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Dengue, zika e chikungunya são vírus transmitidos pela picada do mosquito Aedes aegypti, infectado. As três podem trazer graves consequências quando entram em contato com os seres humanos, sendo que muitos destes efeitos foram descobertos recentemente, como a relação entre a infecção pelo zika em gestantes e o nascimento de bebês com microcefalia - que é uma condição neurológica que faz com que a criança tenha a cabeça significativamente menor do que a média para a sua idade e sexo.
Apenas no ano de 2015 foram registrados 2.975 casos suspeitos de microcefalia, de acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde naquele ano, sendo que uma das principais suspeitas é que o surto esteja relacionado à infecção pelo Zika vírus durante a gravidez. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, entre os anos de 2010 e 2014 foram registrados um total de 781 casos em todo país. Em 2016 este número continua a subir, com o risco de se espalhar, inclusive, para outros países. Em relação à contaminação pela dengue, os números também são alarmantes. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil apresentou índice recorde de 1.6 milhão de pessoas infectadas pela doença em 2015. O número é o maior já registrado desde os anos 90.
As altas estatísticas de contaminação pelo Aedes aegypti se dão, entre muitos fatores, por ele ser um mosquito doméstico, que se aloja dentro ou próximo a domicílios, principalmente em áreas urbanas e locais com alta densidade populacional. Os surtos de contaminação costumam acontecer no verão, devido à elevação de temperatura e intensidade de chuvas - que possibilita e proliferação do mosquito. Diante da periculosidade que o mosquito apresenta, diversas cidades brasileiras decretaram estado de alerta contra o Aedes aegypti.
Ciclo de transmissão do Aedes aegypti
A transmissão dos vírus é feita pela fêmea. O ciclo começa no momento em que ela deposita seus ovos em recipientes com água, ao saírem dos ovos, as larvas vivem na água por cerca de uma semana. Após este período, transformam-se em mosquitos adultos, prontos para picar as pessoas. O Aedes aegypti procria em velocidade prodigiosa e o mosquito da dengue adulto vive em média 45 dias.
O Aedes aegypti torna-se um vetor de contaminação depois de picar alguém que já foi infectado com o vírus da dengue (DEN-1, DEN-2, DEN-3 ou DEN-4), zika (ZIKV) ou chikungunya (CHIKV). É importante ressaltar que o mosquito pode transportar os respectivos vírus por toda a sua vida. Por isso é de grande importância que a pessoa que está no período de tratamento de dengue, zika e chikungunya se proteja para não ter contato com o mosquito novamente.
Depois que a pessoa é picada pelo mosquito que transporta os vírus, ela demora entre três a 15 dias para manifestar os sintomas, sendo mais comum entre o quinto e sexto dia. No caso da chikungunya de dois a 12 dias (mais comum de cinco a seis dias) após a picada, e no Zika de três a 12 dias.
Sintomas
Em comum, além de serem transmitidas pela picada do mesmo mosquito, as doenças aparecem em fases agudas, podem dar mal-estar, dores pelo corpo e de cabeça, e febre. "Entre as diferenças, a dor de cabeça costuma ser mais intensa na dengue, enquanto a dor nas articulações é mais intensa na chikungunya e o Zika raramente apresenta febre ou outros sintomas mais característicos", diz Esper Kallas, coordenador do núcleo de infectologia do Hospital Sírio-Libanês. "A infecção pelo Zika costuma apresentar também um quadro de conjuntivite em cerca de metade das pessoas, a vermelhidão no corpo costuma coçar e ela pode causar um aumento dos gânglios, sinais que não estão presentes nas outras duas", completa.
Apesar de todas as doenças causarem cansaço e dor no corpo, no caso da chikungunya, a dor nas articulações é incapacitante e também pode causar inchaço. Sendo assim, a pessoa não consegue fazer as suas atividades diárias. Veja o comparativo entre os sintomas de dengue, zika e chikungunya na tabela abaixo:
Dengue | Zika Vírus | Chikungunya |
Febre alta | Febre Baixa | Dor incapacitante nas articulações |
Dor de cabeça | Dor nas articulações | Febre |
Dor atrás dos olhos | Dor muscular | Dor nas costas |
Perda de apetite | Dor de cabeça | Erupções cutâneas |
Manchas e erupções na pele (principalmente na região do tórax e membros superiores) | Dor atrás dos olhos | Fadiga |
Náuseas e vômitos | Conjuntivite | Náuseas |
Tontura | Erupções cutâneas avermelhadas que podem coçar | Vômitos |
Moleza e extremo cansaço | Dor abdominal (pouco comum) | Dor de cabeça |
Dor no corpo | Diarreia (pouco comum) | Dores musculares (mialgias) |
Dor nos ossos e nas articulações | Constipação (pouco comum) | |
Dor no abdômen | Pequenas úlceras na mucosa oral (pouco comum) |
Diagnóstico e tratamento
Para estabelecer se o paciente está com está com Zika, dengue ou chikungunya, além de analisar os sintomas, o médico pode solicitar exames para confirmar o diagnóstico. "Por exames laboratoriais gerais é muito difícil estabelecer a diferença entre as três. A dengue pode levar a uma queda no número de plaquetas, que é detectada num hemograma, mas o diagnóstico é feito por sorologia, em que se busca o anticorpo para a doença no organismo da pessoa. No caso da chikungunya, também é possível fazer o teste por sorologia em busca do anticorpo, mas o Zika não tem um teste por sorologia disponível. Os laboratórios privados estão buscando os testes de material genético (PCR) para o Zika e chikungunya", diz Kallas. Contudo, estes testes só podem ser aplicados até o quinto dia após a manifestação dos sintomas para o Zika vírus e até o décimo dia para chikungunya, uma vez que depois disso o vírus não está mais no organismo então não é detectado pelo teste de material genético (PCR).
