Mestre e Doutor em Oncologia e Médico Titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Membro da Sociedade Brasileir...
iQuando vamos falar sobre câncer de mama e gravidez estamos sempre no cenário de uma mulher jovem, que está em idade reprodutiva, cheia de anseios e expectativas em sua vida profissional, pessoal, matrimonial, sexual e reprodutiva. Se há o sonho de ser mãe, esta mulher precisa conversar com o médico para que se discuta o que pode ser feito e as possibilidades de tratamento de acordo com o seu caso.
Quando uma paciente que teve câncer de mama poderia ficar gravida?
A resposta desta questão é um pouco complexa e de fundamental importância. As mulheres que pensam em engravidar após o tratamento do câncer de mama deverão consultar o seu médico a fim de receber orientações acerca do tratamento atual que ela esteja realizando. Por exemplo, é proibido que a mulher fique grávida durante a quimioterapia e também durante a hormonioterapia (que no geral é realizada com uma medicação chamada tamoxifeno nesta faixa etária) pois estes tratamentos estão associados à má formação do bebê. Mulheres nestas condições são orientadas pelos médicos a usarem métodos contraceptivos como preservativo ou DIU (dispositivo intrauterino). O uso de anticoncepcional oral (hormonal) é contraindicado para estas pacientes.
Outra questão oncologicamente de relevância é o entendimento global da doença, que há uma chance de estadiamento e que este depende do grau de extensão do câncer de mama. A gravidez por si só não altera a chance de cura da paciente, sendo algo que deve ser contemplado na avaliação médica. Os cuidados se relacionam às medicações que estão sendo usadas naquele momento. Apenas a equipe médica que assiste esta mulher poderá orientá-la sobre o melhor momento para ficar grávida de acordo ao tratamento em curso e as perspectivas futuras.
Existem casos que a mulher poderá ser liberada após dois anos do início do tratamento e outros casos que seria conveniente a gravidez só após cinco anos, principalmente quando a mulher está fazendo uso do tamoxifeno. No entanto, existem casos que a paciente deverá usar o tamoxifeno por dez anos e, nestes casos, a decisão é ainda mais importante e mais difícil pois, em geral, após esse período de tratamento as pacientes eventualmente já estarão em idade mais avançada, o que dificulta ainda mais as chances de gravidez.
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Outra questão importante é que com o tratamento de quimioterapia e hormonioterapia a qualidade dos óvulos fica prejudicada, o que por si só já é um fator de maior dificuldade para gravidez no futuro. Estas pacientes devem ser orientadas da possibilidade de congelamento de óvulos antes do início do tratamento para, em caso de necessidade, poderem usar estes óvulos congelados para fertilização se a gravidez natural não ocorrer.
Quem pode amamentar?
A resposta para a questão "quem tem ou teve câncer de mama pode amamentar?" é depende. Vamos entender melhor o que ocorre:
Do ponto de vista fisiológico, as mulheres que tiveram câncer de mama podem amamentar normalmente apenas na mama que não foi o alvo direto do tratamento. Ou seja, mulheres que realizaram mastectomia para o tratamento do câncer, retiram toda a mama e os ductos mamários, não podem amamentar uma vez que o tratamento torna a esta ação impossível. A mama, ainda que reconstruída com prótese de silicone ou tecidos do próprio corpo (retalhos miocutâneos), não terá a capacidade funcional de produzir leite, pois esta reconstrução visa apenas a restauração do aspecto anatômico e estético.
Já para aquelas pacientes que realizaram a cirurgia parcial (conservadora), também chamada de quadrantectcomia, dependerá de como foi o tratamento e a resposta do organismo. Isso porque este tipo de tratamento envolve a complementação com a radioterapia e a irradiação da mama afeta as células responsáveis pela produção de leite. Esta mama também terá seu desenvolvimento, ou seja, o aumento de volume, prejudicado durante a gravidez uma vez que as células irradiadas também apresentam menor resposta proliferativa ao estímulo hormonal. Caso o efeito do tratamento não tenha sido muito agressivo, esta mama ainda que com alguma limitação na produção do leite, poderá fabrica-lo e amamentação poderá ocorrer.
Para as pacientes que tiveram um câncer em apenas uma das mamas, que é a situação mais comum, a outra mama (saudável) continuará produzindo leite normalmente e também terá o seu desenvolvimento habitual durante a gravidez, pois o tratamento realizado não afeta esta mama.
Vale a pena destacar que, durante a gravidez a mama saudável cresce e se desenvolve normalmente enquanto a mama que foi tratada do câncer fica do mesmo tamanha ou tem o seu aumento limitado. Desta forma, já é esperado um certo grau de assimetria da mamas durante a gravidez, o que é normal, e não deve trazer preocupação por si só.