Pediatra especializada em medicina do adolescente, conhecida como hebiatria. Formada pela Pontifícia Universidade Católi...
iQuem tem filhos mais velhos em casa provavelmente já percebeu: adolescentes tendem a comer muito. O apetite natural do ser humano está diretamente relacionado com a necessidade energética gasta em determinada atividade ou momento da vida. Os períodos com grande velocidade de crescimento e de transformações do corpo requerem muita energia, sendo os principais os 2 primeiros anos de vida e a adolescência.
A adolescência é uma fase de grandes mudanças físicas, tanto no quesito desenvolvimento puberal, com o corpo infantil tomando formas adultas, quanto no quesito estatura, que nas meninas gira em torno de 9 cm ao ano e nos meninos 11 cm ao ano nos dois anos de crescimento acelerado, conhecidos como estirão. Para dar conta de tanto gasto energético, o organismo instintivamente aumenta a sensação de fome, acarretando uma grande mudança no apetite dos jovens, tanto em quantidade quanto em qualidade e frequência, sendo estas mudanças ainda mais marcantes no sexo masculino.
Se por um lado a quantidade aumenta, não podemos dizer o mesmo da qualidade. Aumentar a quantidade de comida seguindo a necessidade do corpo é excelente, mas é preciso ficar atento, pois nem sempre a qualidade das opções dos jovens é a melhor. Adolescentes tendem a fazer escolhas alimentares calóricas, dando preferência aos carboidratos e às gorduras, que lhes dá satisfação rápida.
O aumento da independência que ocorre neste momento de vida, associada aos longos períodos fora de casa - seja na escola, no trabalho ou com amigos - faz com que diversas refeições sejam feitas sem a supervisão dos pais. Estudos demonstram que os erros alimentares mais comuns na adolescência são o excesso de energia proveniente de gorduras e açucares e a baixa ingestão de nutrientes como o ferro, importante elemento para a manutenção da capacidade física e das funções cognitivas, e o cálcio, fundamental para a formação óssea e prevenção de osteoporose, além das vitaminas.
O hábito de pular refeições também se instala no período, principalmente o café da manhã, por conta do sono matinal intenso que surge neste período ou com o intuito de emagrecimento. Este hábito não é saudável e está provado que pessoas que pulam refeições tendem a ser mais obesas do que aquelas que comem regularmente, pois a fome faz com que "belisquem" mais, geralmente alimentos de baixa qualidade nutricional. O hábito de comer sem horários definidos, às vezes passar tardes inteiras diante do computador comendo alimentos gordurosos e tomando bebidas açucaradas, outras vezes passar longos períodos sem comer nada, também é um erro frequente nesta faixa etária. A orientação correta é realizar 5 a 6 refeições diárias (a cada 3 horas), com 3 refeições principais e lanches entre elas. Surge a vontade do controle do peso e da forma física, com o início de dietas muitas vezes sem orientação, baseadas em princípios errados e maléficos ao organismo em crescimento.
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Fazer pelo menos uma refeição ao dia com os pais é um recurso importante na prevenção dos possíveis riscos aos quais os adolescentes possam estar expostos, sejam eles alimentares ou comportamentais. E não é só de supervisão que estou falando, é de diálogo. São nestes momentos em família que experiências são trocadas, orientações são dadas e princípios básicos de educação, saúde e segurança são ensinados.