O Ministério da Saúde divulgou na segunda quinzena de janeiro que está adquirindo 500 mil testes de PCR para fazer também o diagnóstico do Zika vírus nos laboratórios públicos, e que as primeiras 250 mil unidades serão entregues ainda em fevereiro e a segunda metade estará disponível no segundo semestre.
Além deste, o Ministério também divulgou que serão adquiridos outros 500 mil testes, chamados de Kit NAT, produzidos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para diagnóstico de dengue, Zika e chikungunya. Um tipo semelhante deste mesmo teste já era utilizado desde janeiro de 2014 para a detecção do HIV e hepatite C nos bancos de sangue brasileiros. Segundo a nota oficial do Ministério, "o Kit NAT discriminatório para dengue, Zika e chikungunya, permite realizar a identificação simultânea do material genético para os três vírus, evitando a necessidade de três testes separados", o que garantirá maior agilidade no diagnóstico.
Zika, dengue e chikungunya não têm uma medicação específica que combata o vírus, então o tratamento de todas é com base nos sintomas que a pessoa apresenta. "Nosso objetivo no tratamento é fazer o suporte clínico para controlar os sintomas e monitorar o surgimento de possíveis complicações, mantendo o paciente no melhor estado possível enquanto o ciclo do vírus se encerra naturalmente", explica Carolina Lázari, infectologista do Fleury Medicina e Saúde.
No caso da dengue, o médico responsável pedirá o monitoramento do hemograma do paciente, uma vez que esta doença pode causar complicações graves e até o óbito. "As pessoas que apresentam alguma alteração no hemograma são mantidas no mínimo em observação com hidratação endovenosa, que também é muito importante. Os casos mais simples podem ser tratados em casa enquanto os mais graves permanecem internados em observação. Este tipo de suporte não é necessário para os outros dois vírus, pelo que estamos aprendendo agora, pois as manifestações clínicas deles são mais brandas e é raro que haja óbito nestes casos, ao contrário da dengue", esclarece a infectologista.
Complicações
Apesar do Zika vírus ser o mais brando do ponto de vista do quadro clínico, o que os sintomas duram por menos tempo, ele é o que demanda maior atenção no caso das gestantes, uma vez que já foi confirmada a sua relação com problemas de desenvolvimento fetal - microcefalia. "Infelizmente, ainda não há nenhuma conduta específica para tratar esta mãe e proteger o feto. Diferente da sífilis e toxoplasmose, por exemplo, que temos medicamentos que, tratando a mãe de forma precoce durante o pré-natal, evitamos que o problema atravesse a barreira placentária trazendo sequelas ou complicações para quando o bebê nascer", diz Carolina.
O chikungunya, que tem os sintomas mais marcantes entre as três infecções, pode levar o maior tempo para que eles cheguem ao fim. "Talvez seja necessário o uso de uma maior quantidade de medicamentos analgésicos, anti-inflamatórios e até corticoides para conter a atividade inflamatória e a dor e, além disso, já há relatos que a mesma infecção, depois de resolvidos os sintomas, pode voltar a se reativar, causando os mesmos sintomas novamente, o que não acontece para a dengue e o Zika", diz a médica. Veja as possíveis complicações do Zika vírus, dengue e chikungunya no quadro a seguir:
Dengue | Zika vírus | Chikungunya | |
Complicações | As principais complicações da dengue são choque circulatório, hemorragias, complicações viscerais como hepatite e encefalite, entre outras. O choque pode ocasionar diversas complicações neurológicas, cardiorrespiratórias, insuficiência hepática, hemorragia digestiva e derrame pleural, além de poder levar a óbito. | As complicações do Zika num adulto são de ordem neurológica, como a Síndrome de Guillain-Barré. Também no caso das gestantes, há o risco de problema de desenvolvimento fetal, acarretando no nascimento do bebê com microcefalia e outras más formações. | No caso do chikungunya, as principais complicações são a demora para resolução dos sintomas, principalmente as dores articulares, o que pode fazer com que a pessoa demore várias semanas para retomar suas atividades diárias, além da possibilidade de reativação da doença depois de um período de melhora. |
Os vírus têm a capacidade de, até certo ponto, se modificar e também de atingir de formas diferentes as diversas populações que acabam os contraindo ao longo do tempo. Justamente por esta razão não é possível dizer ainda se os vírus da dengue, Zika e chikungunya podem estar relacionados a outras complicações além destas. Diversas pesquisas estão sendo realizadas no Brasil e no mundo sobre este assunto, mas ele ainda é muito novo e demanda mais tempo para a confirmação e registro na literatura médica e científica dos seus efeitos.