxima década no Brasil.
Além disso, 21% dos especialistas acreditam que é necessário haver ampliação da rede assistencial pública, enquanto 15% afirmam que é preciso ter maior conscientização e educação em saúde por meio de campanhas nacionais e regionais.
20% acreditam que é preciso ter melhoria nas gestão do SUS
O levantamento também questionou quais são as medidas que devem ter atuação imediata do governo para melhorar o atendimento ao paciente com câncer e, consequentemente, aumentar as taxas de sobrevida. Para 20% dos entrevistados, é preciso haver melhoria da gestão entre os entes para redução das ineficiências do Sistema Único de Saúde (SUS).
O aumento do financiamento em oncologia, a qualificação da formação e especialização dos profissionais da saúde nessa área também são importantes na visão de 17% dos entrevistados.
Já o investimento em tecnologia e o engajamento da sociedade civil são vistos como fundamentais para 16%. Para outros 14%, é a descentralização dos serviços e a regionalização do cuidado com investimento em infraestrutura.
Diagnóstico precoce é a principal estratégia para prevenção
Com a prevenção como principal prioridade para a próxima década, o levantamento questionou quais estratégias deveriam ser adotadas para isso. Segundo a pesquisa, 38% afirmam que o aumento da capacidade de detecção do câncer, ainda em estágio inicial, deve ser a principal medida.
Na visão de Fernando Maia, coordenador-geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, que esteve presente na abertura do Congresso, uma das principais medidas é aumentar a cobertura vacinal contra o vírus HPV, causador do câncer de colo do útero. “Não tem como, em 2023, nós continuarmos tendo mulheres morrendo por câncer de colo de útero, que é prevenível, rastreável, tratável e, se diagnosticado precocemente, curável”, afirma.
Para 29%, promoção da alimentação saudável, atividade física e manutenção do peso corporal são medidas importantes. Esses itens são fundamentais para afastar os fatores de risco, como sedentarismo, dieta rica em ultraprocessados e obesidade. Outros 23% acreditam que a maior taxação de produtos nocivos à saúde também é uma ferramenta interessante.
Saiba mais: Câncer de mama: 63% acreditam que apenas autoexame é necessário para diagnóstico
“A falta de acesso à informação é crítica e impacta no tempo em que o paciente pode suspeitar de ter câncer, procurar ajuda, entender o que causa o câncer e controlar esses fatores de risco, entre outros problemas”, afirma Catherine Moura, em entrevista ao MinhaVida.
A especialista ressalta que os cânceres possuem múltiplas causas possíveis e é fundamental que o paciente conheça quais fatores podem levar ao desenvolvimento da doença. “Apenas uma pequena fração dos cânceres é causada por fatores genéticos. A grande maioria, em torno de 60% e 70%, são causados por fatores ambientais, de estilo de vida, alimentação e exposição”, afirma.
Na visão de Catherine, o estilo de vida pode ser um dos principais motivos para o aumento da incidência de câncer, principalmente em pessoas jovens.
“Existe um componente para o aumento dos casos de câncer que é o envelhecimento populacional, mas como explicar o aumento da incidência em grupos jovens? Uma das hipóteses é o estilo de vida, com maior estresse e uma maior adoção da alimentação com ultraprocessados. Precisamos vencer essa barreira”, completa.
É preciso maior qualificação e capacitação dos profissionais
Para além das políticas públicas e atualizações de ferramentas e tecnologias, o levantamento também indicou que a maior qualificação e a capacitação dos profissionais de saúde devem ser as principais iniciativas para fortalecer o atendimento primário aos pacientes - e 38% dos entrevistados concordam com isso.
Para Ana Maria Malik, doutora em Medicina Preventiva pela Universidade de São Paulo (USP), não basta apenas atender o paciente e, sim, acompanhar toda sua jornada durante e após o tratamento.
“Essa jornada começa muito antes do diagnóstico. Começa no estilo de vida”, afirma. “O que vai levar sustentabilidade ao financiamento [para aumentar recursos e melhorar a prevenção] é uma visão que contemple o paciente em todos os momentos”, completa.
A especialista sugere alternativas para o acompanhamento do paciente como teleconsultas e um modelo de transição de cuidados que comece desde a atenção primária não especializada até os cuidados paliativos.