Doutor em cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina, tem título de especialista e...
iApesar da obesidade ser um dos fatores principais do risco cardiovascular e facilmente lembrada pelo conhecimento popular, a anorexia também é um fator de risco para o problema.
Antes de explicar a razão disto acontecer, é importante entender que anorexia é um distúrbio alimentar que provoca uma perda de peso acima do que é considerado saudável para a idade e altura. Pessoas com anorexia podem ter um medo intenso de ganhar peso, mesmo quando estão abaixo do recomendado, e acabam abusando de diversos métodos para emagrecer.
A anorexia nervosa acomete mais mulheres que homens, e geralmente poupa os extremos de idade (crianças e idosos). Apesar dessa predisposição, quando instalada, o risco é equivalente a ambos os sexos. Um dado relevante é que nessa idade o risco de homens e mulheres terem um infarto é muito diferente, uma vez que as mulheres deveriam ter uma proteção natural gerada pela combinação hormonal. A anorexia faz essa proteção desaparecer. O emagrecimento em si não é o mais preocupante, e sim a velocidade da perda de peso e a desnutrição associada aos hormônios de estresse gerados pelo jejum prolongado.
Agora o risco cardiovascular em pessoas com anorexia acontece porque a desnutrição crônica e falta de hidratação podem acarretar em diversas formas de alterações cardíacas. O coração se torna atrofiado, provavelmente por causa da hipovolemia (desidratação) crônica a qual esse paciente é submetido ao longo da vida. Um exemplo é que a perda de eletrólitos favorece aparecimento de arritmias malignas.
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A bradicardia (frequência cardíaca inferior a 60 batimentos por minutos) também é frequente, bem como tonturas por hipotensão postural - que acontece quando a pessoa se levanta. A válvula mitral pode sofrer deformação (prolapso), que pode levar a insuficiência mitral no futuro.
A dieta errática também aumenta o colesterol e o cortisol (hormônio presente em situações de estresse), e reduz os hormônios tireoidianos (T4 e T3, responsáveis por acelerar o metabolismo).
A intensidade do risco está ligada à duração e intensidade do problema, assim como à velocidade da redução de peso. Quando esses fatores são combinados, existem critérios de alarme e outros que obrigam o tratamento imediato.
Infelizmente, o tratamento também pode causar danos. Um deles é conhecido como síndrome de realimentação, onde a ingestão de calorias em excesso, eletrólitos e outros itens que são estranhos à pessoa podem levar a arritmias e insuficiência cardíaca. Para evitar o problema, a realimentação deve ser gradual e controlada com exames de sangue, eletrocardiograma e muita atenção aos sintomas do paciente.
Os níveis hormonais e de desidratação parecem retornar ao normal depois que o tratamento é eficaz. Mas não conseguimos saber a longo prazo se existe algum dano definitivo.