O refluxo gastroesofágico é um fenômeno extremamente comum nos bebês recém-nascidos e lactentes jovens e manifesta-se principalmente pelas regurgitações, popularmente conhecidas como golfadas. Na grande maioria dos casos, é uma condição benigna que melhora com o tempo e não necessita tratamento medicamentoso, sendo por isso chamada de refluxo fisiológico.Cerca de 80% dos bebês dessa faixa etária golfam pelo menos uma vez por dia devido a vários fatores, como:
- Imaturidade dos mecanismos antirrefluxo do sistema digestivo: o anel muscular que separa o estômago do esôfago ainda é imaturo e permanece mais tempo aberto do que nos adultos
- Alimentação predominantemente líquida: que torna mais fácil o retorno do conteúdo do estômago à boca
- Posição deitada na maior parte do tempo
As regurgitações podem surgir no primeiro mês de vida, com pico entre dois e quatro meses e melhora a partir de seis meses, podendo durar até 18 meses.
Já a doença do refluxo gastroesofágico, ou refluxo patológico, ocorre quando as regurgitações são acompanhadas de complicações como:
- Ganho de peso inadequado
- Irritabilidade excessiva
- Complicações respiratórias como tosse, rouquidão e asma
- Esofagite, que é a inflamação do esôfago causada pelo refluxo da secreção ácida do estômago
Nas crianças maiores os sintomas são mais semelhantes aos do refluxo no adulto, com dor e sensação de queimação principalmente após as refeições, sendo as regurgitações menos frequentes.
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Diagnóstico e exames
O diagnóstico é clinico na maioria dos casos, ou seja, baseado na história relatada pelos pais e no exame físico da criança, sem necessidade de exames complementares. Os exames complementares, quando indicados, buscam não só documentar a existência do refluxo, mas principalmente estabelecer uma relação entre o refluxo e as complicações apresentadas pelo paciente. Entre os mais utilizados estão a pHmetria de 24 horas, que evidencia os episódios de refluxo ácido e pode relacioná-lo a outros sintomas que ocorram no período, e a endoscopia digestiva alta, que permite visualização direta da inflamação no esôfago.
Tratamento caseiro
Tanto nos casos de refluxo fisiológico quanto nos de doença do refluxo gastroesofágico, as medidas posturais são parte importante do tratamento. Elas consistem em um conjunto de medidas e hábitos que visam contornar a predisposição dos bebês ao refluxo. Dentre elas, podemos citar:
- fragmentar as refeições: dar menos quantidade de alimento, porém mais vezes. É o que já acontece no aleitamento materno em livre demanda, onde o bebê controla a frequência e quantidade de sua alimentação
- permitir que o bebê arrote ao fim das mamadas
- evitar hábitos que proporcionem o aumento da pressão sobre o abdome, como apertar muito as fraldas, roupas com elástico muito apertado e permanecer muito tempo no bebê conforto
- deixar em posição ereta o maior tempo possível, de preferência no colo
- colocar o bebê para dormir na posição deitado de costas com leve inclinação (30 graus) do berço para elevar a cabeça
As fórmulas infantis espessadas, também conhecidas como fórmulas antirregurgitação, podem reduzir o número de regurgitações, porém, não devem ser utilizadas nos casos acompanhados de complicações, principalmente respiratórias.
Medicamentos
O tratamento medicamentoso da doença do refluxo gastroesofágico é feito com drogas inibidoras da secreção ácida do estômago. O pediatra e o gastroenterologista pediátrico são os profissionais habilitados em diferenciar o refluxo fisiológico da doença do refluxo gastroesofágico e indicar o melhor tratamento quando necessário.
Referências
Escrito em parceria com Leonardo Peixoto, gastroenterologista e especialista Minha Vida.