Pediatra especializada em medicina do adolescente, conhecida como hebiatria. Formada pela Pontifícia Universidade Católi...
iA dor de cabeça (ou cefaleia) é uma das queixas mais comuns da medicina. Presente desde a infância até a velhice, apresenta grande incidência na adolescência. É um sintoma tão frequente, que cerca de 90% dos indivíduos de 18 anos referem já ter sentido pelo menos uma vez na vida e mais de 30% citam alguma interferência no dia a dia, como faltas à escola, atividades esportivas ou sociais. Felizmente, na grande maioria dos casos é benigna.
A incidência entre homens e mulheres é igual até os 12 anos, mas a partir dessa idade torna-se bem mais frequente entre as mulheres. É mais comum em famílias com o histórico de cefaleia.
O leque que se abre diante do sintoma de dor de cabeça é enorme, abrangendo doenças agudas, crônicas, de origem orgânica ou psicossomática. A cefaleia é um dos principais sintomas físicos das doenças psíquicas. Pode ser o pedido de ajuda de jovens com problemas sociais como o bullying ou daqueles com depressão. Também está relacionada com distúrbios do sono, ansiedade, problemas de comportamento, da aprendizagem e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Além disso, é nessa faixa etária que ocorrem os primeiros contatos com drogas e álcool, também causadores do sintoma. Quando se trata de adolescentes, não podemos esquecer da possibilidade de variações hormonais, principalmente na menina no início dos seus ciclos menstruais.
Tipos de dor de cabeça:
As dores de cabeça podem ser classificadas em primárias e secundárias, como vemos a seguir:
Cefaleias primárias: as mais comuns na adolescência, são aquelas que não têm nenhuma doença associada, incluindo-se nesse grupo a enxaqueca e a dor de cabeça tensional. Os problemas psíquicos também se encaixam nessa classificação, uma vez que podem ser desencadeantes desses tipos de dor de cabeça.
A enxaqueca costuma aparecer em pessoas com antecedentes familiares, mas a ausência de parentes com o problema não exclui o diagnóstico. Em geral de intensidade moderada à intensa, pode ter duração de 2 a 72 horas. A dor costuma se pulsátil, focal (geralmente unilateral, mas não obrigatoriamente), de localização precisa e que tende a se manter em todas as crises. É frequente ter alguns sintomas associados, tais como náuseas, vômitos, fotofobia e sensibilidade ao barulho, além de piorar com a atividade física de rotina. É por isso que grande parte dos adolescentes opta por ficar deitado em um quarto escuro e silencioso.
Denomina-se enxaqueca com aura a enxaqueca que é precedida por alterações visuais (mais comuns), motoras, sensitivas ou de fala. A pessoa acometida sente alterações em alguma dessas áreas poucos minutos até no máximo uma hora antes de ter o sintoma de dor.
Já a cefaleia tensional provoca dores de cabeça devido à contração muscular, comum em situações de stress. Costuma ser de localização bilateral, com sensação de pressão ou aperto, com intensidade leve a moderada, não piorando com a atividade física rotineira. Pode se confundir com a enxaqueca em seus sintomas, mas não apresenta associação com náuseas ou vômitos. Tem duração de 30 minutos a 7 dias.
Cefaleias secundárias: são consequentes a outras doenças, sendo as mais comuns sinusites ou quadros virais (gripe, por exemplo). Qualquer doença febril pode provocar dores de cabeça, como consequência da própria febre. Controlada a temperatura, o sintoma desaparece. Adolescentes com cefaleia primária podem ter seu quadro exacerbado na presença de outras doenças, não sendo impossível que apresente em alguns momentos da vida também a cefaleia secundária.
Felizmente são bem mais raras as dores de cabeças provocadas por doenças mais graves, como meningites ou tumores cerebrais. A rapidez do diagnostico está diretamente relacionada com a cura, por isso não podem ser negligenciadas. Dores de cabeça intensas ou persistentes em pessoas que não costumam tê-las exigem avaliação médica para um diagnóstico preciso, assim como a mudança de características naqueles que já são portadores de cefaleia primária. Dor de cabeça intensa, na vigência de febre, que estejam associadas à vômitos que não cessam com medicamentos, devem ser avaliadas por um médico, assim como as dores acompanhadas de alterações neurológicas ou comportamentais, convulsões e alterações visuais.
O que fazer?
Diante da queixa de dor de cabeça um médico deve ser procurado. A maioria dos diagnósticos são feitos baseados na história clínica e no exame físico, mas algumas vezes são necessários exames laboratoriais para que se chegue a uma conclusão e, consequentemente, ao tratamento adequado.
Dores de cabeça intensas ou persistentes em pessoas que não costumam tê-las exigem avaliação médica para um diagnóstico preciso, assim como a mudança de características naqueles que já são portadores de cefaleia primária.
Descartadas as possibilidades de doença grave, o médico pedirá, para ajudar no diagnóstico, que o paciente faça um diário da dor, no qual se registram: localização, intensidade, características da dor, sintomas associados, horário e tempo de duração, relação com atividades do dia, tais como a presença de situações de stress (provas ou competições), alimentação (tempo de jejum e tipos de alimentos ingeridos) e se foi necessário o uso de algum medicamento.
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Tratamento
Os tratamentos de dor de cabeça visam diminuir sua frequência e intensidade, de forma que diminua sua interferência nas atividades diárias habituais.
No caso das cefaleias primarias, uma vez identificados os fatores desencadeantes, esses devem ser evitados, na tentativa de diminuir o número de crises. O tempo prolongado de jejum, poucas horas de sono, ansiedade, stress, depressão e febre são as causas mais comuns.
No caso da necessidade de medicamento, cada médico orientará seu paciente de forma individualizada. Em geral são utilizados analgésicos e anti-inflamatórios não hormonais. Nos indivíduos com mais de 6 episódios ao mês ou grande interferência da cefaleia nas suas atividades diárias, pode ser prescrito um tratamento profilático, de uso contínuo, para controle das crises.
Quando se percebe que a dor de cabeça tem causa psíquica, emocional ou social, a psicoterapia é de grande valia. Quando a dor de cabeça é de origem secundária, a doença de base deve ser tratada.